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II SÉRIE-A — NÚMERO 100

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No que se refere aos métodos mecânicos (ou equiparados), como é o caso das sachas, queima ou utilização

de moto roçadoras, o problema envolve sobretudo duas vertentes. Em primeiro lugar a grande dificuldade que

existe no mercado laboral em encontrar trabalhadores para executar estes trabalhos em grande escala se

considerados para o todo nacional, depois, o grande aumento de custos que isso implicará por contraposição à

utilização do glifosato.

Aumento de custos que terá de ser compensado com aumento de impostos no caso da limpeza de ervas e

infestantes dos meios urbanos – sobretudo em bermas de estradas e passeios empedrados – por parte dos

municípios e das freguesias, quer no que se refere à administração central, neste caso já no concernente ao

cumprimento dos programas de defesa da floresta (e dos cidadãos) contra os incêndios, traduzidos na limpeza

de matos e vegetação herbácea nas bermas das estradas.

Acresce referir que, enquanto que no caso da utilização do glifosato basta normalmente uma única aplicação

por época para proceder à eliminação da infestante, com a utilização de meios mecânicos ou a queima em

ambiente urbano são normalmente necessárias duas ou três intervenções para conseguir o mesmo efeito, pois

normalmente não se consegue a eliminação da raiz, produzindo-se assim normalmente rebentamentos depois

da destruição da parte aérea.

Acresce que, nem a queima (através da utilização de maçaricos ou vapor), nem a utilização de moto

roçadoras são isentas da introdução de elementos poluentes no meio urbano, nunca tendo sido estudado – nem

sequer questionado – quais os seus efeitos para a saúde humana.

Suscita-se, depois, a necessidade de apurar se a defesa da eliminação ou do condicionamento da utilização

do glifosato redundará mesmo primacialmente na defesa da saúde das pessoas ou, de forma indireta, na

proteção de interesses instalados por parte da grande indústria, traduzidas na obtenção de vantagens

competitivas por parte dos detentores de patentes de produtos alternativos, decorrentes da retirada do mercado

de um produto de produção e venda livre.

Sucede assim que, na prática, os ativistas da erradicação do glifosato podem estar sobretudo a auxiliar,

mesmo que de forma involuntária, as multinacionais da indústria química que tenham ou venham a desenvolver

sucedâneos patenteados ao glifosato, que apesar da caducidade da respetiva patente pelo decurso do tempo,

continua a ser barato e eficiente relativamente à finalidade pretendida.

De referir, depois, que nenhum dos produtos sucedâneos foi tão estudado como tem vindo a suceder com o

glifosato, não sendo assim possível asseverar que os mesmos não sejam muito mais perniciosos para as

pessoas e para o ambiente.

Acresce referir que todos os países desenvolvidos, Portugal e a Comunidade Europeia inclusive, têm

mecanismos rigorosos e sérios de aprovação de químicos para uso comercial, existindo ainda procedimentos a

seguir para efeito de licenciamento e autoridades técnicas para tomar as decisões que se justifiquem.

Os novos ativistas e alguns populistas desconfiam destas autoridades públicas, exigindo a substituição das

suas decisões por processos de decisão política, sem quererem saber das consequências para as pessoas,

sobretudo que a eliminação do uso do glifosato iria muito provavelmente implicar a subida da generalidade dos

produtos agrícolas de primeira necessidade.

Consequências para as pessoas e para as autarquias à parte, até pode parecer boa ideia proibir o glifosato

se as autoridades públicas tiverem andado distraídas ou sejam incompetentes e a ideia que deva prevalecer,

mesmo perante a ausência de provas de perigo, for a do «vale mais prevenir», «porque sim».

Poder-se-á até assumir o mesmo tipo de atitude com todos os produtos químicos em uso comercial, sem

esquecer sabonetes e detergentes.

À cautela, «não vá o diabo tecê-las», valerá porventura a pena erradicá-los também, mesmo perante a

ausência de qualquer prova concreta da sua nocividade, fazer até se calhar o mesmo à gasolina ou ao gasóleo,

ambos fontes reconhecidas de elementos poluentes comprovadamente cancerígenos, incluindo a produção em

meio urbano de dioxinas e metais pesados.

É que há na literatura pretensamente científica estudos para todos os gostos e até é relativamente fácil criar

o pânico em relação a um dos milhares de químicos que são quotidianamente usados pelas comunidades

urbanas para as mais diversas finalidades.

Hoje é o glifosato, amanhã será outro qualquer, porventura imediatamente a seguir ao termo do prazo de

vigência da respetiva patente, quando todos os players do setor puderem começar a produzir e a comercializar

a respetiva substância ativa.