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14 DE MARÇO DE 1990

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da Cimeira realizada aquando do 40.° aniversário da OTAN, o discurso de Bush, em Bruxelas, após a Cimeira de Malta, e as propostas de James Baker sobre um novo altantismo, apresentadas a 12 de Dezembro perante o Clube de Imprensa de Berlim Ocidental. Os EUA querem cortar no défice orçamental, querem diminuir as tropas na Europa, como querem retirar uma parte das tropas na Coreia do Sul, e querem que os aliados europeus e o Japão se comprometam mais na sua própria defesa.

Quanto às trocas comerciais, os EUA impuseram o Uruguay Round do GATT, que deverá terminar este ano, onde introduziram pela primeira vez propostas para a liberalização do comércio agrícola e para a gestão internacional das prestações de serviços para tentar criar instrumentos que ajudem a favorecer a solução de alguns dos seus problemas económicos.

A resposta dos Estados Unidos ao receio daquilo que têm considerado «a fortaleza europeia» de 1993 poderia ser a criação de um mercado comum norte--americano, já a começar com o Canadá, e que poderia estender-se ao México, se não mesmo às repúblicas centro-americanas. Aliás, a Austrália e a Nova Zelândia já se mostraram também favoráveis à junção a este conjunto comercial norte-americano e é de admitir ainda que o Japão lhe fique associado através de um acordo comercial global.

Com efeito, Bush poderia optar entre duas estratégias: ou a tentativa de integração da Europa e do Japão com os dois países da América do Norte numa «grande confederação das democracias», que asseguraria aos EUA a continuação da hegemonia mundial, ou decidir-se por uma política de blocos, em que o mercado comum norte-americano se situaria num mundo com cinco pólos de poder, a América do Norte (EUA e Canadá), a URSS, o Japão, a China e a Europa, se esta se unificar, solução em que durante mais algumas gerações a América ainda se manteria como primeira potência relativa.

As recentes apostas do Presidente americano de transformar a OTAN em organização de defesa encarregada de verificar o cumprimento dos acordos de desarmamento e simultaneamente como a base de uma cooperação político-econômica transatlântica parecem confirmar a tentativa americana de ensaiar primeiro a construção da grande «confederação das democracias».

Para já, de qualquer modo, vemos Bush a declarar em Bruxelas que os Estados Unidos se consideram uma potência europeia, apoiando claramente a unificação da Europa, dando a benção à união económica e monetária e afirmando que, embora reduzindo tropas, estão dispostos a permanencer no Velho Continente, enquanto a URSS fala na Casa Comum Europeia, de que, pela cultura, não só ela mas também os EUA fazem parte (sic), revelando assim, talvez devido ao problema alemão, aceitar, ou melhor, defender a continuação da presença americana na Europa, ao mesmo tempo que, em vez de pregar a dissolução dos blocos, começa a falar na reconversão do papel das alianças — OTAN e Pacto de Varsóvia.

Mas a mudança da política americana em relação à Europa não se prende só com o relativo declínio americano, a necessidade de se adaptar em face dos seus interesses globais e à recomposição de macroalianças, para se preparar para responder ao desafio económico

de uma Europa que parece finalmente querer inverter a sua curva de declínio. Há também mudança nas atitudes americanas em relação às armas nucleares.

Com efeito, os EUA evoluíram significativamente neste domínio, pois enquanto nos anos 50 e no princípio da década de 60 as armas nucleares apareciam como solução para muitos dos problemas da América, agora a sua opinião pública e os vários partidos vêem--nas como fonte de riscos e dificuldades. Basta atentar nos argumentos que explicitam o seu não uso em primeiro lugar (no first use) do antigo Secretário da Defesa McNamara e nas propostas do presidente da Comissão das Forças Armadas do Senado, Sam Nunn, que defende uma maior força convencional para a OTAN. O sentimento antinucíear aparecia claramente em algumas políticas e acções do próprio governo Reagan, chefe de uma potência que esteve na primeira linha do apoio à rejeição do movimento pacifista europeu, para depois, vencido este com custos para os governos respectivos, aparecer a liderar o mais espectacular e puro discurso pacifista de todo o pós-guerra (declaração sobre a «guerra das estrelas» de Março de 1983).

A IDE, as propostas à Cimeira de Reiquejavique para a abolição dos mísseis balísticos e o subsequente acordo INF indicam uma mudança de atitude em relação às armas nucleares e ao seu papel na estratégia da OTAN.

Aliás, o desejo dos EUA em reduzir a dependência da OTAN em relação ao nuclear remonta à década de 60, ligando-se já aos tempos do debate sobre a mudança da estratégia da «retaliação maciça» para a da «resposta flexível». Na adopção desta nova doutrina, em 1967, fruto de um compromisso político clássico, foi patente, por um lado, o realce colocado pelos Europeus nos componentes nucleares da escalada desta estratégia e, por outro, o acento posto pelos EUA nos elementos convencionais afectados à resposta.

É óbvio que a diferença das abordagens reflectia vulnerabilidades assimétricas, que eram sentidas e se mantêm: uma Europa Ocidental sujeita tanto à agressão convencional como à nuclear, e por isso necessitando da dissuasão para todas as emergências, e os EUA, qual ilha, preocupados só com os ataques nucleares e, por isso, querendo acima de tudo minimizar a sua possibilidade. Daí que, na perspectiva dos interesses americanos, a estratégia do first use das armas nucleares devesse ser de afastar. Embora o seu perigo fosse reconhecido nos anos 60, ele foi ainda acentuado pela obtenção soviética da paridade estratégica nos anos 70. Nesta perspectiva, o acordo INF, resultando na remoção da Europa Ocidental das armas capazes de atingirem o território soviético, é interpretável como visando quebrar essa ligação. Nem vale contra-argumentar com as bombas instaladas na Europa, que poderiam até certos limites compensar a remoção dos sistemas INF, pois não é garantida a sua capacidade de penetração nas defesas aéreas do Pacto de Varsóvia. Foi, alias, a incerteza neste domínio que constituiu, nos anos 70, uma importante razão para a instalação na Europa dos mísseis de cruzeiro e pershing, sobre pressão dos aliados europeus.

Percebida a ameaça primária como partindo, não da agressão soviética, mas do perigo da própria guerra nuclear, parece lógico que o compromisso para com a Europa comece a ser questionado ou a pretender assumir-