116-(14)
II SÉRIE-C — NÚMERO 13
Tais formas só serão acentuadas se a sequência ui não formar dilongo e a vogal tónica for i, como, por exemplo, argui (1.* pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo).
6. Emprego do hífen (Bases XV e XVII).
6.1 Estado da questão.
No que respeita ao emprego do hífen, não há propriamente divergências assumidas entre a norma ortográfica lusitana e a brasileira. Ao compulsarmos, porem, os dicionários portugueses c brasileiros e ao lermos, por exemplo, jornais e revistas, deparam-se-nos muitas oscilações e um largo número de formações vocabulares com grafia dupla, ou seja, com hífen c sem hífen, o que aumenta desmuserada e desnecessariamente as entradas lexicais dos dicionários. Estas oscilações verificam-se sobretudo nas formações por prefixação e na chamada recomposição, ou seja, em formações com pseudoprefixos dc origem grega ou latina.
Eis alguns exemplos de tais oscilações: ante-rosto e anterrosto, co-educação e coeducaçâo, prê-frontal e prefrontal, sobre-saia e • sobressaia, sobre-saltar e sobressaltar, aero-espacial e aeroespacial, aulo--aprendizagem e auloaprendiiagem, agro-industrial e agroindustrial, agro-pecuária e agropecuária, alvéolo-dental e alveolodental, bolbo-■raquidiano e bolborraquidiano, geo-história e geoistória, micro-onda e microonda; etc.
Estas oscilações são, sem dúvida, devidas a uma certa ambiguidade e falia dc sistematização das regras que sobre esta matéria foram consagradas no texto dc 1945. Toma-se, pois, necessário reformular tais regras dc modo mais claro, sistemático e simples. Foi o que sc tentou fazer cm 1986.
A simplificação e redução operadas nessa altura, nem sempre bem compreendidas, provocaram igualmente polémica na opinião pública portuguesa, não unto por um ou outra incongruência resultante da aplicação das novas regras, mas sobretudo por alterarem bastante a prática ortográfica neste domínio.
A posição que agora se adopta, muito embora tenha (ido cm conta as críticas fundamentadas ao texto de 1986, resulta, sobretudo, do estudo do uso do hífen nos dicionários portugueses e brasileiros, assim como cm jonais e revistas.
6.2 0 hífen nos compostos (Base XV).
Sintetizando, pode dizer-se que, quanto ao emprego do hífen nos compostos, locuções e encadeamentos vocabulares, se mantém o que foi estatuído em 1945, apenas se reformulando as regras de modo mais claro, sucinto c simples.
Dc facto, neste domínio não sc verificam praticamente divergências nem nos dicionários nem na imprensa escrita.
6.3 0 hífen nas formas derivadas (Base XVf).
Quanio ao emprego do hífen nas formações por prefixação e também por recomposição, isto é, nas formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina, apresenta-se alguma inovação. Assim, algumas regras são formuladas cm lermos contextuais, como sucede nos seguintes casos:
a) Emprega-se o.hífcn quando o segundo elemento da formação começa por A ou pela mesma vogal ou consoante com que
termina o prefixo ou pseudoprefixo (por exemplo: anti-hi-giénico, contra-almirante, hiper-resistenle);
b) Emprega-se o hífen quando o prefixo ou falso prefixo termina em m c o segundo elemento começa por vogal, m ou n (por exemplo: circum-murado, pan-africano).
As restantes regras são formuladas em termos de unidades lexicais, como acontece com oiio delas (ex-, sota- e soto-, vice- c vizo; pós-, pré-e pró).
Noutros casos, porém, uniformiza-se o não emprego do hífen, do modo seguinte:
a) Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo lermina cm vogal e o segundo elemento começa por r ou s, estas con-
soantes dobram-se, como já acontece com os lermos técnicos e científicos (por exemplo: antirreligioso, microssistema); b) Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo lermina cm vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente
daquela, as duas formas aglutinam-se, sem hífen, como já sucede igualmente no vocabulário científico e técnico (por exemplo: antiaéreo, aeroespacial).
6.4 O hífen na incUse e Imese (Base XVII).
Quanto ao emprego do hífen na ènclise e na tmese mantêm-se as regras de 1945, excepto no caso das formas hei de, hás de, há de, etc, cm que passa a suprimir-se o hífen. Nestas formas verbais o uso do hífen não lem justificação, já que a preposição de funciona ali como mero elemento de ligação ao infinitivo com que se forma a perifrase verbal (conforme: hei de ler, etc), na qual de é mais procliiica do que apoclítica.
7. Outras alterações de conteúdo.
7.1 [nsersâo do alfabeto (Base I).
Uma inovação que o novo texto de unificação ortográfica apresenta, logo na Base I, é a inclusão do alfabeto, acompanhado das designações que usualmente são dadas ãs diferentes leiras. No alfabeto português passam a incluir-sc também as letras k, w e y, pelas seguintes razões:
a) Os dicionários da língua já registam estas leiras, pois existe um razoável número dc palavras do léxico português iniciado por elas;
b) Na aprendizagem do alfabeto é necessário fixar qual a ordem que aquelas leiras ocupam;
c) Nos países africanos de língua oficial portuguesa existem muitas palavras que se escrevem com aquelas letras.
Apesar da inclusão no alfabeto das letras k, w e y, manliveram-sc, no entanto, as regras já fixadas anteriormente, quanto ao seu uso restritivo, pois existem outros grafemas com o mesmo valor fónico daquelas. Sc, de facto, sc abolisse o uso restritivo daquelas letras, inlroduzir-se-ia no sistema ortográfico do português mais um factor de perturbação, ou seja, a possibilidade de representar, indiscriminadameme, por aquelas letras, fonemas que já são transcritos por outras.
7.2 Abolição do trema (Base XIV).
No Brasil, só com a Lei n.* 5765, de 1?. de Dezembro dc 1971, o emprego do trema foi largamente restringido, ficando apenas reservado às sequências gu e qu seguidas de e ou /, nas quais u se pronuncia (conforme: aguentar, arguente, eloquente, equestre, etc).
O novo texto ortográfico propõe a supressão completa do irema, já acolhida, aliás, no acordo dc 1986, embora não figurasse explicitamente nas respectivas bases. A única ressalva, neste aspecto, diz respeito a palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros com irema (conforme/. mülleriano, dc Muller, etc).
Generalizar a supressão do trema é eliminar mais um factor que perturba a unificação da ortografia portuguesa.
8. Estrutura do novo texto.
Na organização do novo texto de unificação ortográfica oplou-sc por conservar o modelo de estrutura já adoptado cm 1986. Assim, houve a preocupação dc reunir, numa mesma base, matéria afim, dispersa por diferentes bases de textos anteriores, donde resultou a redução destas a 21.
Através de um lílulo sucinto, que antecede cada base, dá-sc conta ao conteúdo nela consagrado. Dentro dc cada base adoptou-sc um sistema dc numeração (tradicional) que permite uma melhor c mais clara arrumação da matéria aí contida.