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7 DE JULHO DE 2023

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de se notar uma evolução positiva do aleitamento materno em Portugal, os resultados permanecem abaixo das

recomendações da OMS. A meta de aumentar para, pelo menos, 50 % a prevalência de amamentação exclusiva

nos primeiros seis meses de vida até 2025 só será alcançada se a proteção, promoção e apoio ao aleitamento

materno for, de facto, uma prioridade para a nossa saúde pública.

Sendo a recomendação da OMS tão explícita, no que diz respeito ao tempo de duração da amamentação

exclusiva, é urgente tornar essa escolha possível e acessível a todas as famílias, através de uma licença de

parentalidade ajustada a essa realidade: seis meses, remunerados na íntegra, para a mãe (independentemente

da licença que o pai usufrua).

Está na altura de olharmos para as decisões políticas, tendo em conta o superior interesse das crianças, que

são quem devem ser sempre colocadas em primeiro lugar.

Do ponto de vista da saúde materno-infantil

O aleitamento materno é um recurso natural de valor incalculável, porque não só promove a saúde como

previne a doença da mãe e da criança e poupa custos de saúde.

Os estudos feitos, ao longo das duas últimas décadas, têm demonstrado que nenhum comportamento

relacionado com a saúde afeta de uma forma tão variada e marcante o futuro dos dois indivíduos envolvidos.

Em Portugal, não existem até à data estudos que associem a amamentação à redução de gastos com a

saúde, nem com a morbi/mortalidade. Mas a nível internacional os exemplo são numerosos:

— Estima-se que, se aumentássemos a duração da amamentação dos níveis atuais para apenas 12 meses

em cada criança, nos países de rendimento económico elevado e para dois anos nos países de médio

e baixo rendimento salvar-se-iam mais 22 216 vidas por ano.

E porque seriam salvas todas estas vidas?

Pensando exclusivamente na mãe:

— Apenas com os números globais de amamentação que temos atualmente, e que são muito baixos,

consegue-se prevenir 19 464 mortes anuais por cancro da mãe, comparando com um cenário em que

nenhuma mulher amamentasse. Cada 12 meses de amamentação está associado a uma redução de

7 % (95 % CI 3 – 11) na incidência de cancro da mama invasivo. Para o cancro do ovário a redução é

de 30 % (95 % CI 25 – 36) quando associada a períodos mais prolongados de amamentação.

Em relação às crianças:

— A amamentação está associada, consistentemente, com um melhor desempenho nos testes de

inteligência em crianças e adolescentes, com um aumento de 3,4 (95 % CI 2.3 – 4.6) pontos no

quociente de inteligência. E os investigadores encontraram uma relação dose/efeito, atingida através de

amamentações mais prolongadas. Este efeito na inteligência teve repercussões nos ganhos médios

auferidos na adultícia, tendo sido esta consequência atribuída ao aumento da inteligência, com uma

contribuição de 72 %. Fazendo agora as contas a quanto perde um País por ter pessoas menos

inteligentes, encontramos um montante de 302 mil milhões de dólares anualmente ou 0,49 % do

rendimento nacional bruto mundial. As perdas nos países de baixo e médio rendimento, onde Portugal

se insere, seriam 70,9 mil milhões, ou seja 0,39 % do rendimento nacional bruto.

— A amamentação está relacionada com uma redução de 19 % (95 % CI 11 – 27) na incidência de leucemia

infantil.

— Dar leite materno aos recém-nascidos, internados nos cuidados intensivos, reduz a fatura hospitalar em

cerca de 23 mil euros por cada criança.

— Um aumento de 10 % na amamentação exclusiva até aos seis meses, ou o aumento da amamentação

até um ou dois anos (dependendo do País), traduzir-se-ia na redução dos custos de tratamento de

doenças infantis comuns, de pelo menos 312 milhões de dólares nos EU, 7,8 milhões no Reino Unido e

1,8 milhões no Brasil (valores de 2012). A proteção contra a mortalidade e morbilidade, por doenças