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Continuam os documentos que se publicam em virtude da resolução da camara dos senhores deputados

Ill.mo sr. — Diz Custodio José Alvares de Matos, de Villa Pouca de Aguiar, que precisa que por este juizo se proceda a exame de corpo de delicto indirecto com as testemunhas abaixo indicadas, sobre os factos seguintes:

Se a camara municipal d'este concelho de Villa Pouca de Aguiar designou as assembléas eleitoraes para a eleição da camara municipal do biennio de 1864 e 1865, em sessão de 9 de novembro de 1863, cuja eleição teve logar no dia 22 do referido mez de novembro, e se mandou affixar os respectivos editaes com a bastante antecipação de oito dias.

Se designou as quatro assembléas de Villa Pouca, Tellões, Alfarella e Urêa de Bornes, nas respectivas igrejas d'estas povoações, templos espaçosos e accessiveis aonde sempre as eleições se costumavam fazer, sendo composta a primeira assembléa das freguezias de Villa Pouca, Bornes e Affonsim; a segunda das freguezias de Tellões, Soutello, Goivães, Santa Martha e Parada de Monteiros; a terceira composta das freguezias de Alfarella, Tres Minas e Urêa de Jalles; e a quarta composta das freguezias da Urêa de Bornes, Valloura. Capelludos, Bragado e Pensalvos, tendo a primeira 264 eleitores, a segunda 413, a terceira 345 e á quarta 363.

Se todas as freguezias estavam ou não mui proximas, e até confinantes, da freguezia (sede da assembléa), excepto a freguezia de Parada de Monteiros, comprehendendo uma só povoação de 36 eleitores que algum tanto mais distava da séde.

Se o conselho de districto alterou para tres estas quatro assembléas com a sua sede, uma n'esta Villa Pouca de Aguiar, na casa particular e habitada de Antonio de Sousa Sampaio, composta das freguezias de Villa Pouca, Soutello, Goivães e Santa Martha; outra na igreja de Pensalvos, composta das freguezias de Pensalvos, Affonsim, Tellões, Parada de Monteiros e Bragado; e outra na capella de Bornes e não na igreja parochial, composta das freguezias de Bornes, Urêa de Bornes, Valloura, Capelludos, Tres Minas, Alfarella e Urêa de Jalles, vindo a assembléa de Bornes a comprehender o numero de 675 eleitores.

Se a freguezia de Tellões, comporta de 185 eleitores, que, pela designação da camara, era sede da assembléa, dista da sede (Pensalvos), designada pelo conselho de districto, 12 a 15 kilometros, e tinham alem d'isto os eleitores de atravessar a assembléa de Villa Pouca de Aguiar.

Se as freguezias de Tres Minas, Alfarella e Urêa de Jalles que, pela designação da camara, formavam de per si só uma assembléa, distavam tambem de Bornes, sede formada pelo conselho de districto, 12 a 15 kilometros.

Se os editaes d'esta alteração do conselho de districto foram afixados tres dias antes do da eleição.

Se a designação das assembléas feita pela camara era incomparavelmente mais legal e commoda para os povos do que a feita pelo conselho de districto, já pela mui pouca distancia em que ficavam as freguezias da sede da assembléa na divisão feita pela camara, distancia que se tornou mais grande na alteração feita pelo conselho de districto, principalmente respeito ás freguezias de Tellões, Tres Minas, Alfarella e Urêa de Jalles, que comprehendem 528 eleitores, já porque são mais espaçosos e accessiveis os locaes designados pela camara do que os outros designados pelo conselho de districto, e já porque a grande freguezia de Tellões teve assim de atravessar a assembléa de Villa Pouca de Aguiar para ir votar á de Pensalvos, a a eleição de Villa Pouca foi feita em uma casa particular.

Se o conselho de districto para esta alteração não foi composto dos vogaes effectivos, em rasão de serem falsamente dados de suspeitos como influentes na eleição camararia d'este concelho, tomando isso como pretexto para os expulsar do conselho de districto, e poder este ser composto dos substitutos da facção do governador civil e do administrador d'este concelho, pelo qual consta foi feita a reclamação para o conselho de districto sobre a designação das assembléas feita pela camara.

Se na assembléa de Pensalvos, designada pelo conselho de districto, houveram duas mesas e duas eleições, uma presidida por José Xavier de Miranda Athaide Mello e Castro, e outra pelo vereador da camara Balthazar Dias Carneiro, installando-se esta segunda mesa á hora competente, marcada no edital convocatorio; e a outra, com muita antecipação, á hora marcada no referido edital, e logo ao nascer do sol.

Se na igreja de Pensalvos foi collocado um relogio de sala pelo regedor da freguezia, o qual andava adiantado mais de duas horas, o que se conhecia, já pelo sol, já por varios relogios de algibeira, que ali appareceram e já porque o dito relogio, havendo ainda muito sol, marcava sete horas da noite.

Se os dois logares de Pensalvos e Bornes eram aquelles d'entre os outros do concelho, em que o administrador tinha os seus principaes influentes e todos os eleitores de ambos elles, e o restante povo eram seus partidarios.

Se na assembléa de Bornes, logo para a formação da mesa, appareceram alem dos eleitores muitas pessoas assalariadas do lado do administrador que não eram eleitores, fazendo grande tumulto e vozearias, de que resultava não poder ser o presidente obedecido.

Se no acto da eleição o reitor da freguezia de Bornes e outros agentes do administrador do concelho pretenderam dar as listas aos eleitores á bôca da urna, e sendo advertidos com delicadeza e moderação pelo eleitor Francisco Antonio de Madureira, foi este atacado dentro do templo com uma faca, entrando logo dentro do mesmo templo uma grande turba de gente armada commandada, ora pelo regedor da freguezia, ora pelo administrador ad hoc Francisco de Assis Teixeira de Miranda, sem que o presidente a requisitasse.

Se logo no principio da eleição foi collocada junto do templo, em que ella se fazia, uma pipa de vinho pelo administrador e seus agentes, aonde os seus partidarios iam beber quando queriam.

Se a referida gente armada do lado do administrador esteve sempre junto ao adro em roda da capella da eleição, com armas aperradas, chegando a bater-se algumas para cidadãos inermes da opposição.

Se o regedor da freguezia de Capelludos e o professor de ensino primario do logar de Carrazedo, Urbano José Rodrigues, coadjuvados pelo reitor de Bornes, Antonio dos Santos Lopes, e padre Caetano de Faria, do logar de Bornes, e todos do partido do administrador, fizeram passar por uma ala formada dentro do templo um grande numero de eleitores, aos quaes deram as listas á bôca da urna, dizendo em altas vozes que para assim o fazerem tinham ordem do governador civil e do administrador do concelho.

Se as deliberações da coesa da assembléa de Bornes foram sempre desobedecidas pelos agentes do administrador, e principalmente quando esta deliberou conduzir a urna para melhor guarda, para a casa do cidadão padre Lino Candido Machado, ao que se oppozeram tumultuariamente os acima ditos reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo e policia armada, a qual espancou eleitores, entre estes a João dos Santos Soares, prendeu cidadãos, e afugentou a mesa e influentes opposicionistas, perseguindo-os na assembléa e até nas casas para onde se refugiaram.

Se no dia 22, apesar de ter logar toda a recepção das listas na assembléa de Bornes, foi ou não feita n'esse dia a contagem das mesmas.

Se a urna em que ellas ficaram foi ou não mal guardada, em rasão de serem afugentados e perseguidos os mesarios da opposição e os influentes da mesma que então ali estavam.

Se na noite do dia 22 se postaram piquetes de policia nas ruas e becos do logar de Bornes, sendo preso e espancado tudo que pertencia á opposição, como aconteceu a Francisco Paredes, creado do eleitor Francisco de Paula Carneiro Leite.

Se isto mesmo aconteceu ainda no dia 23 em que durava a eleição de Bornes, sendo preso José Sergio Rodrigues,

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portador de um officio do escrutinador da opposição, o dr. Paulo de Sousa Canavarro, para o presidente da mesa, em que lhe annunciava que por coacção não podia comparecer, o qual, preso juntamente com mais dois creados do dito escrutinador, que era irmão do administrador do concelho, foram por este presos e mandados conduzir para as cadeias de Villa Pouca de Aguiar, aonde os teve presos arbitrariamente tres dias, e passados elles com a mesma arbitrariedade os mandou soltar sem que lhes formasse culpa.

Se no dia 23, durando ainda a eleição de Bornes, o presidente da mesa foi ameaçado e insultado por pessoas do partido do administrador.

Se no mesmo dia 23 de novembro, na eleição de Bornes a contagem das listas foi feita pelos acima ditos professores Urbano José Rodrigues e João José de Sousa Canavarro Leite, sem que fossem mesarios, e ambos do partido do administrador do concelho, e o segundo até parente proximo; e se durante a contagem das mesmas estes e o escrutinador José Joaquim de Sousa Machado, tambem do partido do administrador, as trocaram e substituiram, tirando muitas pertencentes á opposição, lançando outras das do partido do administrador.

Se na eleição de Bornes as listas deixaram de ser queimadas na presença da assembléa, sendo guardadas umas nos bolsos dos mesarios que pertenciam ao partido do administrador, e outras mettidas em uma gaveta em que ficaram.

Se sim, ou não, na assembléa de Bornes foram affixados todos aquelles editaes que a lei manda affixar.

Se o presidente da assembléa de Bornes, com a devida antecipação, requisitou ao general da divisão militar força para o auxiliar na manutenção da ordem e da liberdade eleitoral, e se este a não deu por dizer que tinha officio do governador civil do districto para sómente a pôr á disposição do administrador do concelho, a quem elle presidente a devia requisitar.

Se o dito presidente a requisitou depois ao administrador do concelho, achando-se a força em Villa Pouca, e este a não deu, conservando-a em Villa Pouca até á tarde do dia 22, sem que o presidente da assembléa d'esta Villa lh'a requisitasse, ou ella ali fosse necessaria, visto que n'esta assembléa não havia receio de alteração da ordem.

Se o administrador do concelho, acompanhado de seus agentes, andou pelas portas dos eleitores com o fim de engajar votos para a eleição camararia; e se por uma d'estas occasiões chegou a offender corporalmente ao eleitor Francisco Pinto, do logar da Freixeda, por este lhe dizer que não podia votar com elle, por já ter promettido o voto a seu irmão o dr. Paulo de Sousa Leite Pereira Canavarro.

Se o administrador do concelho se serviu, ou não, da arma do recrutamento para o fim de engajar votos, por elle e por seus agentes; e se é verdade, pelo uso d'esta arma, achar-se agora ao serviço do eleitor Manuel Machado, do logar de Guilhado, um refractario, por nome José, que já tinha sido seu creado, e que até já tinha sido conduzido preso para a junta de revisão, conseguindo no caminho fugir aos guardas; cujo eleitor por este motivo votou a favor do administrador, sendo certo que este refractario ainda ha poucos tempos, e depois da eleição, recebeu na presença do administrador certos dinheiros que lhe deviam varios individuos do logar de Guilhado, os quaes o administrador do concelho tinha mandado embargar na mão dos mesmos, para o fim de serem applicados para o pagamento do preço da substituição até onde chegassem.

Se o administrador do concelho ía ou não algumas vezes a Villa Real receber instrucções do governador civil, para o fim do vencimento da lista camararia, e isto tanto antes como depois do dia 22 de novembro, affoutando-se elle e seus agentes com a protecção do governador civil do districto, e por isso:

P. a v. s.ª, sr. juiz eleito da freguezia de Alfarella se digne proceder ao exame com as testemunhas abaixo indicadas, designando dia para o mesmo e que depois de concluido se lhe entregue. — E. R. M.ce

Designo para o exame o dia 26 do corrente, pelas dez horas da manhã, em minha residencia. Façam-se ás testemunhas as devidas intimações. Alfarella, 24 de janeiro de 1864. — Monteiro Girão.

Testemunhas — José Joaquim Teixeira Romão, proprietario de Raiz do Monte; José Manuel Teixeira Coelho, dito, Campo; Manuel Martins da Fonte, dito, Barrella; padre José Joaquim Fernandes, presbytero, dito; Manuel Martins Rodrigues, proprietario, Barrella; padre Leonardo Rodrigues de Macedo, presbytero, Granja; Felix Borges, lavrador, Revel; José Bernardo Borges, dito, dito; João Manuel Gonçalves Ferreira, proprietario, dito; padre Luiz Bernardo Taveira de Miranda, presbytero, Moreira; padre Antonio José Ribeiro, presbytero, Moreira; João José Gomes Teixeira, proprietario, Alfarella. = O requerente, Custodio José Alvares de Matos.

Citei, de que dou fé, hoje n'este logar de Alfarella, em suas proprias pessoas, a José Joaquim Teixeira Romão, José Manuel Teixeira Coelho, Manuel Martins da Fonte, padre José Joaquim Fernandes, Manuel Martins Rodrigues, padre Leonardo Rodrigues de Macedo, Felix Borges, José Bernardo Borges, João Manuel Gonçalves Ferreira, padre Luiz Taveira de Miranda, padre Antonio Ribeiro e João José Gomes Teixeira, que a todos intimei neste logar de Alfarella, na fórma do despacho retrò que lhe li e declarei todo o seu conteudo como n'elle se continha, de que tudo bem scientes ficaram, e reconhecendo suas identidades assignaram aqui comigo. Alfarella, 25 de janeiro de 1864. E eu Manuel Martins de Macedo, escrivão, que o escrevi e assignei. — Padre Leonardo Rodrigues de Macedo. — João José Gomes Teixeira. — O padre Antonio José Ribeiro. — João Manuel Gonçalves Ferreira. — Padre Luiz Bernardo Taveira de Miranda. — O padre José Joaquim Fernandes. — Manuel Martins Rodrigues. — Manuel José Martins da Fonte. — José Bernardo de Borges. — Felix Borges. — José Manuel Teixeira Coelho. — José Joaquim Teixeira Romão. — Manuel Martins de Macedo.

Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1864, aos 26 dias do mez de janeiro do dito anno, n'este logar de Alfarella de Jalles, concelho de Villa Pouca de Aguiar, e casas de morada de Antonio Pinto Monteiro, viera o juiz eleito d'esta freguezia, aonde eu Manuel Martins de Macedo, escrivão do seu cargo, vim para se proceder á inquirição das testemunhas dadas a rol sobre o conteudo no requerimento junto. E para constar mandou elle juiz fazer este auto, que eu Manuel Martins do Macedo, escrivão, fiz e assignei, era ut supra =. Manuel Martins de Macedo.

Primeira testemunha

José Joaquim Teixeira Romão, viuvo, proprietario do logar de Raiz de Monte, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que elle assim prometteu debaixo do juramento recebido. Disse ter cincoenta e tres annos de idade e disse que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, por ser publico e notorio, que a camara municipal d'este concelho tinha designado, em tempo competente, quatro assembléas para a eleição da camara que havia de servir no biennio de 1864 o 1865, uma em Villa Pouca de Aguiar, outra em Tellões, outra em Alfarella de Jalles e outra em Urêa de Bornes, nas igrejas das mesmas, compostas das freguezias declaradas no requerimento, o que tudo foi annunciado por editaes postos oito dias antes da eleição que se havia de fazer no dia 22 de novembro do anno de 1863, pelas nove horas da manhã; e depois os vogaes substitutos do conselho de districto e não os effectivos reduziram a tres as quatro assembléas, mandando fazer uma em Villa Pouca de Aguiar, na casa de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos e outra na capella da Senhora do Rosario de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento; esta mudança só foi annunciada tres dias antes da eleição; que as assembléas destinadas pela camara eram mais favoraveis á commodidade dos povos, principalmente aos das freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Minas, porque alguns com esta mudança tiveram de andar muito maior distancia; que sabe, pelo ouvir geralmente, que na igreja de Pensalvos houvera em, dois mezes duas eleições, uma feita ao nascer do sol, presidida por um dos eleitores e formada muito antes da hora marcada, e outra formada na hora marcada, presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que ao pé da capella de Bornes, aonde se fazia a eleição, estava uma pipa de vinho posta ali por ordem do administrador do concelho e seus influentes para ali beberem todos aquelles que votavam com elle; que tambem sabe, pelo ver, que antes de se formar em Bornes a mesa da eleição houveram grandes tumultos causados por muitos eleitores da facção do administrador do concelho e por outros do seu partido que não eram eleitores, e foram para ali de proposito para aterrar e afugentar os que lhe eram oppostos, vindo muitos d'elles armados; estas desordens repetiram-se por mais vezes, e até não só aperraram as armas contra alguns homens armados, mas tambem entraram armados na capella, de modo que fizeram interromper a votação na freguezia d'elle testemunha; que sabe, pelo ver, que muitos dos influentes do administrador davam as listas á porta da capella da eleição, e mesmo dentro d'ella á vista de todos; que sabe, pelo ouvir, que proximo á noite do dia 22, o tumulto augmentára que houveram pancadas, que houveram presos, que o doutor Paulo fóra ameaçado e de certo seria victima se não fugisse, porque foi perseguido e procurado, e que fóra tão atormentado que no dia seguinte não voltára á eleição, sendo elle um dos vogaes da mesa; e tambem sabe, pelo ouvir, que no dia 22 de novembro não se fizera a contagem, nem a extracção das listas, e que no dia seguinte estas operações foram feitas por alguns que não eram vogaes da mesa, e que até leram e contarem como lhe parecia; que sabe que o administrador do concelho andava pelos povos a pedir votos para a eleição da camara, fazendo promessas a uns e ameaçando outros com o recrutamento, contribuição industrial, e com o que lhe lembrava; e tanto é verdade que fallando d'elle a Manuel Machado, do logar de Guilhado, para que votasse na sua lista, e este recusando de o fazer, prometteu-lhe de lhe consentir em casa um creado que lhe tinha mandado prender para soldado, e de lhe entregar certo dinheiro pertencente ao mesmo creado se votasse comsigo, e com esta promessa elle dito Manuel Machado votou com elle, e o creado veiu para casa do seu amo; tambem sabe que no logar de Bornes e Pensalvos tinha o administrador do concelho os seus maiores influentes, e os que não eram eleitores, eram seus partidarios. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, que o escrevi.

— Monteiro Girão. — José Joaquim Teixeira Romão. — Manuel Martins de Macedo.

Segunda testemunha

José Manuel Teixeira Coelho, casado, proprietario do logar de Campo, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos, e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que elle assim prometteu debaixo do juramento recebido; disse ter cincoenta annos de idade, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, por ser publico e notorio, que a camara municipal do concelho de Villa Pouca de Aguiar designara quatro assembléa, para a eleição da camara que havia de servir, no biennio de 1864 e 1865, o que se fez publico por editaes affixados oito dias antes do marcado para a eleição, que era o dia 22 de novembro de 1863, uma d'ellas em Villa Pouca, outra em Tellões, outra em Alfarella de Jalles e outra na Urêa de Bornes, compostas das freguezias declaradas no mesmo requerimento; porém depois pelos vogaes substitutos e não pelos, effectivos do concelho de districto foram aquellas quatro assembléas reduzidas a tres, uma em Villa Pouca na casa de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos e outra na capella da Senhora do Rosario em Bornes, compostas das freguezias declaradas no mesmo requerimento, e que esta reducção foi prejudicial aos eleitores das freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella. de Jalles - e Tres Minas, em rasão da desmarcada lonjura em que os poz, alem de outros incommodos; que sabe, pelo ouvir geralmente, que na igreja de Pensalvos houvera no mesmo dia duas mesas de eleição, uma feita ao nascer do sol, antes da hora marcada pelos eleitores, presidida por um d'elles, e outra feita á hora marcada e presidida por um vereador da camara; que sabe pelo ver que ao pé da capella de Bornes, aonde se fazia a eleição no dia 22 de novembro, estava uma pipa de vinho, aonde iam beber quando queriam aquelles que votavam com o administrador do concelho, a qual fóra ali posta por ordem do mesmo e de seus influentes; que antes de se formar a mesa da eleição houveram ali varios tumultos de gente amotinada, compostos de muitos eleitores e outros que o não eram, e foram para ali de proposito para armar desordens, muitos d'elles armados; o socego publico foi alterado por varias vezes por aquella gente sem que se obedecesse á voz do presidente, e tanto assim que quando votava a freguezia d'ella testemunha, augmentou o barulho, gritaram ás armas e correram muitos homens com armas aperradas contra os que estavam no adro, e até alguns entraram pela capella dentro em tal desordem; que vira entregar listas no adro e á porta da capella, e mesmo dentro d'ella, pelos agentes do administrador, havendo d'este abuso uma leve admoestação pelo eleitor Francisco Antonio Madureira; renovou-se o alvoroço, houve vozerias, e foi este eleitor atacado com uma faca que o não feriu porque alguem lhe valeu; que sabe, pelo ouvir, que na mesma noite ao deliberar se sobre a guarda da urna, houveram novas desordens, houveram feridos, houveram prisões, e que o dr. Paulo fóra ameaçado e perseguido e conseguira fugir, e fóra tão atormentado que no dia 23 não voltára á eleição, sendo elle um dos vogaes da mesa; que as listas não foram contadas no dia da -votação, e que no dia seguinte a contagem, a leitura e a escripturação fóra feita como quizeram o, administrador e seus agentes, funccionando como vogaes alguns que o não eram; que na noite do dia 22 houveram piquetes nas ruas e becos de Bornes, formados dos partidarios do administrador, pois que todo o povo é seu; que sabe que o administrador andára pelos povos do concelho pedindo votos para a camara, acompanhado dos regedores e influentes, ameaçando com o recrutamento e tributos aquelles que lhe faltassem, e que ouvira dizer a Manuel Machado, do logar de Guilhado, que o administrador lhe pedíra o voto e elle lh'o negára, porém este lhe promettêra de lhe consentir em casa um creado, que lhe tinha mandado prender, e de lhe entregar um dinheiro do mesmo creado; se assim lh'o fizesse votaria com elle, e depois soube que o creado estava em casa do tal Manuel Machado, e que este votára com elle. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento pelo achar conforme, depois de ser lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Monteiro Girão. — José Manuel Teixeira Coelho. — Manuel Martins de Macedo.

Terceira testemunha

Manuel Martins da Fonte, casado, proprietario, do logar da Varella, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos, e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que assim prometteu debaixo do juramento recebido; disse ter trinta e nove annos de idade e que não era parente do requerente, e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, por ser publico e notorio, que a camara municipal designara quatro assembléas para a eleição da camara, que havia de servir n'este concelho no biennio de 1864 e 1865, uma em Villa Pouca de Aguiar, outra em Tellões, outra em Alfarella de Jalles, e outra na Urêa de Bornes; o que tudo se fez publico por editaes affixados oito dias antes do dia da eleição, que era o dia 22 de novembro de 1863, cujas assembléas teriam logar nas igrejas das localidades ditas, e eram compostas das freguezias declaradas no requerimento junto; porém depois o conselho de districto, em sessão composta dos vogaes e substitutos e não dos effectivos, reduziu a tres assembléas aquellas quatro, formando uma em Villa Pouca de Aguiar, na casa de Antonio Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos, e outra na capella de Nossa Senhora do Rosario de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento junto, porém esta resolução foi mal feita pelos encommodos causados a muitos eleitores, principalmente aos das freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Mines, em rasão das grandes distancias que tinham de andar, e outros vexames bem sabidos; que sabe, pelo ouvir, que na igreja de Pensalvos houvera no mesmo dia duas mesas de eleição, uma formada ao nascer do sol, antes da hora marcada, presidida por um dos eleitores, e a outra formada á hora marcada, presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que em Bornes, junto ao adro da capella da eleição, estava uma pipa de vinho, e que chegando-se a ella pediu lhe vendessem um quartilho de vinho para beber, e

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por um homem que estava ao pé d'ella lhe fôra dito que aquelle vinho não se vendia, que se dava aos que votassem com o sr. administrador, e na realidade assim era; mas vira por varias vezes o povo em adjuntos, armando barulhos, levantando vozes; chamando ás armas, e correrem muitos homens armados sem ordem, com as armas aperradas entrar pelo adro; e até ha capella; ameaçando em altas vozes tudo o que; não fosse do partido do sr. administrador; estas desordens eram armadas por muitos eleitores, e por outros muitos que não sendo eleitores ali concorreram dá facção do administrador, do modo que as decisões da mesa não se cumpriam, a vontade da freguezia d'elle testemunha foi interrompida pelos alvoroços d'aquella gente, pretendendo dar, como deram; muitas listas no adro, á porta da capella e dentro ella; obrigando até os eleitores a ir com a mão no ar levando as listas á vista de todo povo, até á bôca da urna; e dizendo «mão no ar»; e como um dos eleitores assim constrangido pretendesse engana-los, levava na palma da mão outra lista coberta com o dedo pollegar, e quando quiz lançar esta lista foi conhecido por elles, e apupado «é falso, é falso», e que sabe pelo, ver; que o regedor de Capelludos e o mestre escola foram os que mais se distinguiram n'estas e outras acções, não porque os conheça, mas porque perguntando 1 depois, quem elles eram, lhe foi dito que era o regedor de Capelludos e o mestre escola não sei d'onde; mais disse, que no meio d'estas desordens que elle testemunha suspendêra o braço de um João; de Eiriz, que puxara por uma faca contra Francisco Antonio de Madureira; mais disse, que tendo a mesa deliberado que a urna fosse guardada em casa do padre Lino, armou-se um tal alvoroço; que foi uma completa confusão; as listas não se contaram; o presidente em vista da deliberação da mesa tomou a urna para a levarem a casa do padre Lino, o reitor de Bornes espavorido clamou em altas vozes «d'aqui não sae»; o dr. Paulo foi ultrajado de palavras, e vendo que a desordem augmentava pôde fugir coberto por alguns amigos; foi perseguido e seria victima se apparecesse; houve feridos, presos, e mais desordens haveria se não chegasse a tropa; houve piquetes nas ruas e becos de Bornes, feitos por aquella gente; que elle testemunha pernoitara n'aquella noite em casa de Caetano de Madureira, de Eiriz com outros amigos, e juntamente com o dr. Paulo; mas este estava tão afflicto e aterrado que dizia que no dia seguinte não voltava á eleição, e assim fez, officiando ao presidente que não vinha por reputar sua existencia em perigo; mais sabe, pelo ouvir, que no dia seguinte foram contadas as listas, lidos e escriptos os nomes de modo que o administrador e seus influentes quizeram, figurando de vogaes da mesa homens que o não eram, e inteiramente suspeitos por serem dos mais assanhados influentes; e mais não disse; e assignou este seu depoimento pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi; mais disse que era publico é notorio, por modo que não póde negar-se, que o administrador do concelho por mais de uma vez andára pelos povos do concelho acompanhado pelos regedores, cabos e mais influentes a pedir votos para a eleição da camara, e portal occasião uns promettia livrar do recrutamento aos que já estavam sorteados, a outros ameaçava que havia de fazer soldados aquelles mesmos que foram livres na junta districtal, que as resalvas passadas pela camara não valiam nada, a outros Cora as industrias; emfim não havia promessa que não fizesse, nem ameaça que omitisse para lhe prometter o voto. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão, que o escrevi. — Manuel José Martins da Fonte. — Monteiro Girão. — Manuel Martins de Macedo.

Quarta testemunha

O padre José Joaquim Fernandes, presbytero do logar da Varella, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos; e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que prometteu debaixo do juramento recebido; e disse ter quarenta e seis annos de idade, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, por ser publico e notorio, que a camara municipal d'este concelho havia deliberado e designado quatro assembléas para a eleição da camara que havia de servir no mesmo concelho no biennio de 1864 e 1865; uma em Villa Pouca de Aguiar, outra em Tellões, outra era Alfarella de Jalles e outra na igreja de Bornes, feita no dia 22 do mez de novembro de 1863, pelas nove horas da manhã nas igrejas das referidas localidades, compostas das freguezias declaradas no mesmo requerimento; e como esta designação não agradasse ao administrador do concelho, este se dirigiu a Villa Real, e fez com que os vogaes substitutos e não os effectivos do conselho de districto alterassem a dita designação, reduzindo as quatro referidas assembléas a tres uma em Villa Pouca, na casa particular de Antonio Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos, e outra na capella da Senhora do Rosario de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento junto, cuja alteração só foi annunciada tres dias antes da eleição, quando a designação feita pela camara tinha sido competentemente annunciada oito dias antes da eleição, e que a reducção feita pelos taes vogaes do conselho de districto era sem duvida muito mal fundada e até prejudicial aos eleitores das freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Minas, pelos incommodos de grandes distancias a que os sujeitaram, e outros vexames; que sabe, pelo ouvir, que na igreja de Pensalvos houvera no mesmo dia duas mesas de eleição, uma das quaes fôra formada ao nascer do sol pelos eleitores, presidida por um d'elles, feita muito antes da hora marcada, e a outra formada á hora marcada e presidida por um vereador da camara que sabe, pelo ver, que em Bornes junto da capella da eleição estava no dia da mesma uma pipa de vinho, onde iam beber quanto queriam todos aquelles que votavam com o administrador, e dizia-se fôra ali mandada pôr pelo administrador e seus influentes; que sabe, pelo ver, que em volta da capella da eleição e seu adro haviam muitos homens que não eram eleitores, com o fim de armar desordens, transtornar o socego e tirar a liberdade na votação; e tanto assim que antes da formação da mesa armaram barulhos, chamaram ás armas e com tal tumulto que correram muitos homens com armas, entraram no adro e na capella com armas aperradas, ameaçando em altas vozes todos os que votassem contra o administrador; estes tumultos foram repetidos a ponto que quando votava a freguezia d'elle testemunha; fôra interrompida a chamada e votação, por bastante tempo, é este tumulto foi precedido de muitos agentes e influentes do administrador quererem tirar listas, troca-las e dar outras á face do povo e junto á urna; e por esta occasião o eleitor, Francisco Antonio Madureira fôra acommettido por uma força armada contra elle dentro da capella; que sabe, pelo ouvir, que os tumultos continuaram até o sol posto e hontem augmentaram; houveram feridos, houveram presos pelo administrador, fôra atrozmente ultrajado de palavras o dr. Paulo, que com difficuldade pôde escapar-se; foi perseguido, e de certo seria victima se o apanhassem, e foi tão atormentado que no dia seguinte não voltou á eleição, sendo elle um dos vogaes da mesa, officiando que não voltava por julgar em perigo a sua vida; tambem sabe pelo ouvir, que as listas da votação não foram contadas no dia da Votação, mas sim no dia seguinte, e que a leitura d'ellas e escripturação foram feitas na fórma da vontade do administrador, porque n'estas operações figuraram alguns como vogaes da mesa sem o serem, e estes dos maiores influentes do administrador; tambem sabe, por ser publico e sem contradicção, que o administrador percorrera por mais de uma vez a maior parte dos povos do concelho acompanhado de regedores influentes e agentes, pedindo, com instancia, promessas e vigorosas ameaças, votos para a camara. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento, pelo achar conforme, depois de lhe ser lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Padre José Joaquim Fernandes. — Monteiro Girão. — Manuel Martins de Macedo.

Quinta testemunha

Manuel Martins Rodrigues, casado, proprietario, do logar da Varella; testemunha ajuramentada por elle juiz; e encarregada de dizer a verdade, no que soubesse e fosse perguntado, o que assim prometteu debaixo do juramento recebido; disse ter sessenta e oito annos de idade, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo do requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, pelo ouvir, que a camara municipal d'este concelho, em sessão de 9 de novembro de 1863, designara para a eleição da camara que havia de servir no biennio de 1864 e 1865, quatro assembléas; uma d'ellas na igreja de Villa Pouca de Aguiar, outra na igreja de Tellões, outra na igreja de Alfarella de Jalles, e outra na igreja de Urêa de Bornes, compostas das freguezias constantes das declaradas, no requerimento junto, cuja eleição se havia de fazer no dia 22 do referido novembro, o que tudo se fez publico por editaes affixados oito dias antes da eleição, e depois o conselho de districto, em sessão de vogaes substitutos, e não effectivos, reduziu aquellas quatro assembléas a tres, uma d'ellas na casa particular de Antonio de Sousa Sampaio, em Villa Pouca, outra na igreja de Pensalvos, e outra na capella de Nossa Senhora do Rosario, em Bornes, o que foi publicado apenas tres dias antes da eleição, e estas assembléas compostas das freguezias declaradas no requerimento; porém esta reducção é sem duvida menos legal que a designação que a camara tinha feito, e até mais prejudicial aos eleitores das freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Minas, pelas grandes distancias em que as poz; que sabe, pelo ouvir, que na igreja de Pensalvos houvera no mesmo dia duas mesas de eleição, uma das quaes fôra feita ao nascer do sol, antes da hora marcada, formada pelos eleitores, e presidida por um d'elles, e outra formada á hora marcada e presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que junto ao adro da capella da eleição, em Bornes, no dia 22 de novembro, estava uma pipa de vinho, aonde iam beber quando queriam todos aquelles que votavam com o administrador, e que ali andavam grupos de muitos homens que não eram eleitores, armando tumultos e ameaçando aquelles que não votassem com o administrador, com o fim de aterrar e affugentar os eleitores da opposição, fazendo com que não houvesse socego nem liberdade, porque por muitas vezes se oppozeram ás decisões da mesa; quando pedia socego faziam gritarias, davam vivas ao administrador, clamavam em vozerias e chamavam ás armas, e logo corriam como dou dos muitos homens armados, sem ordem com as armas aperradas, entrando pelo adro e até pela capella, perturbando assim os animos o pondo tudo em desordem, de modo que até foi interrompida a votação da freguezia d'elle testemunha; porém a este conflicto deu logar o atrevimento com que muitos dos agentes do administrador pretenderam dar, como deram, muitas listas á porta da capella e dentro da mesma, até á bôca da urna, tirando umas, trocando outras, o que sendo com moderação advertido pelo eleitor Francisco Antonio Madureira, foi este immediatamente atacado com uma faca por um dos taes perturbadores, e de certo seria gravemente ferido se um valente e honrado eleitor lhe não suspendesse a mão do malfeitor; que sabe, pelo ver, que os tumultos continuaram em mais ou menos furor, até que na occasião de se fechar e guardar a urna augmentou a desordem, porque houve ferimentos e prisões: o dr. Paulo foi offendido de palavras, ameaçado, e seria muito maltratado se não fugisse, porque foi perseguido, e no dia seguinte não voltou á eleição, sendo elle um dos vogaes da mesa, e mandou um officio dizendo que não comparecia por ver sua existencia em perigo; e sabe, por ser publico e notorio, que o administrador andára pelos povos do concelho acompanhado dos regedores, cabos e influentes pedindo votos para a eleição da camara, fazendo grandes promessas a uns e grandes ameaças a outros que não votassem comsigo promettendo livrar de soldados, alliviar de contribuições e o mais que lhe lembrava. E mais não disse, e assignou, com elle juiz este seu depoimento pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. – Monteiro Girão. — Manuel Martins Rodrigues. — Manuel Martins de Macedo.

E inqueridas estas testemunhas, findou o dia 26 de janeiro, ficando para o dia seguinte as restantes; e para constar mandou elle juiz fazer este termo, que eu, Manuel Martins de Macedo, escrivão, escrevi e assignei, era ut supra. — Manuel Martins de Macedo.

Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1864, aos 27 dias do mez de janeiro do dito anno, n'este logar de Alfarella de Jalles, concelho de Villa Pouca de Aguiar, e casas de morada de Antonio Pinto Monteiro Girão, juiz eleito d'esta freguezia, onde eu Manuel Martins de Macedo, escrivão do seu cargo, vim, para se proceder á inquirição das testemunhas restantes, dadas em rol; e para constar mandou, elle juiz fazer este auto, que eu, Manuel Martins de Macedo, escrivão, escrevi e assignei, era ut supra. — Manuel Martins de Macedo.

Sexta testemunha

O padre Leonardo Rodrigues de Macedo, presbytero, do logar da Granja, d'este concelho, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos, e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que elle prometteu debaixo de juramento recebido; disse ter cincoenta e cinco annos de idade, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido, e bem entendeu, disse que sabia, por ser publico e notorio, que pela camara municipal d'este concelho foram designadas quatro assembléas para a eleição da camara no biennio de 1864 e 1865, uma d'ellas na igreja de Villa Pouca de Aguiar, outra na igreja de Tellões, outra na igreja de Alfarella de Jalles, e outra na igreja de Urêa de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento, cuja eleição havia de ter logar no dia 22 do mez de novembro do ando de 1863, o que tudo foi publicado por editaes affixados oito dias antes da eleição; porém como tal designação não agradou ao administrador do concelho, este foi ter com o governador civil; e fez com que os vogaes substitutos, e não os effectivos, do conselho de districto, reduzissem aquellas quatro assembléas a tres, sendo uma d'ellas em Villa Pouca de Aguiar, na casa particular de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos, e outra na capella de Nossa Senhora do Rosario de Bornes, compostas das freguezias declaradas no mesmo requerimento, o que foi annunciado apenas tres dias antes da eleição; que sabe, pelo ouvir, que na igreja de Pensalvos houvera no dia da eleição duas mesas, uma d'ellas formada ao nascer do sol, antes da hora marejada, presidida por um dos eleitores, e outra formada á hora marcada, e presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que junto ao adro da capella da eleição em Bornes no dia 22 do referido novembro havia uma pipa de vinho, aonde iam beber quando queriam aquelles que votavam com o administrador, e dizia-se publicamente que por ordem d'este e de seus influentes fôra ali posta a dita pipa; que sabe, pelo ver, que no adro da dita capella, e em volta d'ella, andavam muitos grupos de homens alvoroçados, dando vivas á policia do governo, e que muitos d'estes homens não eram eleitores, mas sim agentes e partidarios do administrador, que de proposito ali andavam fazendo desordens, perturbando o socego, o ameaçando aquelles que não votassem na lista do administrador; que muitos dos seus influentes davam as listas, á face de todo o povo, no adro e na capella, auxiliados por estas turbas de gente amotinadora, de modo que as decisões da mesa eram desprezadas quando não agradavam áquella gente; e não só isto, mas chamavam ás armas e n'um instante appareciam muitos homens correndo, com armas aperradas, entrando pelo adro, e fazendo pontaria contra os pacificos, entrando alguns pela capella, causando terror, e pondo tudo em confusão, de modo que muitos dos eleitores da opposição ausentaram-se sem votar, e outros ficaram completamente desanimados, vendo um tal despotismo, consentido e aconselhado pela auctoridade; que sabe, pelo ouvir, que os tumultos não terminaram, antes pelo contrario á noite, por occasião da guarda da urna, houveram ferimentos, prisões e insultos graves, principalmente ao dr. Paulo, que pôde escapar se debaixo do auxilio de alguns amigos, e que no dia seguinte não voltára á eleição com medo; e que as listas da votação não foram contadas no dia 22, mas sim no seguinte, e esta contagem, leituras e escripturação fôra feita á vontade do administrador, assistindo a estas operações como vogaes da mesa alguns que o não eram, mas sim dos maiores influentes do administrador; e mais disse que sabia, por ser publico e notorio, que o administrador andára pelo concelho, com seus regedores, cabos e influentes, pedindo votos para a eleição da camara, e para isto servia-se do recrutamento, industria e mais contribuições, e o mais que lhe lembrava, para os obrigar a votar com elle. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento, pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Monteiro Girão. — Padre Leonardo Rodrigues Macedo. — Manuel Martins de Macedo.

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Setima testemunha Felix Borges, casado, lavrador, do logar de Revel, d'este concelho, testemunha a quem elle juiz deu juramento dos Santos Evangelhos, e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado; e sendo-o por sua idade, disse ter trinta annos, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse, debaixo do juramento recebido, que, como lavrador, não sabia dos movimentos que tinha havido sobre eleições; mas que sabendo ultimamente que a sua freguezia ia votar á capella da Senhora do Rosario, do logar de Bornes, no dia 22 do mez de novembro de 1863, foi, com os mais eleitores, n'aquelle dia para Bornes; e chegando ao pé do adro da capella da eleição vira ali uma pipa de vinho, que se dizia fóra posta pelo administrador e seus amigos, para ali beberem todos os que votassem com elle. Por ali andavam homens em magotes, como quem queria armar desordens, e muitos d'estes não eram eleitores, mas sim levados ali de proposito para fazer tumultos, como faziam, de modo que na eleição não havia socego; em algumas occasiões correram homens armados pelo adro, alguns entraram na capella, e outros estavam armados no coro, de modo que não faltava receio, e até porque Francisco Antonio Madureira foi atacado com uma faca, mas não foi ferido, porque alguem se lhe agarrou ao braço. Quando a freguezia de Urêa de Jalles votava foi tamanho o barulho que por bastante tempo esteve suspensa a votação. Quando votava a freguezia de Capelludos deram vivas á freguezia de Capelludos, e outros disparates. A noite, quando a mesa deliberou levar a urna para casa do padre Lino, armou-se uma tal desordem dentro e fóra da capella, que se ajuntou a gente de fóra á porta da capella, com armas, dizendo: «Alto, lá para dentro, d'aqui sáe ninguém». O dr. Paulo, no meio do tumulto, foi ameaçado e empurrado, e alguns seus amigos puderam cobri-lo e elle saír pela porta travessa, e foram-no acompanhando, indo com elle ella testemunha; o povo amotinado seguia clamando «morra»; porém não teve incommodo, porque a viuva de João Guedes lhe franqueou a porta da sua casa, metteu-o dentro de um quarto, fechou a porta com a chave e metteu-a na algibeira; e o povo em grande numero chegou a entrar no pateo, e muitos na cozinha, era seguimento d'elle, porém depois ausentarem-se; porém para o fazer foi preciso que a viuva afflicta apertasse as mãos á cabeça, gritando que queriam matar quem estava em sua casa; e socegado o barulho teve o dito dr. Paulo de saír por umas terras que estavam nos traseiros das casas, e d'ali dirigir-se para casa de Caetano de Madureira, de Eiriz, acompanhado de alguns seus defensores, e ali pernoitaram; e tão atterrado estava que disse que não voltava a Bornes porque receiava ser morto. Isto o sabe elle testemunha, porque foi companheiro d'elle n'estes trabalhos e afflicções. E mais disse que no entretanto que sairá da capella com elle para casa da bem feitora viuva, houveram ferimentos ao pé da capella, e prenderam dois creados e um caseiro d'elle dr. Paulo por ordem do administrador seu irmão; e tambem sabe que o administrador andou pelos povos do concelho a pedir votos, e até foi á porta d'elle testemunha, acompanhado do regedor, de José Vaz e de Francisco Teixeira Coelho de Miranda. E mais não disse, e assignou este seu depoimento com elle juiz, depois de ser lido por mim Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Monteiro Girão. — José Manuel Teixeira Coelho. — Manuel Martins de Macedo.

Oitava testemunha

José Bernardo Borges, viuvo, lavrador, do logar de Revel, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos, e encarregou dissesse a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que elle assim prometteu debaixo do juramento recebido; disse ter quarenta annos de idade, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que no dia 22 de novembro do anno de 1863, indo elle testemunha ao logar de Bornes como eleitor, para a eleição da camara, chegou ao pé da capella, e viu ali uma pipa de vinho, que se dizia ser posta pelo administrador e seus amigos, para beberem aquelles que votassem com elle; depois vira muitos homens que não eram eleitores juntos com outros que eram eleitores, armarem tumultos e desordens; depois viu que junto da mesa da eleição haviam alvoroços, empurrões, dictos e o socego perturbado; e viu no coro alguns homens armados, e quando na Capella augmentava o barulho desciam com as armas para intimidar; quando votou a freguezia de Urêa de Jalles, aquelles malfeitores que ali vinham perturbar o socego e tirar a liberdade, tanto se excederam que um d'elles arrancou uma faca para ferir Francisco Antonio de Madureira, o que não fez porque alguem lhe suspendeu o braço, e augmentou-se uma tal desordem que chamaram ás armas, e logo correram ao adro e á capella muitos homens, apontando as armas para quem lhes parecia, para assim aterrar e affugentar os eleitores da opposição, de modo que a votação esteve suspensa por algum tempo, depois continuou, porém nunca houve completo socego; á noite quando a mesa deliberou sobre a guarda da urna e assentou que fosse para casa do padre Lino, houve um tal alvoroço dentro da capella, que tudo andava em ondas, e a gente que estava pelo adro e muitos homens armados fizeram á porta principal um tal barulho, que mettia medo, gritando: «Alto, lá para dentro». Entretanto o dr. Paulo foi ameaçado e empurrado, e seria offendido se alguns seus amigos o não defendessem e tirassem da capella pela porta travessa e o conduzissem até com risco de suas vidas, á frente de muitos malfeitores que o seguiam clamando em altas vozes: «morra»; e de certo haveria alguma desgraça se a bem feitora viuva de João Guedes, se não compadecesse d'elle, abrindo a sua porta, recolhendo-o em sua casa e mettendo-o dentro do seu quarto, que fechou com chave e a metteu na sua algibeira; e o povo tão alvo roçado estava que o seguiu entrando no pateo, é muitos na cozinha da viuva, e para que se retirassem ella apertava as mãos á cabeça dizendo e gritando afflicta, que queriam matar quem estava era sua casa; e assim ella conseguiu que o povo se ausentasse, e que o perseguidos ficasse salvo de tão perigoso ataque; entretanto houve no adro ferimentos, e foram presos dois creados e um caseiro do dito dr. Paulo, por ordem do administrador, seu, irmão.: Depois de socegado o povo, o escondido dr. Paulo saíu pelas trazeiras da casa por umas terras; acompanhado de alguns seus defensores, e veiu ter a casa de Caetano de Madureira, de Eiriz, porém tão afflicto que disse que no dia seguinte não voltava á eleição, porque receiava de ser morto. E elle testemunha presenceou tudo isto, porque foi companheiro do dr. Paulo n'este infeliz successo; e mais sabe que o administrador andára pelos povos do concelho acompanhado dos regedores e influentes, pedindo votos para a eleição da camara, e ameaçando fortemente os que não votassem com elle. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento, pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Monteiro Girão. — José Bernardo Borges. — Manuel Martins de Macedo.

Nona testemunha

João Manuel Gonçalves Ferreira, solteiro, proprietario, do logar de Revel, d'este concelho, testemunha a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos, e lhe encarregou dissesse a verdade no que fosse perguntado e soubesse, o que elle assim prometteu debaixo do juramento recebido; e sendo-o por sua idade, disse ter quarenta e quatro annos de idade, e disse que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, por ser publico e notorio, que a camara municipal d'este concelho designara quatro assembléas para a eleição da camara no biennio de 1864 e 1865; uma na igreja de Villa Pouca de Aguiar, outra na igreja de Tellões, outra na igreja de Alfarella de Jalles e outra na igreja de Urêa de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento junto, cuja eleição se havia de fazer no dia 22 de novembro de 1863, pelas nove horas do dia; mas depois os vogaes substitutos, e não os effectivos, do conselho de districto reduziram aquellas quatro assembléas a tres, uma d'ellas em Villa Pouca de Aguiar, na casa particular de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos e outra na capella de Nossa Senhora do Rosario, de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento, cuja reducção foi annunciada sómente tres dias antes das eleições, quando as assembléas designadas pela camara tinham sido completamente annunciadas oito dias ante, da eleição; que sabe, pelo ouvir, ser publico e de todos conhecido, que a designação feita pela camara era mais justa e mais legal, e até mais commoda aos povos pertencentes ás freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella e Tres Minas; que sabe, pelo ouvir geralmente, que na igreja de Pensalvos houvera no mesmo dia das eleições duas mesas d'ella, uma das quaes fóra feita ao nascer do sol, antes da hora marcada, presidida por um dos eleitores, e outra formada á hora marcada e presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que em Bornes junto do adro da capella da eleição, no dia d'ella, estava uma pipa de vinho para beber os que votavam com o administrador, a qual fóra ali posta por ordem d'este e de seus influentes, e que no adro da capella, dentro d'ella e seus corredores, andavam juntos em tumultos muitos homens, entre estes muitos que não eram eleitores, mas sim partidarios do administrador, que parece foram para ali mandados de proposito para fazer barulho, perturbar o socego e afugentar os que fossem de outro -partido, o que muito bem se prova pelo que se passou na eleição, porque não eram obedecidas as deliberações da mesa; haviam gritarias, haviam vivas, chamava-se ás armas, corriam homens armados pelo adro, e até entrar na capella com armas aperradas e apontadas contra quem lhe parecia, causando assim terror e tirando a liberdade de votar, porque assim ameaçavam os que se soubesse ou desconfiasse que não votavam com o administrador; e com taes acontecimentos pôde dizer-se que tudo ía transtornado, porque algumas vezes foi interrompida a votação, e até dentro do templo houve um partidario do administrador que puxou por uma faca contra Francisco Antonio de Madureira; que sabe, pelo ouvir, que estes tumultos não terminaram, antes junto á noite augmentaram, oppondo-se á determinação da mesa quando deliberou sobre a guarda da urna, havendo ferimentos e prisões, ameaças e perseguições contra o dr. Paulo, que com difficuldade pôde fugir, e foi tão atormentado, que sendo vogal da mesa no dia seguinte não voltou com medo da morte; que sabe, pelo ouvir, que no dia da votação não se contaram as listas, mas sim no dia seguinte, e esta contagem, leitura e escripturação fóra feita como quiz o administrador, porque entraram n'estas funcções alguns influentes do administrador que não eram vogaes da mesa; que sabe, por ser publico, que o administrador andava pelos povos do concelho, acompanhando dos regedores e influentes, pedindo votos para a eleição da camara, ameaçando com recrutamento e tributos, dizendo que havia de vencer por bem ou por mal, e que no logar de Pensalvos e Bornes tinha o administrador os seus maiores influentes e partidarios, e que em Bornes todos estavam combinados a não recolher as bestas nem vender comestíveis áquelles que fossem da opposição. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento pelo achar conforme, depois de lido por mim Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Monteiro Girão. — João Manuel Gonçalves Ferreira. — Manuel Martins de Macedo.

Decima testemunha

O padre Luiz Bernardo Taveira, de Miranda, presbytero» do logar de Moreira, d'esta freguezia, testemunha ajuramentada por elle juiz, e encarregado de dizer a verdade no que soubesse e fosse perguntado, assim o prometteu; disse ter cincoenta e cinco annos de idade, o que não era parente do requerente, e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia por modo publico e incontradictorio, que a camara municipal d'este concelho designara quatro assembléas para a eleição da camara no biennio de 1864 e 1865; uma d'ellas na igreja de Villa Pouca de Aguiar, outra na igreja de Tellões, outra na igreja de Alfarella do Jalles e outra na igreja da Urêa de Bornes, compostas das freguezias, ditas no requerimento, o que tudo foi bom annunciado por editaes affixados com antecipação de oito dias, convocando os eleitores para a eleição que havia de fazer-se no dia 22 de novembro de 1863, pelas nove horas da manhã; que estas assembléas foram depois reduzidas a tres, uma d'ellas em Villa Pouca, na casa particular de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos e outra na capella da Senhora do Rosario, em Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento, cuja reducção foi feita pelos vogaes substitutos, e não pelos effectivos do conselho de districto, o que foi annunciado apenas com antecipação de tres dias, no dia 22 de novembro em que se fez a eleição, e que a designação feita pela camara era na realidade mais rasoavel e commoda aos eleitores da freguezia de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Minas, porque alguns tiveram de andar grandes distancias; que sabe pelo ouvir, geralmente que na igreja de Pensalvos houvera no dia da eleição duas mesas d'ella, uma das quaes fóra feita ao nascer do sol, antes da hora marcada, e presidida por um dos eleitores, e outra formada á hora marcada, e presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que em Bornes, junto ao adro da capella da eleição, estava uma pipa de vinho, aonde iam beber aquelles que votavam com o administrador, e dizia-se que fôra ali mandada pôr pelo administrador e seus influentes; que tambem vira e ouvira grandes tumultos e vozerias e o socego publico perturbado por algumas vezes, e muitos homens armados correr com armas aperradas pelo adro e até penetrar no templo aonde se fazia a eleição, causando grande terror occasionado por muitos malfeitores, que ameaçavam em altas vozes os que não votassem com o administrador; e ninguem duvida que tal gente foi para ali mandada para incutir medo e afugentar os eleitores da opposição, e até fóra interrompida a votação da freguezia da igreja de Jalles, e por isso tudo estava em completa confusão; que sabe, pelo ouvir, que a desordem continuou mais ou menos activa, porém junto á noite d'esse dia augmentára a desordem, houveram ferimentos e prisões; que o dr. Paulo fôra perseguido e tão atormentado, que no dia seguinte não voltára á eleição, sendo elle um vogal da mesa; e tambem sabe, pelo ouvir, que no povo de Bornes tem o administrador muitos e grandes influentes seus e o resto são seus partidarios; e tanto é certo que no dia da eleição tinham entre elles combinado de não vender comestíveis nem recolher os eleitores da opposição; e tambem sabe que o administrador andára pelos povos do concelho pedindo votos para a eleição da camara, e que elle mesmo testemunha o vira e fallára com elle no seu logar de Moreira. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que eu escrevi. — Monteiro Girão. — O padre Luiz Bernardo Taveira de Miranda. — Manuel Martins de Macedo.

Undécima testemunha

O padre Antonio José Ribeiro, presbytero, do logar de Moreira, d'esta freguezia, testemunha ajuramentada pelo juiz e encarregada de dizer a verdade no que soubesse e fosse perguntado, assim o prometteu; disse ter quarenta e seis annos de idade e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia por ser publico e notorio, que a camara municipal d'este concelho designara quatro assembléas para a eleição da camara no biennio de 1864 e 1865, uma d'ellas na igreja de Villa Pouca de Aguiar, outra na igreja de Tellões, outra na igreja de Alfarella de Jalles e outra na igreja da Urêa de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento, o que foi competentemente annunciado por editaes affixados com antecipação de oito dias, convidando os eleitores para a eleição que havia de fazer-se no dia 22 de novembro de 1863, pelas nove horas da manhã; e depois os vogaes substitutos, e não os effectivos, do concelho de districto reduziram aquellas assembléas a tres, uma d'ellas em Villa Pouca de Aguiar, na casa particular de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos e outra na capella da Senhora do Rosario de Bornes, o que se fez publico tres dias unicamente antes da eleição, e que esta reducção era menos legal e até muito prejudicial a muitos eleitores, principalmente aos da freguezia de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Minas, em rasão das grandes distancias e outros encommodos bem conhecidos; que sabe, pelo ouvir geralmente, que no dia da eleição na igreja de Pensalvos houveram duas mesas, uma d'ellas feita ao nascer do sol, antes da hora marcada e presidida por um eleitor, e a outra feita á hora marcada e presidida por um vereador da camara; que sabe, pelo ver, que no dia da eleição, junto ao adro da capella da eleição, estava uma pipa de vinho, que se dizia ser ali posta por ordem do administrador e seus influentes, para n'ella beberem aquelles que votassem com elles; que em volta d'ella e da capella e no adro haviam muitos grupos de homens em tumultos e alvoroços, fazendo feitios de doudos, muitos d'estes não eram eleito-

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res, e facilmente se conhecia que foram para ali mandados de proposito para armar desordens, perturbar o socego e ameaçar e aterrar aquelles que fossem da opposição, porque obstavam a que se cumprisse as decisões da mesa, davam vivas chamavam ás armas; corriam muitos armados com ás armas aperradas pelo adro, e até entrar no templo fazendo pontaria para onde lhe parecia, interrompendo a votação e transtornando tudo o que era justo e honesto, de modo que era uma confusão; que sabe, pelo ouvir, que em todo o dia houveram estes e outros factos de similhante natureza, porém junto á noite houve ferimentos, prisões, perseguições e morras, e que os habitantes de Bornes são ou influentes ou partidarios do administrador, e até combinaram de não recolher nenhum eleitor da opposição, nem vender comestíveis para elles, nem para as suas cavalgaduras; e que tambem sabe que o administrador andára pelos povos do concelho pedindo votos para a eleição, o que tudo é publico e notorio. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento, pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — O padre Antonio José Ribeiro. — Monteiro Girão. — Manuel Martins de Macedo.

Duodecima testemunha

João José Gomes Teixeira, casado, proprietario d'este logar e freguezia, a quem elle juiz deu o juramento dos Santos Evangelhos, e encarregou de dizer a verdade no que soubesse e fosse perguntado, o que assim prometteu; e sendo o por sua idade, disse ter quarenta e nove annos, e que não era parente do requerente; e perguntado pelo conteudo no requerimento junto, que lhe foi lido e bem entendeu, disse que sabia, pelo ver e ser publico, que a camara municipal d'este concelho, em sessão de 9 de novembro de 1863, designara quatro assembléas para a eleição da camara no biennio de 1864 e 1865, das quaes uma era na igreja de Villa Pouca de Aguiar, outra na igreja de Tellões, outra na igreja de Alfarella de Jalles e outra na igreja de Urêa de Bornes, compostas das freguezias declaradas no requerimento, e tudo se annunciou competentemente por editaes convocatorios, affixados oito dias antes da eleição, que havia de ter logar no dia 22 do mez de novembro de 1863; porém esta designação não agradou ao administrador do concelho, o qual se dirigiu a Villa Real, e ali pôde arranjar com os vogaes substitutos, e não com os effectivos, do conselho de districto, o reduzir as quatro assembléas a tres, sendo uma em Villa Pouca de Aguiar, na casa particular de Antonio de Sousa Sampaio, outra na igreja de Pensalvos e outra na capella da Senhora do Rosario, em Bornes, compostas das freguezias ditas -no requerimento porém esta reducção foi na realidade menos rasoavel e menos legal, e até mais prejudicial aos eleitores das freguezias de Tellões, Urêa de Jalles, Alfarella de Jalles e Tres Minas, porque ficaram sujeitos a maiores trabalhos e incommodos; que tambem sabe, pelo ver, que no dia da eleição, junto ao adro da capella da eleição, no logar de Bornes, estava uma pipa de vinho, que se dizia, e era certo, ser ali postada por ordem do administrador e seus influentes, para beberem ali quanto quizessem aquelles que votassem com elles, e assim se praticava; que tambem vira junto da pipa, em volta da capella e no adro, tumultos de gente, sem ordem, alvoraçados, dando vivas, fazendo insultos, perturbando o socego, estorvando o legal andamento da eleição, oppondo-se ás decisões da mesa; chamando ás armas, correndo muitos homens com armas aperradas, entrar no adro, e até na capella, fazendo pontaria contra quem lhes parecia, interrompendo a chamadas ameaçando os que não votassem com o administrador; de modo que era uma confusão, e tudo, era sem duvida assim ordenado para causar terror, afugentar os eleitores da opposição, e poder fazer a eleição como quizessem, e assim se mostrava, porque estes tumultos na maior parte eram de homens que não eram eleitores, mas sim partidarios do administrador; e mais sabe, pelo ouvir, que estes escandalosos factos continuaram até proximo da noite, e então augmentaram, porque houve ferimentos, prisões, perseguições e morras, e pouco faltou para haver mortes; que sabe, pelo ouvir, que no dia da eleição em em Pensalvos houvera na igreja duas mesas, uma das quaes fôra feita ao nascer do sol, antes da hora marcada, presidida por um eleitor, e a outra feita á hora marcada, presidida por um vereador da camara; tambem sabe, por ser publico, que o logar de Bornes é um onde o administrador tem seus maiores influentes, e os que o não são, são seus partidarios, e tanto é verdade, que entre elles combinaram não vender comestíveis, nem recolher em suas casas os eleitores da opposição, e que o administrador por mais de uma vez andou pelos povos do concelho pedindo votos para a eleição da camara, promettendo muitos favores, e a outros fazendo ameaças com o recrutamento, e com o mais que lhe lembrava. E mais não disse, e assignou com elle juiz este seu depoimento, pelo achar conforme, depois de lido por mim, Manuel Martins de Macedo, escrivão que o escrevi. — Monteiro Girão. — João José Gomes Teixeira. — Manuel Martins de Macedo. (Continúa.)

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