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9 DE JANEIRO DE 2023

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Constituição da República Portuguesa ao estabelecer no n.º 3 do artigo 73.º a responsabilidade do Estado de

promover a «democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição

e criação cultural».

A existência de um apoio às Artes, dinamizado através de concursos pela Direção Geral das Artes (DGArtes)

constitui, neste quadro, a salvaguarda da arte livre e independente no nosso País. Conforme o PCP tem

afirmado, a simples existência desses concursos não assegura a plenitude dos direitos constitucionais, na

medida em que, na ausência de critérios transparentes e do financiamento adequado, nenhum resultado é

inteiramente justo.

Ora, o momento presente demonstra a justeza da análise do PCP. O facto de o Governo ter anunciado

medidas de reforço orçamental de 79 milhões para o ciclo do Programa Apoios Sustentados às Artes para 2023-

2026, não só não colmata as necessidades de financiamento, como confirma a justeza das propostas do PCP

e a insuficiência do orçamento aprovado para este fim nos últimos anos.

Contudo, este reforço foi não só aplicado de forma discriminatória apenas para a modalidade quadrienal

como, face aos resultados provisórios agora conhecidos, se revelou claramente insuficiente para manter o nível

de produção artística das estruturas de criação, evitar a sua destruição e para assegurar condições dignas e

respeito pelos direitos laborais a profissionais, técnicos ou artistas.

Nas áreas do circo, música, dança, artes visuais, cruzamentos disciplinares e teatro, foram 357 as

candidaturas submetidas, sendo que 203 foram na modalidade bienal e 154 na modalidade quadrienal. O

financiamento foi distribuído de forma desigual.

A realidade é que, por falta de dotação orçamental, ficaram por apoiar muitas estruturas consideradas

elegíveis a apoio. Aliás, apenas 20 % das estruturas que se candidataram não foram consideradas elegíveis,

demonstrando a qualidade dos vários projetos apresentados.

Na modalidade bienal, na dança, das 21 candidaturas apenas 8 foram propostas para apoio, ficando de fora

12 estruturas elegíveis. Na música e ópera, das 22 candidaturas apenas 7 são consideradas para apoio, sendo

que, das não apoiadas, 8 foram consideradas elegíveis. Nas artes visuais, foram 8 as estruturas consideradas

para apoio num universo de 31 candidaturas, sendo que destas, apenas 2 não foram consideradas elegíveis.

Na programação foram apresentadas 54 candidaturas, das quais 46 elegíveis, tendo apenas sido apoiadas 13

estruturas. Na área artística do cruzamento disciplinar, circo e artes de rua, as 17 candidaturas foram

consideradas elegíveis, contudo apenas 11 vão receber apoio. Por último, no teatro, das 42 estruturas elegíveis,

17 não foram apoiadas.

Estes resultados agravam ainda mais a já dramática e insustentável situação de largas dezenas de estruturas

de criação artística no País, fragilizam drasticamente o tecido cultural, condenam ao desemprego centenas de

trabalhadores, aumentam as assimetrias regionais e a destruição do que ainda resiste em várias regiões fora

dos grandes centros.

De assinalar que o PCP propôs, no Orçamento do Estado para 2023, que o montante global para o apoio

público às artes fosse de 86 618 521 €, garantindo assim o apoio a todas as estruturas que, consideradas

elegíveis, não obtiveram apoio por falta de dotação orçamental.

As propostas apresentadas pelo PCP em sede de orçamento constituiriam um passo efetivamente

significativo no sentido da criação de condições para a recomposição das estruturas de criação artística. As

posições assumidas por PS, PSD, IL e CH impediram a sua aprovação.

Contrariamente ao que vem sendo afirmado, sempre existiu e continua a haver dinheiro para a Cultura. É

precisamente da persistência e determinação da luta do setor que resultam os anúncios de reforço de verbas

feito pelo Governo. Todavia, esta conquista está longe de ser suficiente para resolver os problemas gritantes

introduzidos pela política de direita e é necessário ir muito mais longe, como demonstram os resultados dos

concursos.

No imediato, urge tomar medidas para evitar que os prejuízos resultantes do concurso sejam consumados,

assegurando condições para o desenvolvimento do trabalho artístico e cultural.

Urge igualmente tomar medidas que possibilitem o financiamento adequado ao apoio às artes e que rompam

com a política de direita, que entende a cultura apenas como uma mercadoria e um instrumento de domínio

ideológico. Assim, é urgente inverter a política de desinvestimento no apoio às artes de caráter profissional que

resultou da política de direita protagonizada por sucessivos Governos PS, PSD e CDS-PP.

O rumo alternativo está na proposta e na ação do PCP: Trata-se da instituição de um serviço público de