O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

26 DE ABRIL DE 1989

487

a democracia, com os seus controlos políticos e legais, nenhuma dúvida existe de que ela lançou os alicerces de uma ordem melhor e superior para o nosso país e forjou as alavancas do progresso que há-de vir no futuro. Seria um verdadeiro suicídio que este enorme e esperançoso desígnio nacional degenerasse numa autocracia estreita e fria, ainda que de fachada democrática.

Seria o anticlímax do feito heróico de 1974.

Um dia o nosso ilustre convidado de hoje, Sr. Prof. Agostinho da Silva, contou-nos o seguinte: «No dia 25 de Abril encontrei na rua um amigo que me disse: 'É uma revolução.' Depois acrescentou: 'Esta revolução não tem horizonte.' Nunca percebi», disse o Sr. Prof. Agostinho da Silva, «por que é que ele tinha dito aquilo. Na altura pensei: 'Havemos de ver no que isso dá.'»

Não se pode imaginar tarefa mais deliciosa para a juventude do que esta de inventar e sonhar a revolução de 1974.

Pois bem, rapazes e raparigas que estais aqui presentes, vamos a isso!

Aplausos gerais.

O Sr. Manuel Monteiro: — Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Prof. Agostinho da Silva, Srs. Deputados: Antes de mais, os meus sinceros agradecimentos por terem permitido à Juventude Centrista poder também associar-se a esta manifestação e a esta iniciativa.

Para nós, e depois de tudo quanto já foi dito, mais importante do que analisar sistematicamente o passado é tentar ter uma ideia daquilo que deve ser o futuro. Para nós, mais importante do que encontrar culpados ou culpas é pensar Portugal. Para nós, mais importante do que estar sistematicamente a relembrar este dia, aquela hora, aquele minuto, aquele segundo, é, fundamentalmente, saber que Portugal queremos nos anos futuros, em que Europa, em que condições, em que necessidades para o nosso pais.

É que, na nossa perspectiva, não faz sentido pedir--se a participação dos jovens quando aqueles que a representam, apenas e só, fazendo fé e uso das suas tribunas, se limitam a repetir discursos, a repetir frases, a repetir ideias, tantas e tantas vezes ouvidas, como não faz sentido pedir sistematicamente a participação dos jovens no País quando não se lhes dá a liberdade total para que eles o possam fazer, quando a participação dos jovens é claramente condicionada e cada vez mais regulamentada, quando, afinal de contas, não se tenta perguntar a cada jovem, de norte a sul, nas ilhas ou aos emigrantes: o que é para ti Portugal? Que ideia tens tu de Portugal? O que queres de Portugal?

E, não tendo nós os meios e as capacidades de outros, aproveitamos, mais uma vez, a oportunidade que V. Ex.a nos quis dar para, à semelhança do que outrora dissemos, repetir, aqui e agora, que o 25 de Abril, para nós, é uma data importante, que o 25 de Abril permite, afinal, que pessoas de credos políticos diferentes se possam sentar e conversar lado a lado, possam dialogar, independentemente das barreiras ideológicas que as separam e distinguem, independentemente das profundas diferenças que, eventualmente, possam ter e querer para o nosso país.

É isso, para nós, que tem de ser jovem e foi também para isso que o 25 de Abril teve de ser feito. Mas não haverá verdadeiro 25 de Abril se, sistematicamente,

o evocarmos apenas no papel e nas datas históricas. Não haverá verdadeiro 25 de Abril se apenas e só o relembrarmos em sessões solenes e se em cada dia, em cada momento, em cada hora, não tivermos a necessidade e a vontade de dar a mão a todos os jovens que, como também foi dito, independentemente da idade, têm, querem e sentem Portugal!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: — Em representação do Grupo Parlamentar Os Verdes, tem a palavra a Sr." Deputada Maria Santos.

A Sr.a Maria Santos (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Prof. Agostinho da Silva, caros colegas e convidados: Há quem tente manter presente o 25 de Abril considerando que o processo iniciado não se cumpriu. Há quem tente cristalizá-lo no passado, temendo que o processo iniciado se possa vir a cumprir. E há quem o dia 25 seja uma mera folha de calendário, um pouco mais notável que tantas outras.

Seja qual for a maneira como nos posicionemos relativamente aos acontecimentos desse dia, não podemos esconder que eles criaram ruptura no quotidiano de então, fazendo tombar um regime como folhas putrefactas de um Outono tardio.

Os olhos dos homens e das mulheres que viram esse dia, o que eles viram foi a Primavera, e festejaram--na, e dela se apropriaram, e dela fizeram um projecto. Um projecto!

Hoje, aqui, uma comemoração: que é um modo de pôr o passado no presente e dar fugazes cores de actualidade à nossa história.

No entanto, a verdade é que o processo iniciado no dia 25 é muito mais que uma data a comemorar. O conflito desencadeado entre as forças político-sociais opressivas e esse processo libertador prossegue: mesmo se silenciado, em formas que baixam o tom da reivindicação ao tom dos discursos em surdina.

Gerações foram silenciadas por vontades individuais e pela «razão» do terror.

Outras houve que romperam com esses limites cerceadores e quiseram legar as potencialidades de uma vivência social plenamente assumida.

Estas gerações possuíram (e possuem ainda) a certeza do que quiseram e querem construir.

Depois as novas gerações...

Vocês, aqui sentados, olhando-me e eu olhando-os, vocês, que não precisam da liberdade política, porque já a têm, que não receiam os cárceres, a tortura, a guerra, porque tudo isso foi abolido, vocês, a geração de hoje e de amanhã, qual é a vossa revolução? Qual é o sonho que vos possui? Qual é o destino que querem tomar nas vossas mãos? Qual é o mundo novo que querem construir?

E os vossos problemas?

Limitações no ensino, falta de habitação, emprego temporário dado como uma esmola e recebido como um favor!

E o resto?!

E a falta de espaço à expressão, a impossibilidade de actuar autonomamente, a mistificação permanente dos vossos anseios e os sonhos sonhados em frente de um muro sem portas?