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14 DE MARÇO DE 1990

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solidariedade mundial desenvolvido a Ocidente, e agora também com uma revolução quase pacífica, que no conjunto ameaçam transformar o mundo inteiro.

A evolução democrática dos países do Centro Europeu continua ainda a depender da URSS, onde se joga a sua sorte, reversível enquanto a própria União Soviética não se redefinir, democratizando-se, mas de qualquer modo a Europa já não voltará a ser igual e poderá mesmo apresentar-se, no fim deste processo e deste século, radicalmente diferente da Europa da guerra fria.

De qualquer modo, a URSS não deixou de ser uma ameaça para a Europa Ocidental. Além de tudo o mais, porque continua a manter instalações militares adiantadas na Europa Central e a possuir uma grande superioridade militar. A situação estratégica internacional é movediça e cada vez mais complexa, mas as despesas militares soviéticas representam ainda cerca de quatro vezes as despesas dos países da OTAN. Mesmo com as reduções anunciadas pelo Presidente Gorbachev em Dezembro de 1988, o Pacto de Varsóvia conservaria ainda uma vantagem numérica sobre a OTAN na ordem de 2,4 contra 1 para os carros de combate e a artilharia e de 2 contra 1 nos aviões de combate. E a vantagem soviética continua a aumentar, não obstante a redução da percentagem das despesas militares no orçamento deste ano, o nível da produção soviética de armamento continuará a ser superior ao que é estritamente necessário para a defesa, além de que este é dos mais evoluídos do Mundo. Quanto às forças terrestres, os últimos carros soviéticos, os T-80, são dos mais modernos, aparecendo equipados com um telemensor de laser, um canhão aperfeiçoado e uma blindagem reactiva. E mesmo os antigos carros T-64B e T-72 estão a aparecer modernizados com uma blindagem folhada e reactiva. Quanto à força aérea, também os aviões de caça foram modernizados. Os Foxhound, Fulcrum e Flanker têm um maior raio de acção, um material electrónico de bordo mais aperfeiçoado e sistemas de condução de tiro mais evoluídos. Combinados com o novo sistema aerotransportado de detecção e controlo Mains-tay e com os novos mísseis ar-ar AA-9 e AA-10, estes aparelhos constituem um desafio a quaisquer operações aéreas da OTAN. Quanto às forças marítimas, a entrada ao serviço do Baku eleva para quatro o número de porta-aviões soviéticos VTOL da classe Kiev. E o Tbiiissi, novo porta-aviões de 65 000 t, acaba de ser testado. Quanto às armas nucleares de teatro o esforço de modernização também tem sido enorme: em terra, os SS-21 estão a substituir os FOG, as capacidades dos mísseis Scud B vão aumentar para um alcance de 30 km; no mar, prepara-se a instalação de mísseis de cruzeiro para lançamento em submarinos (SS-N-2J e SS-NX-24), capazes de atingir o continente europeu, e, no ar, os Soviéticos estão a desenvolver o AS-15, míssil de cruzeiro de longo alcance capaz de desempenhar um papel no escalão de intervenção de teatro.

Aconteça o que acontecer na evolução político--económica dos regimes do Centro Europeu e mesmo no plano do desarmamento, a URSS continuará uma superpotência. A imensidão do seu território, a abundância de recursos, a proximidade a leste dos grandes países asiáticos, a necessidade de ela tentar assegurar a unidade do império e a ocidente a possibilidade de

tentar manter uma zona de influência dominante e um dia voltar a querer uma zona de domínio modernizado sobre o seu glacis fazem com que a União Soviética vá continuar a dispor de um impressionante poderio militar.

Nós assistimos ao fim da era do pós-guerra e à possível, emergência de uma nova ordem europeia, de reforço da união da Europa Ocidental e da cooperação pan-europeia, o que implicará, não o fim da cooperação atlântica, mas um novo atlantismo.

Mas a ameaça do Pacto de Varsóvia parece ser cada vez mais remota. Estando a União Soviética em declínio, os perigos de finlandização da Europa Ocidental parecem diminuir inevitavelmente. Já a finlandização da Europa Central poderá ser o resultado mais provável dos actuais desenvolvimentos sociais, políticos e económicos desta área, em que a URSS está a deixar de dominar, mas que procura manter como sua zona de influência.

Em face de tudo isto, os Europeus não devem comprometer-se num desarmamento unilateral nem ignorar as mudanças na política dos EUA, que pressagiam uma redução da presença militar americana na Europa Ocidental. Impõe-se uma mudança na assumpção pela Europa Ocidental da sua própria defesa.

II — Relacionamento euro-americano

A assumpção da segurança pela Europa Ocidental será no futuro uma questão fundamental para os nossos países. A Europa Ocidental tem estado dependente dos Estados Unidos durante tanto tempo que essa dependência se tornou um hábito. O problema da construção de uma identidade de defesa europeia coerente só parcialmente se prende com o encontrar de uma base institucional apropriada e a ultrapassagem de barreiras políticas à cooperação. Ele é sobretudo um problema psicológico: a Europa Ocidental tem vivido tão confiada no constrangimento de uma superpotência e na protecção da outra que um enquadramento mais independente lhe tem parecido impossível. No entanto, nos últimos anos temos assistido a mudanças perceptíveis na autoconfiança europeia.

A determinação da RFA em manter a Ostpolitik, apesar do colapso da detente, a discussão com os EUA acerca do gasoduto ligado à União Soviética e, em geral, sobre o comércio e a transferência de tecnologia Este-Oeste, o criticismo em relação à iniciativa de defesa estratégica de Reagan, a tentativa para regenerar a UEO e o esquema EUREKA de colaboração em alta tecnologia são tudo sinais de que a Europa se está a tornar menos dependente em relação aos EUA e cada vez mais preparada para defender os seus próprios interesses, mesmo que estes divirjam dos de Washington.

Os EUA não podem ver nestas atitudes cedências ou solidariedades em relação à URSS, que não existem, pois o que acontece é que os Europeus têm interesses que não são sempre e necessariamente iguais aos dos EUA. A inexistência de uma vontade crescente em subordinar sistematicamente as suas preferências às posições americanas nada tem a ver com uma aproximação a Moscovo à custa do aliado americano. Aliás, uma aliança só interessa para defender interesses comuns, não para prejudicar sistematicamente interesses