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II SÉRIE-A — NÚMERO 95

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Europa (Londres, Nantes, Paris, Antuérpia, Bruxelas, Roterdão, Amsterdão), Brasil, Antilhas e Estados Unidos

da América entre outras.

No início do século XIX, começaram a regressar a Portugal alguns judeus sefarditas originários de

Marrocos e Gibraltar e em 1801 cria-se o primeiro cemitério judeu moderno junto ao cemitério inglês em

Lisboa. Porém, só em 1868, um Alvará de D. Luís concede aos “judeus de Lisboa a permissão de instalar um

cemitério para a inumação dos seus correligionários”, o atual cemitério da Rua D. Afonso III, em Lisboa.

Contudo a instalação da Comunidade vai-se efetuando muito lentamente pelo que, só em 1897 se elege o

primeiro Comité Israelita de Lisboa e uma comissão que tem em vista a edificação de uma Sinagoga em

Lisboa, a atual Sinagoga “Shaarei Tikva” (Portas da Esperança), junto ao Largo do Rato.

É com a implantação da República que por despacho de um Alvará do Governo Civil de Lisboa, de 9 de

maio de 1912, a comunidade judaica passa a ser reconhecida legalmente em Portugal.

Porém, ao longo de todo o século XX, apesar da magnitude dos seus problemas e das perseguições anti-

semitas muito frequentes em todo o mundo, em Portugal vai-se consolidando a estabilidade da comunidade

israelita. Durante a Guerra de 1939-45, foi notável o apoio dado pela comunidade de Lisboa aos refugiados

fugidos à barbárie hitleriana que daqui partiram para uma nova vida em novos lugares, nomeadamente para os

Estados Unidos e Brasil. Por essa razão, com alguma frequência, a Sinagoga Shaarei Tikva é visitada por

familiares e descendentes desses refugiados que por aqui passaram com o intuito de agradecer, de alguma

forma, o apoio recebido.

Neste largo período de dois séculos que medeia entre os alvores de oitocentos e a atualidade, alguns

descendentes de judeus portugueses fugidos das perseguições inquisitoriais, regressaram a Portugal, aqui se

instalaram e criaram novos laços familiares, intelectuais, culturais, políticos, profissionais e comerciais. No

entanto, os seus antepassados tinham criado algumas comunidades de grande renome, nas terras por onde

tinham passado ou estabelecido fugindo da ignomínia do Tribunal da Inquisição e dos seus sequazes, e

fundado sinagogas notabilíssimas tais como a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, a Sinagoga Shearith

Israel de Nova York, a Sinagoga Bevis Marks de Londres, a Sinagoga de Touro em Newport (Rhode Island –

USA), a Sinagoga Portuguesa de Montreal, a Sinagoga Tzur Israel em Recife, entre outras.

Por outro lado, no primeiro quartel do século XX, Samuel Schwarz desvenda ao mundo a existência de

uma comunidade judia escondida nas faldas da Serra da Estrela em Belmonte. Graças ao isolamento da vila e

a uma certa cumplicidade dos seus habitantes, foi ainda possível observar que um grupo muito restrito de

pessoas mantinha, em segredo, algumas tradições de um longínquo passado judeu. Este facto, para além de

ter criado um pólo de referência fortíssimo para a diáspora judaica, desencadeou novas pesquisas e estimulou

o espírito incansável e empreendedor de um militar, o Capitão Barros Basto (reabilitado unanimemente pela 1ª

Comissão da Assembleia da República Portuguesa em 29 de fevereiro de 2012) a criar estruturas de suporte à

reabilitação de outros cripto-judeus existentes em Portugal. A Assembleia da República na sua Resolução n.º

119/2012 de 10 de Agosto recomendou ao Governo que “proceda à reabilitação e reintegração no Exército do

capitão de infantaria Artur Carlos Barros Basto, que foi alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937”.

Na sequência de muitos estudos e trabalhos elaborados por alguns dos nossos mais notáveis historiadores

descobrem-se, ainda no século XX, algumas outras comunidades que vivendo semi-isoladas mantém a

convicção da sua ascendência judia, nomeadamente nas regiões fronteiriças da Beira interior e Trás-os-

Montes.

O apogeu dos judeus sefarditas portugueses verificou-se em 1989, em Castelo de Vide, quando o então

Presidente da República, Dr. Mário Soares apresentou publicamente o seu pedido de desculpas, em nome do

Estado português, aos descendentes dos judeus perseguidos pela Inquisição pelos danos então causados,

reabilitando assim a sua imagem e condição social.

De igual modo foi da maior importância para os judeus sefarditas ibéricos a “Sessão Evocativa dos 500

anos do Decreto de Expulsão dos Judeus de Portugal” promovida pela Assembleia da República, em

Dezembro de 1996, na qual foi votada, por unanimidade, a revogação do Decreto de D. Manuel, numa sessão

carregada de simbolismo e emoção. Este ato de homenagem à capacidade de resistência, perseverança, luta,

fé e esperança do povo judeu, foi, também, patrocinado pelo Presidente da República, o Dr. Jorge Sampaio.

Como corolário deste percurso de reabilitação de uma imagem e uma cultura fortes quase destruídas pela

Inquisição portuguesa com a conivência da coroa, faz todo o sentido promover o retorno dos descendentes