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26 DE ABRIL DE 1989

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que aqui está, sejam mais sinceros, saibam ver o que é ou não importante e não falem apenas em nome dos jovens nas campanhas eleitorais.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: — Em face da experiência — a experiência é a mãe de todas as coisas —, não levantamos objecção a que, além de jovens não deputados, outros elementos façam breves perguntas ao Sr. Prof. Agostinho da Silva.

A Sr." Natália Correia: — Sou poetisa... Aplausos gerais.

... e quero começar por saudar o Sr. Prof. Agostinho da Silva por consagrar, na novidade das suas ideias, propostas alternativas que, efemeramente, fluíram na espontaneidade que se soltou do 25 de Abril. Essas vozes logo se apagaram, o que é natural, porque todas as revoluções têm o seu Thermidor.

Mas é importante que essa poética da diferença, que brevemente chispou no 25 de Abril, renasça na visão inovadora de Agostinho da Silva, no seu fascinante contributo para a comemoração do 25 de Abril.

Tem de ser tudo a correr porque nós, deputados, parece que não temos aqui muito tempo para falar, pois hoje é o dia dos jovens...

Estou de acordo com aquilo que o Sr. Prof. Agostinho da Silva disse quanto à questão do trabalho, que é um novo tipo de escravatura criada pelo produtivismo e que a conquista do tempo livre é uma libertação do homem. Mas será que essa libertação do homem proporcionada pelos tempos livres só será possível quando os economistas fecharem os seus escritórios — como muito bem disse — para que a poesia entre na vida?

Ora, o caso é que em Portugal, que nisso não é diferente dos outros países, o economicismo dominante cada vez mais afasta a possibilidade da realização do poético da vida. Que fazer então para conjurar os novos tempos da poetização da vida? Por mim penso que essa obra só pode resultar do entendimento dos poetas e da juventude, uma aliança que consagra a inocência de uma certa juventude que ainda não se deixou seduzir pelos que a promovem para lhe neutralizar a insubmissão do sonho.

Mas é claro que essa aliança dos poetas e da juventude exige uma revolução espiritual, e espiritual, sublinho-o, no que essa revolução se distingue das que a precederam, pois realiza-se no quotidiano, nos comportamentos, no dia-a-dia da vida e na assunção plena dos sentimentos e da paixão.

Aplausos gerais.

O Sr. António José Seguro: — Em primeiro lugar, quero agradecer à Assembleia da República e ao Conselho Nacional de Juventude o facto de terem ajudado na co-organização destas comemorações.

Gostava de fazer a seguinte pergunta ao Sr. Prof. Agostinho da Silva: perante uma sociedade onde se nota uma certa falência das ideologias e onde se começa a assumir que um conjunto de direitos fundamentais, naturalmente nos jovens, não são possíveis de ser concretizados, como é que é possível conciliar o sonho, o direito à felicidade, o direito a ser um cidadão de

corpo inteiro, com esta necessidade, com que nos confrontamos, de termos que nos retardar na nossa participação na sociedade?

O Sr. Nicolau Fernandes: — Venho da Região Autónoma da Madeira a convite da Comissão de Juventude.

Sabe bem, no duplo sentido da palavra, saber e sa-borerar, estar aqui nesta Casa e ouvir uma voz de esperança no Portugal de hoje, como é a voz do Sr. Prof. Agostinho da Silva.

Gostaria apenas de levantar duas questões suscitadas pela intervenção do Sr. Prof. Agostinho da Silva — muitas outras haverá que, certamente, poderiam dar azo a uma discussão. O Sr. Professor falou na origem da propriedade, hoje fala-se do direito à propriedade privada, há tribunais para defender a propriedade privada, há toda uma série de instituições que defendem essa mesma propriedade, sobretudo defendem aqueles que a têm. No parecer do Sr. Professor, gostaria que dissesse para quando os tribunais para os que nada têm.

Outro problema que o Sr. Professor levantou foi o da escolarização ou da instrução. Quanto a mim, não basta discutirmos se há insucesso escolar, importa também pensar que tipo de sucesso escolar existe.

Aproveito esta oportunidade para, publicamente, convidar o Sr. Prof. Agostinho da Silva a ir ali, àquela esquina de Portugal chamada Região Autónoma da Madeira, «sacudir» ideias, discutir acontecimentos, porque os há lá muitos para discutir, para «sacudir».

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Prof. Agostinho da Silva.

O Sr. Prof. Agostinho da Silva: — Mesmo aquilo que se não formulou como pergunta, pergunta foi. Todos os comentários que se fizeram aqui são uma interrogação a todos nós e ao futuro. De nós sabemos apenas que possuímos uma capacidade de entender e uma capacidade de vontade. Do futuro do Mundo sabemos pouco. Então tudo o que fizermos é um jogo, uma aposta para que qualquer coisa se realize.

Dois ou três pontos concretos foram aqui levantados. Um deles, que me tem preocupado muito — e devo dizer que esta palavra «preocupar» que aqui emprego nunca significa «pré-ocupar»; penso nas coisas só na altura de me ocupar, o «pré-ocupar» pouco me interessa —, é exactamente a questão da propriedade da terra.

Cada vez mais me interrogo a mim mesmo sobre como seria possível que Portugal fosse restituído a Portugal. Em tempos longínquos toda a propriedade estava nas mãos do rei; fora da propriedade pessoal que ele tivesse, ele possuía a propriedade do reino. Podia dar as terras por este ou aquele mérito, por uma ou outra vida, e tirar as terras sempre que entendesse que aquele que as ocupava não estava a cumprir aquilo que devia.

Então tenho-me perguntado como é que era possível tentar isso. E, como sempre, julgo que a primeira coisa a fazer não é queixarmo-nos dos outros, mas sim de nós próprios, porque não fazemos isto ou aquilo. Eu, se tivesse os meios necessários para o realizar — felizmente, não tenho, porque a pior coisa que poóe