O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

II SÉRIE-A — NÚMERO 92

4

Em 2020 foi publicado um estudo na revista científica Animals intitulado Uma Avaliação da Opinião da

Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia que foi redigido por seis investigadores das

Universidades de Santiago de Compostela (Espanha), Universidade de Évora, Instituto Piaget, Universidade de

Guelph (Canadá) e do Instituto Politécnico de Portalegre.

Segundo este estudo, 67 % da população portuguesa considera que as touradas não devem ser permitidas,

principalmente pela questão do bem-estar animal. Apenas 30,3 % consideram que as touradas devem ser

mantidas e 2,8 % dos inquiridos neste estudo não responderam à questão.

O estudo revelou ainda que 56 % dos portugueses consideram que as touradas não favorecem a economia,

62,3 % consideraram que não favorecem o turismo e 67,2 % acham que as touradas não favorecem a cultura.

Setenta e um vírgula quatro porcentos consideraram que as touradas não devem ser financiadas com fundos

públicos e a esmagadora maioria (84,7 %) referiu que os touros sofrem durante as touradas.

Mais recentemente, em 2024, uma sondagem realizada pela Ipsos I&O Public, entre os dias 20 de março e

3 de abril de 2024, confirmou que a maioria da população portuguesa não se identifica com as touradas e

defende que esta tradição deve ser proibida no nosso País.

A sondagem foi realizada em Portugal, Espanha e França, entrevistando um total de 7500 pessoas (2500

portugueses), e revelou que 60 % da população portuguesa defende a abolição das touradas enquanto 71 %

dos portugueses consideram que não deve ser gasto dinheiro público para apoiar a tauromaquia e 74 %

consideram que a União Europeia deve proteger o bem-estar animal no âmbito das tradições culturais.

Entre os 3 países avaliados na sondagem, os portugueses são os que mais concordam com a abolição das

touradas (a par dos franceses), os que mais discordam com o gasto de fundos públicos com as touradas e os

que mais defendem que a União Europeia deve proteger o bem-estar animal nas tradições culturais.

O repúdio da sociedade portuguesa pela violência da tauromaquia tem vindo a manifestar-se, por exemplo,

no meio académico, onde foram abolidas várias «garraiadas académicas», como em Vila Real, Porto, Coimbra,

Évora, Tomar, Viseu ou no Algarve. No caso de Coimbra, em 2018 a Associação Académica promoveu um

referendo no qual 70,7 % dos estudantes votaram contra a realização da garraiada na praça de touros da

Figueira da Foz.

Como forma de tentar perpetuar a tradição tauromáquica, tem sido feito um investimento na promoção das

touradas junto dos mais jovens, quer através da oferta de bilhetes quer com a criação de «escolas de toureio»,

onde se ensinam as crianças a agredir animais.

Os efeitos negativos da exposição de crianças e jovens à violência da tauromaquia, uma atividade que além

da violência contra animais, inclui acidentes de grande impacto com feridos e mortos, estão solidamente

demonstrados.

A Ordem dos Psicólogos já se pronunciou sobre o «impacto psicológico da exposição das crianças aos

eventos tauromáquicos», em junho de 2016, através de um parecer enviado à Assembleia da República,

considerando que a exposição das crianças à violência «não é benéfica para as crianças ou para o seu

desenvolvimento saudável, podendo inclusivamente potenciar o aparecimento de problemas de saúde

psicológica». (sublinhado nosso)

Também a Amnistia Internacional se pronunciou sobre este tema em 2015. A instituição de direitos humanos

emitiu um parecer onde considera que as crianças e jovens não podem participar em touradas por se tratar de

uma atividade violenta e que coloca em risco a sua segurança e saúde. Neste sentido, advertiu a Assembleia

da República e os seus constituintes que «considerem e fundamentem sempre o superior interesse da criança

nos documentos que a estas digam respeito e que façam cumprir tratados e convenções internacionais

assinados pelo Governo da República e ratificados por esta Assembleia».

O carácter violento e sangrento dos espetáculos tauromáquicos realizados em Portugal também foi

reconhecido e contestado internacionalmente pelo Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, que no

último relatório de avaliação de Portugal, publicado em 27 de setembro de 2019, reservou um capítulo à

«violência da tauromaquia» advertindo o Estado português a estabelecer «a idade mínima para participação e

assistência em touradas e largadas de touros, inclusive em escolas de toureio, em 18 anos, sem exceção, e

sensibilize os funcionários do Estado, a imprensa e a população em geral sobre efeitos negativos nas crianças,

inclusive como espectadores, da violência associada às touradas e largadas».

Apesar deste pronunciamento, em maio de 2022, uma criança de apenas 15 anos morreu de forma

extremamente violenta numa largada de touros em Portugal, sendo perfurada na garganta, sem que ninguém