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II SÉRIE — NÚMERO 54

Mas o diploma sobre os inspectores hospitalares é só o aspecto mais recente de uma questão antiga. Depois da eleição de Machado Macedo para bastonário da Ordem o clima entre os médicos e a Ministra pareceu desanuviar-se. O primeiro incidente deu-se em Junho último, altura em que Machado Macedo criticou Leonor Beleza numa conferência de imprensa. A Ministra sentiu-se pessoalmente ofendida, já que, nesse mesmo dia, o bastonário da Ordem tinha estado no seu gabinete e não fizera a mais leve referência ao que, horas mais tarde, diria aos jornalistas. Machado Macedo explicou-se. Foi ao gabinete de Leonor Beleza acompanhado de um estrangeiro tratar da ida de médicos portugueses para um Estado árabe e não achou oportuno referir-se ao assunto em frente de estranhos. A Ministra não se mostrou muito convencida e este incidente, de ordem pessoal, marcou o início dos desentendimentos, que não se desanuviaram com uma prosa da Machado Macedo no boletim da Ordem e com um cartão pessoal que enviou à Ministra e esta considerou claramente insatisfatório.

Entre a Ordem e o Ministério há, porém, opiniões políticas divergentes quanto a algumas questões nacionais. A Ordem tem-se mostrado favorável a uma predominância da medicina privada, enquanto Leonor Beleza tem dúvidas sobre certos aspectos de tal predominância num país tão carenciado de cuidados médicos e defende uma maior intervenção do Estado. Outro pomo de discórdia diz respeito à gestão hospitalar. Leonor Beleza entende que os médicos são maus gestores e a gestão dos hospitais deve ser uma carreira autónoma. A Ordem não está de acordo e entende que os médicos têm uma palavra decisiva a dizer na gestão dos hospitais em que prestam serviço. Beleza justifica o diploma da inspecção hospitalar com o abuso dos médicos. A Ordem acusa a Ministra de estar a montar um sistema policial, de afectar a relação de confiança doente/médico e de dar demasiada relevância a casos isolados em que o comportamente não é correcto. Segundo a Ordem, a Ministra traz a público casos pontuais como se acontecessem todos os dias e fossem praticados pela generalidade dos clínicos.

Depois, há problemas mais localizados, mas, nem por isso, menos polémicos. São Francisco Xavier, um novo hospital na zona de Lisboa, e que foi a «coqueluche» de Leonor Beleza no Governo anterior, continua a ser polémico. Para director do serviço de cirurgia desse Hospital foi nomeado Jorge Girão, tido por muita gente como o melhor cirurgião de Lisboa. A comissão de serviço daquele médico era de 90 dias e não foi renovada por decisão do director-geral dos Hospitais dessa altura, Jacinto Magalhães. Leonor Beleza confirmou o despacho do seu director-geral, apesar de muito instada pelo administrador do Hospital, Gomes da Silva, a rever a posição. Insiste nos laços de solidariedade que a ligam aos seus directores-gerais e reforça a opção que tomou dizendo que deve respeitar-se a memória dos mortos. Revogar a decisão de Jacinto Magalhães depois deste ter falecido parece-lhe inaceitável.

Na base da decisão de Jacinto Magalhães estaria —diz-se— uma encomenda de material americano feita por Jorge Girão. A empresa correspondente não teria representação no nosso país, o que dificultava a reposição em casos de avarias na sala de operações. Outras razões que podem ter levado à demissão de Jorge

Girão, como director são as críticas que lhe vinham sendo feitas no desempenho do seu cargo e a certos aspectos da sua actuação. Respondem outros sectores que tudo isto não passa de uma cabala de Malato Correia, ex-deputado do PSD e número dois, atrás de Girão, até à demissão deste.

Outro problema em torno de S. Francisco Xavier tem a ver com as dificuldades de relacionamento entre o presidente da Comissão Instaladora, Gomes da Silva, e o secretário de Estado da Administração dos Hospitais, Costa Freire. É um desentendimento antigo que vem do tempo em que Costa Freire, enquanto responsável pela P. A., uma empresa britânica, estava encarregue de pôr S. Francisco Xavier a funcionar. A Ordem não tem conhecimento oficial do assunto. «Isso são conversas que todos nós ouvimos nos corredores», dizem-nos.

Entretanto, Machado Macedo pediu pareceres a professores de Direito para levar o diploma sobre Ins-pecção-Geral de Saúde ao Tribunal Constitucional. E este fim-de-semana Costa e Sousa está em Colónia, numa reunião do Comité dos Médicos dos Países das Comunidades Europeias e vai apresentar aos seus colegas o novo diploma sobre inspecção hospitalar. Com isto, a Ordem dos Médicos espera que os seus pares europeus enviem ao Governo português uma recomendação para que seja alterado o conteúdo do texto legal. Embora sem carácter vinculativo, esta recomendação internacional ao Ministério da Saúde é sempre um dado importante e que poderá obrigar Leonor Beleza a recuar. Entretanto, a Ministra da Saúde, sujeita ao fogo constante dos médicos, fez uma pausa de oito dias de férias, que terminam precisamente amanhã.

Maria João Vieira (Memoradum, de 12 de Setembro de 1987.)

Demitiu-se o director do Hospital do Restelo.

(Documento n.° 18)

O presidente da Comissão Instaladora do Hospital de S. Francisco Xavier, Gomes da Silva, apresentou o pedido de demissão do cargo, segunda-feira de manhã, sem, contudo, abandonar funções, tendo permanecido nas instalações ao longo de toda a semana. «Desinteli-gências insanáveis» com o Secretário de Estado da Saúde, Fernando Costa Freire, engenheiro de profissão, estão na origem da atitude —segundo revelaram ao Expresso elementos do Hospital.

A demissão de Gomes da Silva —homem da total confiança do recém-falecido director-geral dos Hospitais, Jacinto Magalhães— é a quarta baixa de vulto naquele Hospital, inaugurado há cinco meses. Antes saíram Ayres de Sousa, primeiro presidente da Comissão Instaladora, Jorge Girão, director clínico e director do Serviço de Urgência, e Solange Quintal, chefe da clínica de anestesia.

O conflito está envolto no mais complexo secretismo, em total respeito pelas regras impostas pelo Ministério da Saúde. «Não confirmo nem desminto essa notícia», disse ao Expresso Mário Dias Ramos, um jornalista contratado pelos serviços de relações públicas do Hospital, acrescentando que os funcionários daquele depar-