O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

II SÉRIE-A — NÚMERO 168

42

quem é estrangeiro ou diferente, e assistimos ao recrudescimento de discursos negacionistas do Holocausto e

das vidas das suas vítimas.

Em janeiro de 2025, um estudo realizado à escala global no ano anterior pela Anti-Defamation League (Liga

Anti-Difamação, ONG dedicada ao combate ao antissemitismo nos Estados Unidos da América) revela que os

dados sobre aumento de opiniões e comportamentos antissemitas conheceu um aumento muito significativo

desde o último estudo com a mesma escala, em 2014. A partir do estudo foi possível aferir que 46 % dos

inquiridos revela níveis elevados de atitudes antissemitas, um número que sobe 26 % em 2014. Igualmente

preocupantes são os dados relativos ao desconhecimento do Holocausto: uma em cada cinco pessoas não tinha

ouvido qualquer informação sobre o sucedido.

Os dados, quanto a Portugal, são inferiores aos dados globais em qualquer caso: mantêm-se nos 21 % de

2014, quanto às atitudes antissemitas, e apenas 4 % dos inquiridos revela desconhecimento completo do

Holocausto, e os indicadores em que se revelam mais altas as afirmações com conotação antissemita são os

que continuam a reproduzir preconceitos tradicionais que ecoam séculos de ataques relacionados com

concentração de poder económico ou político.

De uma outra perspetiva, um estudo publicado em 2024 pela Agência Europeia de Direitos Fundamentais,

sobre a perceção das comunidades judaicas sobre antissemitismo (o terceiro realizado por esta entidade, depois

de 2012 e 2018), confirma esta tendência. Sendo o trabalho de campo todo anterior a 7 de outubro de 2023 e

aos ataques do Hamas em Israel e ao conflito que desencadearam, e que tem contribuído para extremar ainda

mais posições e para polarizar o debate e as atitudes em vários Estados, o estudo demonstra mesmo que, antes

deste crescimento exponencial mais recente, já os números se revelavam alarmantes em relação ao aumento

do antissemitismo:

• 80 % dos inquiridos considera que o antissemitismo aumento nos seus países nos 5 anos anteriores;

• 84 % dos inquiridos considera que se trata de um problema significativo no seu país;

• 91 % identifica a dissemina de conteúdos antissemitas nas redes sociais com a principal fonte de

preocupação, seguida de antissemitismo em espaço público (78 %), vandalismo e profanação de locais

de culto ou cemitérios (76 %), antissemitismo na vida política (73 %);

• 96 % dos inquiridos deparara com atos de antissemitismo nos 12 meses anteriores, relatando as seguintes

fontes: estereótipos negativos acusando os judeus de deter poder e controlo financeiro, sobre os media,

a política ou economia, negação do direito do Estado de Israel a existir, responsabilizar todos os judeus

coletivamente pelas ações de Israel ou negação ou trivialização do Holocausto.

• O número de inquiridos que sofrera pessoalmente consequências de atos de antissemitismo sobe em

relação a 2018 de 31 % para 37 %, e de 2 % para 4 % quando se trata de atos de violência física.

• Finalmente, o grau de insatisfação com as medidas de combate ao antissemitismo e salvaguarda das

comunidades judaicas por parte dos governos nacionais é significativo, na casa dos 60 %.

Portugal não fez parte dos Estados-Membros incluídos no estudo, que se focou em países com comunidades

de maior dimensão, mas a realidade nacional não se afasta da grande tendência europeia, no que respeita à

preocupação com o tema, como, infelizmente, ocasionais ataques a edifícios das comunidades revelam, ou

como bem documentada existência de mensagens e conteúdos antissemitas online evidencia.

A União Europeia tem acompanhado o tema com preocupação crescente. Como é referido na Comunicação

da Comissão de 5 de outubro de 2021 ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social

Europeu e ao Comité das Regiões que estabeleceu uma estratégia da UE para combater o antissemitismo e

apoiar a vida judaica (2021-2030), apesar de nos últimos 20 anos, o antissemitismo ter vindo a ser abordado no

âmbito da ação da União Europeia de luta contra o racismo, «dado o aumento significativo de comportamentos

antissemitas, os esforços para lhes dar resposta aceleraram nos últimos anos e o combate ao antissemitismo

passou a assumir um lugar proeminente na agenda política da UE.»

Ao longo dos anos, a consciência da necessidade de intervenção tem implicado a adoção de inúmeras

medidas por parte da União Europeia, que culminariam na adoção da referida comunicação estabelecendo a

estratégia Europeia:

• Em 2015, ocorre a nomeação do primeiro coordenador para a luta contra o antissemitismo e o apoio à vida