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9 DE MARÇO DE 1991

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Foram encontradas, nessas escavações, outras moedas do tempo dos reis D. Afonso III, D. Afonso IV, D. João I, D. Duarte, D. Afonso V e D. João II, o que indica que as águas termais do Gerês foram aproveitadas nos séculos xm, xiv e xv. No entanto, em termos de documentos escritos, a primeira memória ou notícia que se conhece respeita a 1726, numa referência que lhe é feita pelo Dr. Francisco da Fonseca Henriques, médico do rei D. João V, na sua obra Arquipélago Nacional.

Foi este monarca que, em 1735, se interessou vivamente por estas termas, dotando-as com um conjunto de infra-estruturas, de que faziam parte a capela, hospital, poços para banhos termais e residências para o médico, boticário e capelão.

Os poços ou tanques de banhos termais correspondiam a outras tantas nascentes e neles foi colocada a seguinte inscrição:

«Estas obras mandou fazer El-Rei Nossa Senhor D. João V à custa dos Povos sendo superintendentes d'ellas o Dr. Gaspar Pimenta d'Avellar, Provedor da Câmara de Guimarães. E para se fazer concorreu com muito zelo o Dr. Francisco Pereira da Cruz, deputado do Santo Ofício e desembargador da Casa da Suppli-cação de Lisboa.

Abril 11 de MDCCXXXCV.»

A utilização das águas mineromedicinais do Gerês desde tempos anteriores a D. João V faz supor que algumas construções existissem já nessas épocas, mas viriam, entretanto, a desaparecer.

Localizadas num sítio bastante ermo e a razoável distância da sede da freguesia de Vilar da Veiga, é provável que o carácter sazonal dos tratamentos termais que ainda hoje se mantém, aliado à rigidez do clima e à inexistência de infra-estruturas para a época invernosa, fizessem com que, durante muitos séculos, as termas do Gerês só tivessem movimento e habitantes desde o dia de São João (24 de Junho) ao dia de São Miguel (29 de Setembro), que correspondiam, respectivamente, ao início e encerramento da época balnear.

É essa, de resto, a conclusão que se pode tirar da leitura das «memórias paroquiais» insertas no Dicionário Geográfico de Portugal, organizado em meados do século xviii e que na parte referente à freguesia de Vilar da Veiga, da relação das coisas mais notáveis então existentes nessa freguesia, se relata o seguinte:

«Há perto desta freguesia distância de hua legoa e nos limites da mesma freguesia cinco fontes de colli-dade quente, chamadas as Caldas do Geres mt° bem notoria a sua virtude, em cujas agoas recuperam m.tos enfermos perfeita saúde e sam m.t° freaquentadas nos meses de Junho Julho Agosto e Setembro adonde ocorrem infermos de varias partes e experimentam m.tas melhoras em todas as queixas: Acham-se com varios edificios p.B acomodaçam do povo e com capellam para lhe dizer missa e Médico tudo por ordem de Sua Magestade que Ds. goarde.»

E noutro ponto dessas «memórias paroquiais» lê-se ainda:

«Está a Parochia distante do lugar hum estadio e tem dous lugares, um chamado Villar da Veiga, e outro chamado a Ermida, que fica distante huma legoa.»

Como se depreende da leitura desta memória, em meados do século xvm as termas do Gerês ainda não eram habitadas durante todo o ano e desse modo se explica que, para o autor da mesma, Padre Félix de

Sousa, que a subscreveu em 23 de Maio de 1758, nessa altura as caldas não eram ainda consideradas como um lugar da freguesia de Vilar da Veiga.

Porém, a sempre crescente fama das suas águas tem feito aumentar, de ano para ano, o número dos seus frequentadores, começando a desenhar-se, nitidamente, as bases da futura estância balnear de renome internacional, única no País na sua especialização clínica e das mais notáveis da Europa no seu sector.

É importante referir que nos princípios do século xix, as águas mineromedicinais do Gerês chegaram a ser exportadas, durante alguns tempos, para a Inglaterra, o que se presume se tenha ficado a dever à influência exercida pelos elementos da colónia britânica na cidade do Porto, habituais frequentadores destas termas já nessa época.

Foi, sobretudo, a partir da segunda metade do século passado que a reputação do inconfundível valor terapêutico dessas águas atingiu uma dimensão jamais conhecida, o que terá contribuído, juntamente com as belezes naturais, a flora e a fauna riquíssimas da sua serra, para que o rei de Portugal de então aqui se deslocasse também. De 12 a 15 de Outubro de 1887 esteve nas termas do Gerês o Rei D. Luís I e sua comitiva, em que se integraram também D. Maria Pia, D. Carlos e D. Amélia, tendo D. Luis e D. Carlos participado numa caçada aos veados em Leonte.

Desde tempos bem distantes acorre ao Gerês um crescente número de visitantes — tal como, aliás, ainda hoje acontece —, seduzidos pela fama e efeitos benéficos das suas águas, pelas belezas naturais e paisagísticas ou pela incomensurável riqueza da flora e da fauna da serra. Dentre esses visitantes contam-se algumas personalidades de relevo, de que são exemplos o célebre naturalista alemão Link (para quem «os montes do Gerês fazem esquecer, pelo seu encanto, as matas da Alemanha e da Inglaterra»), Joaquim Vicente Pereira de Araújo, D. Jerónimo Contador d'Argote, Frei Cristóvão dos Reis, Abade António Martins Beleza, Dr. José Pinto Rebelo de Carvalho, Hermenegildo Brito Capelo, Dr. Leonardo Torres, Professor Barbosa du Bocage, Professor Júlio A. Henriques, Padre Joaquim da Silva Tavares, Affonso Luisier, Oliveira Pinto; Camilo Torrend, Dr. Fernando Santos, Pinho Leal, Dr. Ricardo Jorge, D. João de Sousa (governador de armas de Entre Douro e Minho, que mandou abrir os primeiros caminhos de acesso às termas), Tude de Sousa, Dr. Artur Ravara, Dr. José de Andrade Gramacho, Visconde de Reguengos, Paul Chofatt, escritores Ramalho Ortigão, Miguel Torga, Nuno de Montemor, Dr. Augusto Santos Júnior e outros.

Por volta do ano de 1870, e uma vez que existiam já condições para o efeito, começaram a fixar-se, com carácter permanente, os primeiros habitantes e em 1884 residiam com carácter permanente 13 famílias.

Para acolher o caudal, cada vez mais numeroso, de aquistas foram, entretanto, sendo erguidos novos edifícios, e em 1982 abriu o primeiro hotel. No início deste século eram oito os hotéis existentes nessa estância termal.

Em 1885 seria concluída a estrada de ligação de Braga ao Gerês, a qual viria a substituir os íngremes caminhos abertos nos começos do século xvm pelo governador D. João de Sousa. Foi contributo decisivo para facilitar o acesso a estas termas não só dos aquistas e dos caçadores como também dos cientistas.