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II SÉRIE-A — NÚMERO 106 20

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 417/XIII (1.ª)

RECOMENDA AO GOVERNO A ELABORAÇÃO DE ESTUDO NACIONAL SOBRE O TRABALHO

INFANTIL

Segundo a International Labour Organization (ILO), trabalho infantil é definido como o trabalho que

condiciona a infância, o potencial e a dignidade de uma criança, que prejudica o seu desenvolvimento físico e

mental e que a priva de ir à escola ou a obriga a combinar as aulas com trabalhos muito pesados, caso não

abandone o ensino prematuramente. Na sua expressão mais dramática, o trabalho infantil implica escravatura,

a separação da criança da sua família e a exposição a grandes riscos e doenças.

A nível mundial, no ano de 2000 existiam 246 milhões de crianças vítimas de trabalho infantil, o que

correspondia a 18,5% da população menor de idade. O número de crianças afetadas teve uma redução

significativa na ordem dos 40% em 2012, afetando ainda assim cerca 168 milhões de crianças.

Mesmo sem a expressão dramática existente em outras regiões do globo, na sua maioria no hemisfério sul,

em Portugal existem também situações de trabalho infantil, apesar dos dados disponíveis demonstrarem uma

redução do número de crianças envolvidas.

Em 1998, o Departamento de Estatística do Trabalho, Emprego e Formação Profissional (DETEFP), a

Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Instituto Nacional de Estatística (INE) aliaram‐se para

procederem a um inquérito para apuramento da extensão deste problema, tendo sido apuradas situações de

exploração na indústria do calçado e dos têxteis, no comércio, na construção civil, bem como situações de

trabalho familiar não remunerado (agricultura) e casos de exploração em atividades não económicas (cuidar de

familiares mais novos, fazer limpezas…).

Posteriormente, em 2001, foi realizado um novo inquérito a nível nacional que abrangeu o Continente e as

Regiões Autónomas denominado “Trabalho infantil em Portugal 2001”.

De acordo com os dados constantes deste inquérito existiam, à data, em Portugal, 894 694 famílias com

menores em idade escolar, compostas por 3 738 812 pessoas e abrangendo 1 190 658 menores, dos quais 1

093 579 não tinham atividade, 48 165 desempenharam tarefas de ajuda doméstica e 48 914 exerceram uma

atividade económica na perspetiva do próprio menor ou 48 103 menores na perspetiva do responsável. Assim,

98,6% frequentavam a escola, 91,8% não desenvolveram qualquer tipo de atividade, 4% (48 165) ajudaram em

tarefas domésticas em excesso e 4,1% (48 914) realizaram uma atividade económica.

Os principais sectores de atividade onde os menores trabalham são a Agricultura, seguida do Comércio,

Industria Transformadora e Restauração, existindo igualmente um número bastante significativo a trabalhar na

Construção Civil.

Este inquérito constituiu o último estudo realizado sobre o trabalho infantil por uma fonte credível e oficial, a

nível nacional, não tendo sido realizado qualquer outro nos últimos 15 anos.

Os estudos realizados têm demonstrado uma redução no número de casos de trabalho infantil. Contudo, o

facto de o cenário ter melhorado, não significa que tenham deixado de existir casos de trabalho infantil em

Portugal. Do inquérito realizado em 2001, acima mencionado, resulta que de 1998 para 2001 o trabalho infantil

teve um acréscimo de 0,2%, o que demonstra que se trata ainda de uma situação preocupante e talvez não tão

residual como tem vindo a ser defendido.

Igualmente preocupante é o facto de os números acima referidos deixarem claro que existem situações em

que os menores que estão na escola acumulam, muitas vezes, esta situação com o desempenho de uma

atividade económica ou de uma atividade não económica de ajuda em tarefas domésticas em excesso, situação

que consequentemente irá acarretar um pior desempenho escolar, o que certamente não se pretende.

Susana Soares, do Instituto de Ação Social, posteriormente nomeada representante dos Açores no CNCETI

(Conselho Nacional contra a Exploração do Trabalho Infantil) defendeu que “Desde muito cedo que as crianças

abandonam a escola para tomar conta dos irmãos ou para desempenharem trabalhos domésticos”, salientando

que “Faltar às aulas para ficar em casa, para ir para o campo ou para a construção civil é trabalho. Muito do

insucesso escolar advém do facto das crianças começarem a trabalhar muito cedo.” E, acrescenta, “para travar

esta situação, é necessário que se alterem as mentalidades instaladas na sociedade. Se dissermos a um pai ou

a uma mãe que um menino de doze anos deve estar a brincar em vez de ir para o campo às cinco da manhã,

interpretam-nos mal e, se calhar, ficam ofendidos.”