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II SÉRIE-C — NÚMERO 20

Portanto, é preciso que se vá para isso como eles foram, com sonho e com objectividade, e, embora haja toda a experiência dos mais antigos, de que é preciso tomar conta, que é preciso ter dentro de nós, é preciso que também haja toda a imaginação da juventude, que ande o mais depressa possível e se veja livre de ser plenamente científica, não desprezando em nada, em coisa alguma, aquilo que é o domínio da ciência, mas veja que isso não a impede de ser poeta, como efectivamente deve ser.

Esperemos que isso se faça, e esperemos que se faça, não pela aceitação de uma palavra ou de um homem, como se ele fosse um profeta seguro, mas pela discussão e pela crítica contínuas daquilo que ele diz para ver se realmente é assim, por que julgamos que, quando eles regressavam da viagem, eram criticados pelo Infante e pelos seus companheiros, por exemplo, pelo que tinham ou não feito, e só assim é que se pode avançar.

Esperemos, portanto, que os jovens que estão nesta sessão e que vão escutar todos os oradores que se seguem — suponho que a minha meia hora está a chegar ao fim— atendam a tudo quanto eles disserem, estejam prontos à crítica, e que o debate seja tão forte que não o possamos prolongar senão até à tal hora de se jantar com comodidade, mas depois de se jantar, de se cear e de se esgotar o dia, espero que nos tornemos a encontrar e que esta discussão, que não significa briga, que não significa desentendimento entre ninguém, pois discutir é apenas sacudir —o verbo latino garante esta possibilidade de significado— ideias, sacudir acontecimentos, permita sacudir-nos a nós próprios, para que não caiamos em alguma espécie de modorra, o que seria inteiramente fatal.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Prof. Agostinho da Silva.

Vamos agora dar início à segunda parte do nosso programa de hoje, pelo que, em representação do Grupo Parlamentar do Partido Social-Democrata, dou a palavra ao Sr. Deputado Carlos Coelho.

O Sr. Carlos Coelho (PSD): — Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados, caros Participantes Convidados, Sr. Prof. Agostinho da Silva: Pretendeu-se, em deliberação de conferência de líderes, introduzir entre o testemunho de V. Ex.a, Sr. Professor, e o debate que se vai seguir o testemunho de jovens representativos dos diversos grupos parlamentares representados na Assembleia da República.

Pela minha parte, devo dizer que é com algum embaraço que aceito este encargo, de fazer o intervalo que será a ligação entre os dois momentos, e me julgo, humildemente, com alguma incapacidade para o fazer. Mas vou limitar-me a dar quatro testemunhos, a propósito do 25 de Abril, daquilo que penso que ele não deve constituir e que deve permitir.

Em primeiro lugar, penso que o 25 de Abril não deve constituir oportunidade para ninguém macular o património histórico comum que ele deve constituir para todos os portugueses. Poi \SS0, o 25 de Abril não deve ser pretexto para confrontações partidárias, para manipulações históricas ou para a tentativa de quem quer que seja de se apropriar de um monopólio de uma data histórica que pertence a todos os portugueses.

O 25 de Abril, na opinião dos jovens sociais--democratas, deve ser um ponto de referência e de encontro entre todos os portugueses.

Em segundo lugar, o 25 de Abril não deve ser uma oportunidade para se esvair em actos formais. Não deixa de ter sentido e não é um acto formal que a Assembleia da República, pela primeira vez, tenha decidido não limitar a comemoração do 25 de Abril à sessão solene no plenário da Assembleia da República e tenha convidado para esta sessão um número apreciável e representativo de jovens portugueses, desde o Norte do País até às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Em 25 de Abril de 1974 eu tinha 13 anos e os jovens que se seguem à minha geração eram então ainda crianças. Para eles as datas fazem parte da história, mas as condições sociais em que hoje vivem e o futuro que os espera são as referências concretas que ficam para julgar este regime.

Uma geração que não viveu a ditadura não sente tanto a liberdade. Não é estranho que assim seja. Quem nunca teve fome não dá tanto valor à comida; quem nunca sentiu frio nunca dá tanto valor ao agasalho; quem nunca esteve preso nunca dá tanto valor à liberdade; quem nunca sentiu a opressão de uma ditadura nunca dá tanto valor à democracia. Não é porque esta geração nunca tenha vivido a ditadura que o valor da pedagogia democrática sobreleva. Em boa verdade, muitas vezes, só damos valor às coisas quando as não temos ou quando as reavemos.

No entanto, todos nós devemos criar condições para lutar a fim de reaver estes valores. Em boa verdade, o momento em que Portugal está e aquele com que estamos confrontados é um momento de aprofundamento e de reafirmação de valores que nos são caros: da liberdade, da igualdade e da solidariedade. De uma liberdade que não seja só a de votar e protestar; de uma igualdade que contemple o valor da diferença e que assente, sobretudo, na igualdade de oportunidades à partida; no valor da solidariedade, que é tanto necessária quanto os projectos políticos têm por raiz o homem.

Sr. Presidente, Srs. Deputados, caros Convidados: A propósito do 25 de Abril e dos jovens do 25 de Abril, é, seguramente, este o momento de reafirmar a necessidade do valor do exemplo na pedagogia da tolerância e na pedagogia do diálogo. Quando falo na pedagogia da tolerância e do diálogo e no valor do exemplo, não estou só a falar do paternalista, daquele das gerações mais velhas, que legam sempre um exemplo às gerações mais novas, mas também a dar o exemplo dos jovens que ajudam a fazer essa pedagogia.

Seja-me permitido nesta cerimónia realçar dois exemplos: um, que se passou há vinte anos, em 1969, na Universidade de Coimbra, quando um jovem estudante se levanta e, perante as figuras mais significativas do regime, desencadeia uma crise política porque diz «Sr. Presidente da República, em nome dos estudantes de Coimbra, quero ter o direito de dizer qualquer coisa em nome dos jovens».

Aplusos.

Vinte anos mais tarde, em 1989, são centenas de milhares de jovens, em todo o Pais, que afirmam a vontade férrea de, com as direcções associativas estudan-