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de lama, espera occasião para emprehender uma jornada de cincoenta legoas como hão de vir os mais, que não estão costumados a isto, e que não tem feito jornadas? Era querer um impossivel.

Ora, o que seria racional, sé se tivesse feito, era o seguinte. Visto que nós não podiamos fazer que estivessem em Lisboa os Deputados do Norte, não nos deviamos reunir aqui em quanto esses Deputados não chegassem, e em quanto não soubessemos que havia em Lisboa numero sufficiente para a Junta poder deliberar. Não fallo nos 62 nem nos 66; e necessario que haja em Lisboa um numero muito maior, porque se contarmos só o numero fixo, e o mesmo que nada, em adoecendo um ou dois, já não póde haver Sessão. Supponhamos que temos em Lisboa 59 Deputados eleitos pelo Continente, que fallam tres segundo a deliberação da Junta, mas que se sabe que esses tres vem em caminho para a Capital; não e isso bastante para contarmos com o numero, porque no meio da estrada póde tombar-se a sete, em que venham esses tres, molestarem-se e chegarem a Lisboa, mas não poderem vir á Camara. Por consequencia, isso não basta; e necessario para nos reunirmos que tenhamos a certeza de que existe em Lisboa um numero superior aos 72; de outro modo não fazemos nada.

Ora, Sr. Presidente, esta questão do numero é velha; ha 10 annos ou mais que se tracta aqui desta questão; sempre que tem de se constituir a Camara ella apparece. (O Sr. Cunha Sotto-Maior: — É verdade) E verdade; mas o Sr. Deputado é dos que tambem tem fallado sempre nella. (O Sr. Cunha: — Mas tenho-a sempre repellido, tenho fallado para a considerar como uma grande pieguice, e se não fosse o respeito pelos Cavalheiros que estão presentes, era questão que eu tractaria ás gargalhadas).

Isto é uma miseria que só serve de manifestar o nosso estado de atrasamento em todas as cousas; por consequencia a minha opinião era que nós não deviamos tornar a reunir, sem lermos certeza de que ha numero sufficiente para podermos logo começar a funccionar; tudo que não fôr isto, não presta para nada. Pois os Srs. Deputados querem tractar de uma questão de caminhos e de estradas com uma conta de sommar, diminuir, e repartir? O primeiro absurdo que eu vejo em tudo isto é a teima de nos quererem reunir aqui sempre no primeiro dia de Janeiro; quer dizer, em tempo em que ninguem póde andar em Portugal. E que é o que resulta desta Lei, que não é para o nosso estado? E que levamos todo o mez de Janeiro e parte de Fevereiro para nos podermos constituir; trabalhamos Março e Abril, e em Maio já não ha cabeças que possam trabalhar em Lisboa. Isto é exacto. Se nomeassem um Conselho medico para examinar o nosso estado nessa época, estou certo que, segundo todas as regras de Hygiene diria que era impossivel continuarmos a trabalhar, e que a nossa intelligencia tinha descido tres gráos da sua capacidade; acabado o mez de Abril estamos na Costa d'Africa, já não é possivel trabalhar.

Tenho dito já de mais para mostrar a necessidade de esperarmos que haja numero sufficiente para nos constituirmos, e que é necessario fazer conta tambem com as falhas; e necessario contar tambem com a preguiça e má vontade; porque o individuo que é preguiçoso, sendo eleito Deputado, continua a ser preguiçoso, e se o ser eleito Deputado tirasse esse vicio, era muito bom eleger Deputado toda a Nação Portugueza, ou pelo menos uma grande parte della.

Concluindo, declaro que pela minha parte não volto cá mais sem saber que ha numero (Uma voz; — Como se póde saber?) Como! Declarando-o e fazendo-o constar aos Deputados. Pois não vemos o que nos acontece todos os dias aqui? Reunem-se 62 Deputados, e v. Ex.ª abre a Sessão; e um quarto de hora depois um Deputado porque lhe doe a cabeça e está incommodado, vai-se embora. Em seguida e necessario proceder a uma votação, não ha numero porque saíu este Deputado: diz V. Ex.ª — Toque a campainha, vá depressa caçar esse Deputado — mas elle já se tem retirado, não apparece, e nós não podemos dar um passo. Pois não é isto uma miseria? E não se dá isto aqui todos os dias? Não estamos aqui horas e horas á espera de um Deputado para fazer numero? Aqui está presente o nosso Collega o Sr. Julião que foi numero o anno passado: não se lembra, Sr. Julião, que foi aqui recebido quasi com o mesmo alvoroço, com que se recebeu agora a noticia da partida dos Vapôres do Porto para aqui? (Rito)

Não digo mais: tudo isto é eminentemente ridiculo. Não ha numero, e por consequencia V. Ex.ª, deve levantar a Sessão, e não a abrir, senão quando tiver certeza de que existem em Lisboa Deputados sufficientes para a Camara se poder constituir. Esta é a minha opinião.

O Sr. Avila: — (Sobre a ordem). Desejo que a Meza me informe, (se é possivel) qual é o numero de Deputados que já se apresentaram nesta Sessão. O Sr. Presidente: — Já chegaram a apresentar-se 76. O Sr. Avila. — Então estão acabadas todas as questões, e os escrupulos dos Srs. Deputados, porque ha em Lisboa 76 Srs. Deputados; ainda mesmo deduzindo os 8 do Ultramar ficam 68, mais que 62 e que 66, logo podemos funccionar; se vierem todos.

O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Eu não tenho maior empenho em fallar, mas já que me fizeram ter o incommodo de vir aqui, é justo que ouçam as razões que tenho a dar. Se acaso não fossem Cavalheiros tão distinctos, tão circunspectos, tão sisudos e tão respeitados por mim, aquelles que aqui estão presentes, esta questão tinha-a tractado ás gargalhadas. Eu disse n'um destes dias que me parecia incrivel que 60 e tantos homens estivessem seriamente a tractar de uma questão futil em si, e inutil em seus resultados. (O Sr. José Estevão: — Todos a teem tractado) Mas eu tractei-a admirado e espantado que com este Sol, que nos allumia em 1853, viessem os Deputados eleitos com uma questão, que parece incrivel se trouxesse a terreno, quando a lettra do Decreto é tão clara, que eu em vista della e dos poucos Deputados que havia na Casa, propuz a v. Ex.ª (não sei se está lembrado) que não viessemos aqui, senão quando houvesse o numero de que falla o Decreto. Não tenho culpa de que esta questão aqui viesse; não a queria tractar; e se nos tivessemos circunscripto rigorosamente aos nossos deveres, o que acontecia? Vinhamos para a Camara, V. Ex.ª locava a campainha e dizia está aberta a Sessão; o Sr. Secretario fazia a chamada, e dizia simplesmente ha 50 ou 60 Deputados, e por consequencia V. Ex.ª dizia — Não ha numero. Cada um pegava no seu chapeo e íamo-nos embora. Era esta a cousa mais logica que se devia fazer. Não sei a razão, porque appareceu esta discussão, a não