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II SÉRIE-C — NÚMERO 20

Qual é o direito desta sociedade em vos fechar na condição de «jovens», de vos colocar na lista de espera para que possam viver plenamente?!

Vocês... Por que é que vos tentam reduzir à situação de uma geração entre parêntesis, uma geração colocada em situação permanente de espera, a quem negam o presente e a quem impõem um futuro?

As dádivas, que com hipocrisia esta sociedade vos dá, são ou não são o canto de uma sereia, que esconde uma submissão alienante de valores, que a juventude, que todas as juventudes de sempre recusaram, como mercadorias impróprias?

Será que vos querem, jovens, no silêncio político? Será que vos querem, jovens, no silêncio social? Mas vocês sabem o que querem, quem são e para onde vão!

E é esse o fascínio, o vosso fascínio, que tendes de trazer ao contexto da nossa vivência sócio-política, estimulando a geração de uma nova ética, para que a democracia portuguesa leve, de facto, a uma participação real de todos os indivíduos na resolução dos pequenos e grandes problemas da nossa sociedade, da nossa terra, da nossa grande casa: o planeta.

Vós, sois vós, precisamente vós que tendes, mais do que ninguém, que recusar os assépticos hinos à democracia, a uma linguagem tecnocrático-política, que só serve para reforçar o actual estado de apatia de grande parte da população portuguesa para a tornar abúlica, apática e indiferente. Nós, vocês não são isso, nem abúlicos, nem apáticos: são a liberdade ondulante do espírito, a libertação sensitiva de um corpo em movimento...

Nós não somos, vocês não. são PEDAP, nem PE-DIP, nem FAOJ, nem OPJ, nem institutos, e não sei mais o quê!...

Vocês são pessoas que vivem, que têm um corpo, um pensamento livre a fazer crescer...

Vocês não pedem a integração no mundo cinzento que já nos cerca. Vocês querem o caminho desimpedido para construírem, não os nossos, mas os vossos anseios!

Eu vi o 25!

Num dia do mês de Abril...

Mas não estamos aqui para recordar a minha história, mas sim a nossa história colectiva!

Estamos aqui porque queremos o presente.

Porque não perdemos a esperança e a vontade! Porque não esquecemos nem negamos! Porque temos a força e sabemos com o saber dos olhos, do coração e do pensamento.

Nós sabemos o caminho que queremos trilhar: as emoções e as liberdades de Abril são também as nossas.

As cores do arco-íris, todas as cores do arco-íris pertencem-nos...

O futuro é de quem sabe sonhar, como dizia o Prof. Agostinho da Silva!

Eu vi o 25 de Abril!

Mas agora gostava muito de ver o vosso!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: — Vamos dar início à terceira parte àa nossa sessão áe hoje, que, como compreenderão, vai ser a mais difícil de organizar. Temos de terminar os nossos trabalhos às 19 horas e 55 minutos, o jantar terá lugar no claustro e o sarau, para que todos estão convidados, será nesta sala.

Depois de uma breve troca de impressões com o Prof. Agostinho da Silva, acordámos numa primeira fase em receber cinco inscrições de jovens não deputados dispersos pela sala, em seguida falava o Prof. Agostinho da Silva e íamos continuando assim por processos interactivos.

Visto não conhecermos os nomes dos jovens que pretendem usar da palavra, estes devem identificar-se.

O Sr. António Sérgio Pinheiro: — Sou representante da Organização de Juventude do Partido Ecologista Os Verdes, ECOLOJOVEM, e gostava de comunicar algumas das nossas propostas, que pensamos serem úteis.

Na continuação do que aqui foi dito e da saudação que foi feita por esta ser a primeira sessão deste tipo aberta a novas presenças de jovens, deixamos a seguinte proposta: que esta iniciativa se repita em dias como sejam o Dia da Juventude, o Dia do Estudante, etc. Pensamos que isso poderia ser importante.

Por outro lado, foi também aqui falada a questão da pedagogia da democracia. Pensamos que essa pedagogia é necessária e que as comemorações do 25 de Abril e do Dia da Juventude não a acabam e não se esgotam aqui. Precisamente por isso, somos também da opinião de que seria útil abolir uma situação que, quanto a nós já está um pouco ultrapassada e que é a de o segredo de Estado dos documentos ter um período de 50 anos. Isto é, propomos que seja possível a todos os jovens e a todas as pessoas interessadas investigar e vir a conhecer agora os documentos que são considerados segredo de Estado até Abril de 1974, permitindo, assim, comparar aquilo que são os documentos históricos, ou que se tornarão históricos, por relatarem a realidade social antes de Abril de 1974, com as pessoas que viveram essas mesmas realidades.

Como incentivo a essa mesma investigação e ao aprofundamento do que foi a realidade histórica antes do 25 de Abril, propomos a criação de prémios para produções literárias e de investigação acerca da realidade social antes do 25 de Abril.

O Sr. Miguel Fontes: — Tenho 18 anos e quando foi o 25 de Abril já não sei bem se unha 3 ou 4 anos.

Ao contrário do que por vezes se diz, embora tendo apenas 3 ou 4 anos, tenho bem fresco na minha memória o que foi o 25 de Abril — há outras coisas que não me ficaram na memória, se calhar, porque ela sabe relativizar o que é ou não importante.

O que senti na altura foi uma grande emoção por parte das pessoas que viviam a meu lado — se calhar, fui privilegiado, se calhar, não — ao sentirem que, finalmente, poderiam expressar livremente o que vinha de dentro delas, o que era mais profundo. Isso foi, de facto, o mais importante que para mim aconteceu no 25 de Abril.

Depois, uma série de coisas aconteceram, aquilo a que chamo «as tricas político-partidárias», que, infelizmente, continuam a existir.

Vou fazer um apelo, um apelo sincero, e gostaria que não me julgassem com uma certa ingenuidade, se calhar, tenho-a, mas não creio que me fique mal, e que é o seguinte: por vezes, libertem-se de uma certa, não sei como chamar-lhe, talvez tecnocracia.... enfim, dêem azo ao que ainda resta de juventude nesta gente toàa