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II SÉRIE — NÚMERO 67

Independentemente dos condicionalismos e limitações em meios existentes, tem a Força Aérea por lema «o melhor cumprir», sem deixar de compreender que, face a acontecimentos indevidamente esclarecidos, se torne necessário dar uma explicação complementar. Neste sentido, junta-se em anexo um esclarecimento referente às operações e acções desenvolvidas pela Força Aérea aquando do naufrágio do Cláudio Manuel e já anteriormente enviado à Presidência da República.

Não se deixará, no entanto, de realçar que, para além da total disponibilidade, aplicação e vontade de bem servir do pessoal, dependerá igualmente a Força Aérea, no cumprimento da sua missão, dos meios que tiver ao seu dispor e que, como anteriormente exposto, se consideram extremamente reduzidos no âmbito da busca e salvamento.

0 Chefe do Gabinete, Joaquim José Santos de Figueiredo Lobo, brigadeiro piloto-aviador.

Assunto: Naufrágio do Cláudio Manuel.

1 — Relativamente ao pedido de informações sobre o envolvimento e condicionalismos experimentados pela Força Aérea no socorro da tripulação do Cláudio Manuel, tem-se a transmitir o constante nos parágrafos a seguir.

2 — 0 naufrágio ocorreu à noite, com vagas de 6 m de altura. Por estas razões não foi possível prestar socorro com quaisquer meios navais e foram também estas as razões que condicionaram o emprego dos meios aéreos.

3 — O mecanismo de uma operação no mar, com helicóptero, obedece aos seguintes procedimentos:

a) Primeiro, é necessário conhecer a posição aproximada do náufrago. Depois, localizá-lo. Conseguida a localização, é depois indispensável levar o helicóptero a sua vertical, mantê-lo perfeitamente estacionário em relação ao náufrago e fazer descer, por intermédio de um cabo preso a um guincho, um recuperador/ salvador;

b) Seguidamente, o recuperador/salvador recolhe o náufrago, contra si ou para uma cesta metálica (dependendo do estado do mar), e prende-o convenientemente;

c) Por último, protegendo o náufrago, o recuperador/salvador e o naufrago são içados para bordo do helicóptero a partir do mar.

4 — À noite, a mesma operação exige que, depois de localizar o náufrago, se sinalize o ponto onde este se encontra, para obter pontos de referência que permitam aos pilotos e ao recuperador manter o seu constante avistamento e também permitir a manutenção do helicóptero na vertical.

A sinalização do náufrago é feita com potes de luz (pirotécnicos), lançados em quatro pontos distintos e equidistantemente afastados do náufrago.

5 — À noite, com vagas de 6 m, os pirotécnicos que se lançam do helicóptero para a água para servirem como pontos de referência deslocam-se rapidamente no plano horizontal pela acção das vagas e, simultaneamente, oscilam verticalmente com a amplitude de 6 m.

6 — A oscilação dos potes de luz sobre o fundo escuro, como é o caso do mar à noite, faz com que os pilotos, porque os têm como plataforma de referência, passem a fazer oscilar os helicópteros com as vagas, \sto é, cavalgam com as vagas. Podem assim facilmente perder o controle da aeronave ou ficar sujeitos a fe-

nómenos de desorientação espacial. Por esta razão, a operação de salvamento à noite sobre o mar, com o helicóptero Puma, é sempre uma operação delicada.

7 — Dificuldades idênticas ocorrem com os recupe-radores/salvadores. Com vagas de 6 m não é possível colocar, à noite, um recuperador/salvador sobre um alvo pequeno. Primeiro porque, conforme foi atrás explicado, não é possível efectuar a paragem do helicóptero sobre o náufrago por falta de pontos de referência estáveis. Segundo porque existem enormes probabilidades, se o salvamento se estiver a fazer de uma traineira, barco ou navio, de o ferir gravemente contra os mastros, costado e demais partes da embarcação. A título elucidativo, cita-se que na última operação de salvamento deste tipo, efectuada de dia e com mar menos agitado, não foi possível colocar o recuperador/salvador a bordo. Foi necessário que os pescadores saltassem para a água, um a um, de onde foram recolhidos.

8 — A recuperação de náufragos a partir da água também é problemática quando o mar está muito agitado. Dentro de água, os recuperadores/salvadores ficam sujeitos à pressão das vagas quando o cabo estica. Se as vagas forem muito grandes e fortes, o recuperador/salvador também pode ficar gravemente ferido por este motivo, ser arrastado e com ele o helicóptero, por maior que seja a perícia do seu piloto.

9 — De dia, mesmo com mar agitado, é possível movimentar o helicóptero, de modo a fazer o recuperador/salvador cair sobre o náufrago e agarrá-lo. Porém, à noite, tudo é diferente. Um alvo pequeno, como a cabeça de um náufrago, não é visível e o helicóptero não se pode deslocar com a mesma facilidade porque os pilotos não têm pontos de referência para se guiar.

Um recuperador/salvador descido para o mar nestas circunstâncias, além de não agarrar o alvo, é rapidamente afastado da vertical do helicóptero e fica com o cabo esticado em diagonal, em qualquer direcção, e sujeito à pressão das vagas.

É este outro factor que aconselha, nos salvamentos à noite e com mar agitado, uma análise cuidada das condições da operação.

10 — Com capacidade para efectuar um salvamento no mar, à noite, a Força Aérea dispõe, no continente, de um helicóptero médio Puma. A capacidade de intervenção deste helicóptero pode ser limitada, conforme atrás se elucidou, por condições de operação adversas.

11 — O helicóptero Puma mantém um alerta permanente na Base do Montijo, a qual está localizada numa posição central em relação a toda a linha da costa.

O tempo de voo do helicóptero desde a Base do Montijo até ao local onde se deu o naufrágio do Cláudio Manuel é de cinquenta minutos.

12 — A Força Aérea tem também helicópteros ligeiros AL III de alerta. Porém, esta aeronave não está certificada para operar à noite.

13 — A resposta da tripulação do Puma em alerta no Montijo é de trinta minutos de dia e quarenta e cinco minutos à noite. Este tempo é despendido no aprontamento final do helicóptero, para recolha dos tripulantes que pernoitam na Base e nas operações de pôr em marcha. A diferença de quinze minutos entre a reacção no período diurno e a reacção no período nocturno resulta da necessidade de manter o helicóptero de alerta dentro do hangar durante a noite. De facto, o Puma é uma máquina relativamente complexa, cujos sistemas podem ser afectados pela acção da humidade,