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Questionado se houve alguma diligência do Governo no sentido de questionar as autoridades sobre a

possibilidade de terem sido encontrados nos destroços do avião documentos de que o Primeiro-

Ministro ou o Ministro da Defesa fossem portadores, que fossem confidenciais e cuja

confidencialidade fosse necessário garantir, respondeu:

«A mim não me foi comunicado nada. A própria existência da mala, só vim a sabê-la muito

mais tarde, não sei se através da imprensa ou, mais tarde, numa das comissões parlamentares

de inquérito. Parto do princípio de que como a Polícia Judiciária esteve no local, terá sido ela a

tomar conta de quaisquer documentos ou pastas ou objetos desse tipo, mas de facto na altura

não nos foi referido nada».

Questionado pelo facto de, no livro de que é autor sobre Camarate, referir que o Ministro da Defesa

tinha suspeitas fundadas que havia irregularidades no funcionamento do FDMU e, conforme também

ali escreveu, desconhecia o decreto-lei que extinguia este Fundo, e tendo em conta que no dia 12 de

novembro o Governo tinha feito uma nota oficiosa a propósito da notícia do jornal Portugal Hoje,

sobre a venda de armas para o Irão, por que razão não sentiu a preocupação de ver o que se passa

com o funcionamento do referido Fundo, sabendo do vazio criado com o desaparecimento do Ministro

da Defesa, respondeu:

«Creio que de facto foi isso que aconteceu. A minha explicação é esta: nem eu, nem nenhum

dos outros membros do governo, nem nenhum dos chefes de gabinete, tinha qualquer

experiência duma situação análoga ou parecida com aquela. Ficamos todos em estado de

choque e vivemos aqueles 30 dias até à formação e tomada de posse do VII governo

Constitucional, presidido pelo Dr. Francisco Pinto Balsemão, ficamos numa situação anómala.

Para uns de grande sofrimento, para outros era de grande mágoa, para outros era de total

desorientação, porque ninguém sabia se a Aliança Democrática ia continuar ou não, quem ia

ser o próximo primeiro-ministro, ninguém sabia se a coligação tinha condições para continuar

ou não, ninguém sabia, refiro-me agora aos ministros em concreto e aos secretários de Estado

se a sua experiência ia acabar. (…) Acresce que, como Ministro dos Negócios Estrangeiros e em

substituição da Defesa Nacional, vivi também horas muito angustiadas, em contato

permanente com o Sr. Presidente da Republica, porque chegavam-me notícias através da

NATO de uma iminente invasão soviética da Polónia, onde o sindicato Solidariedade tinha

tomado o poder ou ganho eleições, já não me recordo, onde o General Jaruzelski tinha acabado

de impor o estado de sítio ou estava na iminência de o fazer e onde no Pacto de Varsóvia se

discutia se se invadia a Polonia ou não. (…) Esta notícia (…) também ocupou uma grande parte

do meu espírito, do espírito do Sr. Presidente da República e das autoridades militares».

Mais esclareceu:

«O país todo, ou pelo menos grande parte dele, viveu também momentos de grande angústia.

Para uns, sobretudo de dor pela morte do Dr. Sá Carneiro e do Eng.º Amaro da Costa, para

outros de apreensão legítima sobre o que poderia resultar daquilo tudo. Não tenho dúvidas

em afirmar que na área do PS e do PCP se pode ter temido que em consequência do que se

tinha passado, viesse a haver um retrocesso no processo democrático português e

eventualmente uma intervenção militar que pusesse fim os suspendesse a vigência da

democracia. (…) Agimos [Governo] sempre na convicção de que as instituições estavam a

funcionar e fariam o seu dever. E se houve matéria que devesse ser levada ao conhecimento

dos ministros ou do primeiro-ministro, ela seria levado ao conhecimento deles. Nalguns alguns

1 DE JULHO DE 2015______________________________________________________________________________________________________________

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