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9 DE MARÇO DE 1988

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«Até agora, a ideia que nos fica é que o Hospital do Restelo está a ser uma agência de colocações para correlegionários políticos e amigos, havendo mesmo casos de pessoas a quem foram atribuídos cargos para os quais não possuem o grau da carreira médica necessário», garantiram-nos.

Mas nem só a classe médica se mostra insatisfeita com a actuação do Ministério da Saúde. A comprová--lo está a onda de greves convocada para a próxima semana, de 5 a 8 de Maio, pela Federação dos Sindicatos da Função Pública, e que irá abranger cerca de 26 000 trabalhadores do sector, desde os técnicos paramédicos e sanitários ao pessoal auxiliar das administrações regionais de saúde.

Em causa estão diferentes aspectos da regulamentação das carreiras profissionais, «algumas já negociadas há vários anos e nunca cumpridas».

A paralisação irá afectar, segundo os dirigentes sindicais, numerosos serviços hospitalares e centros de saúde, «podendo pôr em causa a higiene e a alimentação dos doentes internados.

Solicitado a pronunciar-se sobre este surto de greves, um elemento do Gabinete da Ministra Leonor Beleza afirmou que o Ministério «não tem qualquer comentário oficial a fazer».

(Memorandum, de 1 de Maio de 1987.)

Dois hospitais arrancam em 1987.

(Documento n.° 10)

As duas novas unidades hospitalares previstas para a zona da Grande Lisboa — os chamados Hospitais Oriental e Ocidental — terão os concursos públicos para a sua construção abertos e adjudicados ainda este ano — disse ontem Leonor Beleza em entrevista concedida ao Cartas na Mesa da Rádio Renascença, um programa de informação que conta com o apoio e a participação do Correio da Manhã.

A Ministra da Saúde revelou ainda que as duas novas unidades hospitalares ficarão instaladas na fronteira dos concelhos da Amadora e Sintra e em Cheias, respectivamente em terrenos já escolhidos e devidamente assinalados.

O hospital a construir na zona Amadora-Sintra terá mais de 600 camas e irá servir as cerca de 300 000 pessoas que habitam naquela região dormitório e que actualmente não dispõe de qualquer recurso hospitalar próprio.

A unidade que ficará situada em Cheias terá uma maior capacidade, com cerca de 850 camas, e a sua vocação será abranger todo o concelho de Loures e zona lisboeta que com ele faz fronteira.

Este hospital será também dotado com equipamento altamente sofisticado, com o objectivo de se tornar no pólo principal de tratamento e investigação clínica de doenças mais complicadas, aliviando desse modo a pressão existente sobre os Hospitais Civis de Lisboa.

Durante a entrevista ao Cartas na Mesa Leonor Beleza respondeu ainda a diversas questões polémicas como sejam a inauguração e provimento do pessoal médico do novo Hospital do Restelo, o problema do desemprego dos licenciados em Medicina e o papel do Ministério da Saúde no combate à droga e à sida.

Quanto ao Hospital do Restelo, a Ministra da Saúde negou as acusações de eleitoralismo e intempestividade

na inauguração daquela unidade, firmando que «os doentes que já lá estão a receber tratamento com certeza que não pensam isso».

Leonor Beleza, ainda sobre este assunto, desmentiu qualquer partidarismo na escolha das pessoas que vão dirigir o sector clínico e administrativo do novo hospital, sublinhando que os indivíduos escolhidos preenchem todos os requisitos técnicos, académicos e de carreira para exercerem tais funções e não seria por serem do PSD que os iria prejudicar.

Os jovens licenciados em Medicina e a falta de colocações mereceram de Leonor Beleza palavras que a própria classificou de «realistas», quando afirmou que «a verdade é que o Estado não pode empregar todos os formados em Medicina, nem alguma vez se comprometeu a fazê-lo».

Citando números e estatísticas, a Ministra disse que em Portugal existem mais médicos por habitante do que na grande maioria dos restantes países da CEE.

O facto de a tal quantidade de médicos não corresponder uma apreciável qualidade dos serviços prestados à população foi justificado pela Ministra como um «estado de coisas» que está em mudança e que se caracterizava, até há pouco tempo, por uma ideia generalizada de permissividade dentro dos serviços de saúde.

A este propósito, referiu ainda a Ministra o facto de ter mandado fazer várias inspecções regulares, onde foram detectadas situações graves de absentismo e falta de cumprimento das obrigações profissionais, situação que entretanto parece ter já melhorado.

Uma questão que ainda a preocupa são as acumulações ilegais de funções públicas, problema que está a ser devidamente analisado e deu já azo à instauração de grande número de processos.

A droga e a sida foram encaradas por Leonor Beleza com preocupação, salientando a dificuldade sentida no contacto com tais assuntos, pelo seu carácter pessoal e individual. No entanto, confirmou que estão a ser já ultimados os folhetos que irão ser distribuídos a todos os portugueses, alertando para os perigos e maneiras de evitar o contágio da sida.

Instada a dizer se gostaria de ser novamente Ministra da Saúde no caso de o PSD ganhar as eleições e formar Executivo, Leonor Beleza recusou responder por achar inoportuno qualquer pronunciamento.

(Memorandum, de 18 de Maio de 1987.)

Hospital do Restelo é «um escândalo» — afirma Sindicato dos Médicos.

(Documento n.° 11)

A direcção do Sindicato dos Médicos da Zona Sul considerou ontem o «Hospital do Restelo um escândalo», referindo-se às muitas e variadas ilegalidades cometidas pelo Governo para, apressadamente, criar e pôr a funcionar esta nova unidade hospitalar.

Para o Sindicato, a sua apressada inauguração, em Abril, obedeceu a «critérios eleitoralistas».

Em conferência de imprensa, Silva Santos, presidente do Sindicato, salientou que os serviços «a criar neste Hospital irão aparecer por transferência na sua quase totalidade doutros hospitais de Lisboa, criando dificuldades acrescidas a esses hospitais já bastante carenciados por falta de redimensionamento dos seus quadros desde há 30 anos». «Do Hospital de Egas Moniz desa-