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concluir que ou não havia nada no gabinete do Eng.º Amaro da Costa, relevante, ou ele enviou

diretamente para a Polícia Judiciária, que a mim não me entregou nada, nem me disse que

tinha descoberto isto ou aquilo, ou aqueloutro. Só queria explicar mais uma coisa: o que eu

sabia, à época, é que apenas o Eng.º Amaro da Costa, porque ele mo disse, andava a investigar

o Fundo de Defesa Militar do Ultramar e tinha encontrado aquilo que lhe pareciam

irregularidades no funcionamento desse Fundo, mas eu não sabia mais nada do que isso. Eu

só vim a saber, pelo Relatório da VIII Comissão Parlamentar de Inquérito, é que eu vim a saber

que havia uma contabilidade paralela e que, ao lado da contabilidade oficial, por onde

passavam umas dezenas de milhares de contos, havia uma contabilidade não oficial por onde

passavam milhões de contos. Eu só vim a saber isso pelo Relatório da VIII Comissão

Parlamentar de Inquérito, e por isso é que dei tanta importância, no meu livro, a essa questão.

Que diabo: se a contabilidade oficial só fala dumas dezenas de milhares de contos, e se há uma

contabilidade paralela, ilegal, clandestina, em que se movimentam milhões, este deve ser o

ponto principal a investigar. (….) Não sei se foi investigado, se não; não sei se se chegou a

alguma conclusão, ou não, mas se havia de facto alguma coisa de grave, era essa. Pelo menos

essa. Podiam haver mais algumas. Mas essa era, com certeza, uma questão muito grave. Só

que eu na altura não sabia (…) não me ocorreu que a chave do problema, problema esse que

eu não conhecia nestes detalhes (….) pudesse estar em documentos que tivessem ficado no

gabinete do Eng.º Amaro da Costa».

Interpelado sobre o ter-se questionado à data quanto à possibilidade de atentado, e de qual seria o

seu motivo, respondeu:

«(…) é evidente que sim. Creio que não houve uma única pessoa neste País (…) que não se

tivesse questionado (…). Fiz [uma análise política da situação] e partilhei-a com, pelo menos,

com o Dr. Francisco Pinto Balsemão, que era, como disse, o Ministro mais, de mais hierarquia,

que representava o PSD naquele Governo, e viria a ser o Primeiro-Ministro seguinte, quer com

o Senhor Presidente da República, quer com dois ou três dirigentes do meu partido. Bom, devo

dizer que na altura as nossas informações eram praticamente nulas (…) e a primeira convicção

que tivemos foi a de que, se foi atentado, era contra o Dr. Sá Carneiro, e tinha a ver com o

entusiasmo que levou a que nas segundas eleições que ele disputou tivesse obtido mais uns

milhares de votos – passou, salvo erro, de 45 para 47.5% dos votos, e, portanto, a primeira

interpretação, se foi atentado, deve ter sido para o Dr. Sá Carneiro, para travar este

movimento (…) se houve atentado, foi contra o Dr. Sá Carneiro, e foi por razões políticas (…) o

Dr. Sá Carneiro estava eleito, ele e a Coligação, por mais quatro anos, e portanto isto foi a

nossa primeira interpretação. Admito que noutros quadrantes, designadamente nos

quadrantes na esquerda portuguesa, tenha havido outras interpretações. A primeira, a nossa,

foi essa. E só muito mais tarde, bastante mais tarde, é que se começou a afastar esta hipótese,

e a focar as atenções na hipótese do atentado ter sido contra o Eng.º Adelino Amaro da Costa.

E só aí é que se fez a ligação com as investigações que ele andava a fazer sobre o Fundo de

Defesa [Militar] do Ultramar e as suas irregularidades, as quais nós não sabíamos quais eram.

Mas houve um momento, não sei agora precisar – V.Exas sabem com certeza –, houve um

momento em que uma das Comissões Parlamentares de Inquérito disse ‘isto não deve ter sido

contra o Dr. Sá Carneiro, isto deve ter sido contra o Eng.º Amaro da Costa’. E só a partir daí é

que se começou a dar atenção ao que é que podia ter motivado um atentado daqueles contra

o Eng.º Amaro da Costa, Ministro da Defesa. Mas essa, essa noção foi muito, muito posterior

àqueles primeiros momentos, muito posterior. A convicção generalizada era de que ou foi

1 DE JULHO DE 2015______________________________________________________________________________________________________________

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