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II SÉRIE-C — NÚMERO 20

de Abril, aquilo que é e foi fundamental e que, em relação à Revolução, é acessório e conjuntural. Por isso,

bem haja, Prof. Agostinho da Silva!

Sobre o dia 25 de Abril passaram já quinze anos,

houve uns melhores, houve outros piores. Já muitos portugueses, em alturas de maior desalento, se questionaram sobre a validade das suas esperanças, das suas alegrias, no dia 25 de Abril. É sempre fundamental, para que não restem quaisquer dúvidas, fazer o cômputo geral daquilo que nos foi legado pela democracia e pela Revolução, daquilo que é para continuar, definindo as responsabilidades de que cada cidadão, desde essa data até hoje, ficou investido. Nesse sentido, saudamos a iniciativa da reflexão que hoje fazemos. Hoje reafirmamos, para quem já não se lembra, para quem já não sabe e para quem já não acredita, que o 25 de Abril devolveu Portugal aos cidadãos, entregando nas mãos do povo e seus representantes a soberania e a liberdade.

Avaliando hoje, com a objectividade que o tempo já nos permite, tendo em conta que, sem dúvida, a Revolução de Abril merece as flores com que a distinguimos. Independentemente das diferenças ideológicas e partidárias que nos informam, temos de reconhecer que a história de Portugal moderno e a história da democracia deu o seu salto mais qualitativo no dia 25 de Abril de 1974, e nunca depois desse dia.

No entanto, a herança de liberdade, de esperança e de tolerância que a Revolução a todos legou está longe de perfeita e completamente cumprida. Há uma canção, algo antiga, mas que todos temos presente, que dizia que só haveria liberdade e democracia quando houvesse paz, pão, habitação e educação.

Na verdade, a liberdade vai-se perdendo se o exercício dos direitos se contrapõe ao medo de perder o posto de trabalho ou de nem sequer o vir a obter.

A esperança vai-se perdendo se a pobreza persiste nas famílias e o subdesenvolvimento económico, social e cultural se mantém cronicamente no País.

A tolerância vai-se perdendo se nos pequenos e grandes centros de decisão, todos os dias e pouco a pouco, se despreza o diálogo, se degrada o debate, vinga a arrogância, triunfa o maniqueísmo e a radicalização da sociedade.

Minhas Senhoras e meus Senhores: Da assumpção total dos valores fundamentais da democracia e da Revolução serão julgados os jovens de ontem pelos jovens de hoje e de amanhã.

Não raras vezes se ouve dizer que os jovens não sabem, não têm consciência da diferença que existe entre o Portugal do 25 de Abril e o Portugal que teriam se o 25 de Abril não tivesse sido feito. Queremos afirmar aqui que rejeitamos liminarmente estas acusações.

Se é verdade que os jovens já se não referenciam tanto aos ideais que eram o imaginário dos jovens de há vinte anos e já não são revolucionários, é caso para lembrar que foi precisamente o 25 de Abril que permitiu que valores fundamentais, como sejam a democracia, a paz e a liberdade de expressão, se tornassem dados definitivamente interiorizados e aceites na consciência colectiva da juventude portuguesa.

Os jovens não sentem a nostalgia dos pais da Revolução porque são filhos dela. Os jovens hoje já não lutam pelos grandes ideais, mas rebelam-se quando os valores da democracia são violados. E é por isso que

os jovens hoje não acreditam em escolas e em grandes linhas ideológicas, mas juntam-se, associam-se por pequenas causas e para concretizar objectivos. O grande desafio dos jovens de hoje é a Europa e

o aprofundamento das raízes antigas. E um desafio que só foi possível aceitar graças ao 25 de Abril e ao ree-quacionamento internacional que ele nos permitiu obter. À sua maneira, no seu devido tempo, os jovens de hoje estão a continuar o 25 de Abril.

Mas, se queremos que os jovens amem e valorizem o 25 de Abril tão convictamente como aqueles que viveram o anterior regime, há que fazer do dia de hoje a efectiva concretização dos objectivos mais profundos da Revolução. Será justo culpar jovens indiferentes quando o legado democrático se não cumpriu para eles? Quando os próprios educadores e os pais enfrentam o desânimo perante a injustiça social e, inevitavelmente, transmitem esse desalento às novas gerações?

Não há melhor nem mais eficaz forma de provar aos jovens que o 25 de Abril é o maior marco da história de Portugal contemporâneo do que oferecendo-lhes aquela parte da Revolução ainda por conquistar. Como dizia o meu muito amigo e companheiro Marques Júnior, «o 25 de Abril, tal como ontem, mas principalmente mais do que ontem, é, sobretudo, o amanhã».

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: — A intervenção do Grupo Parlamentar do CDS vai ser feita pelo Sr. Deputado Na-rana Coissoró e pelo Sr. Dr. Manuel Monteiro.

Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró, a que se seguirá imediatamente o Sr. Dr. Manuel Monteiro.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): — Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados, Sr. Prof. Agostinho da Silva, jovens convidados: Dizem os sociólogos que os jovens neste final do século XX são os homens ou mulheres de todas as épocas. A resistência quase perfeita a todas as influências do meio, quer natural, quer social, a libertação de todos os constrangimentos que os torna aptos a enfrentar todas as coações externas, com menos remorsos que os seus antecessores e, por isso, com menos sentimento de culpa, são eles senhores de si mesmos, capazes de escolher e perfilhar esta ou aquela crença, esta ou aquela ideologia.

Apesar disso, a vida de cada um de nós depende de uma equação entre o nosso passado e o futuro. Como disse hoje o Prof. Agostinho da Silva, a tentativa de determinar esta equação — expressamente o que é o passado e o que é o futuro — é que permite a cada um de nós alcançar a nossa própria realidade mais íntima.

Se o passado é o que possuímos e o que detemos nas nossas mãos, o futuro é, por definição, uma coisa que não podemos aprisionar. Esta ocupação antecipada com o que ainda não é, mas que se prepara para ser de um momento para outro, representa a nossa autêntica aventura do espírito, mesmo na época, que certamente não é a nossa, em que o futuro se apresenta relativamente claro e prefiguravel nas suas linhas gerais.

A Revolução de Abril começou como um grande momento social, com a erupção da energia, impaciência e esperança do Povo. Decorridos quinze anos, a idade de reposição de uma geração, estabelecida firmemente