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1346 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

insignificantes. Nunca se lhes ligou a importancia que lhe pretendem dar agora.

E note-se que tem acontecido isto em circumstancias bem diversas, e com caracter bem differente.

Tem sido accintosas manifestações politicas, têem sido propositados desacatos ao parlamento e aos tribunaes.

Nada d'isso foi esta. Esta foi apenas uma irreflectida e momentanea manifestação de sympathia a um distincto advogado que ia ali pela primeira vez. E é isto que só apresenta como prova de anarchia e de desordem n'aquella comarca! E é com isto que se pretendem justificar os insultos do sicarios e de bandidos atirados ás faces dos honrados e laboriosos habitantes de Ovar! (Apoiados.)

Continuemos a leitura:

"Na sentença, o sr. juiz condemnou o réu a tres dias de prisão correcional. Ao terminar a leitura da sentença houve um começo de pateada."

Ora quer a camara ver como o sr. Arroyo traduziu aqui estas palavras?

"... foi recebida a sua deliberação com uma grande pateada."

E ainda acentuou a palavra grande para que podesse significar grandissima. Veja-se por aqui o exagero extraordinario, com que n'esta casa a opposição reproduz as noticias dos seus proprios jornaes.

Um simples começo, uma simples ameaça de pateada, é traduzida pelo sr. Arroyo n'esta camara como uma pateada grande!

Francamente, quem quer que as suas palavras tenham credito e os seus commentarios auctoridade, não deve alterar por esta fórma a verdade dos factos, para que ninguem ámanhã possa pôr em duvida as mais graves e serias informações que aqui nos venham dar.

Isto assim não póde ser.

Mas continua o jornal com todo o seu facciosismo:

"O sr. juiz, dirigindo-se ao administrador do concelho, perguntou-lhe se não dava providencias, este respondeu: eu ainda não vejo pau! mas em seguida dirigiu-se aos seus correligionarios que estavam fóra da teia, logar de onde a pateada partira." E nada mais diz sobre isto a folha regeneradora. Apesar de toda sua má vontade contra o digno administrador, attribuindo-lhe palavras que elle não proferiu, vae confessando que elle interviera logo, e tudo terminara, não havendo depois d'isso a mais pequena perturbação da ordem.

E aqui está reduzido este famoso incidente ás proporções ainda exageradissimas, que lhe quiz dar o jornal regenerador da terra.

Agora, se formos ler o jornal progressista, porque emfim, para julgar com justiça, temos obrigação de ouvir as partes ambas vemos que nem mesmo isto, que já era pouco, que já era muito menos do que o sr. Arroyo dissera, foi precisamente o que se passou.

Confrontando o que fazia antigamente fr. Thomás Arala, como o jornal, lhe chama, com o que diz agora escreve:

"Fr. Thomás Aralla, que quer que olhem para o que diz e não para o que faz, continua a dizer calumnias no seu jornal, sem se lembrar do seu passado. Falla de espancamentos, e fr. Thomás bem sabe que já o tribunal disso que elles se não deram, e deve lembrar-se que tem na sua historia politica as mortes de 1869, as mortes de Arada e a morte de D. Rita. Falla de desacatos á auctoridade; o fr. Thomás bem sabe que na sua historia politica tem a infame campanha das bombas, pagas pelo seu bolsinho, contra a auctoridade judicial e as arruaças de Vallega contra a auctoridade administrativa. Falla de ameaças ao juiz; e já se não lembra de quando em Vallega ameaçou o regedor com um chicote. Falla em vidros quebrados em casa do juiz; e esquece-se de que mandou sujar a porta e a escada de um juiz com uma substancia cujo nome immortalisou Cambrone. Falla em desacatos dentro do tribunal, e esquece-se de que já mandou encher as escadas do mesmo tribunal com bombas chinezas para desprestigiar um juiz quando entrasse! E não se lembra que actualmente está fazendo na imprensa uma campanha, tão porca como a das bombas, contra um juiz. Quem é, pois, que educa mal a comarca?

"Mas fr. Thomás Aralla deve saber que as ameaças se não deram. Deve saber que ninguem foi propositadamente quebrar vidros ao juiz; este mesmo está convencido d'isso. Na tarde de domingo, ainda muito de dia, uma creança qualquer atirou uma pedra, que foi quebrar um vidro da habitação do sr. sr. Vieira Xavier. Se fosse proposito, então não se limitaria a um simples vidro e escolheriam a noite. O Orgão sabe-o bem, mas convem-lhe fingir que ignora. Se houve algum desacato dentro do tribunal, tanto poderia ser feito por progressistas como por aralistas, porque estavam ahi uns e outros; e os precedentes levam a concluir que fossem antes estes ultimos.

Aqui nunca se faltou ao respeito aos magistrados judiciaes, até que, em 1884, o grupo arallista desacatou o sr. dr. Macedo. O sr. dr. Brochado tem soffrido os maiores insultos dos arallistas. Se agora fizeram qualquer desacato ao sr. Vieira Xavier e querem saber quem foi, tirem pelos antecedentes os consequentes."

Ninguem ameaçou, portanto, o juiz de lhe quebrar os vidros da sua casa, se condemnasse os réus.

Um dia de manhã, muitos dias antes, do julgamento de que se trata, uma creança, um garoto qualquer, como conta fidedignamente este jornal, andando a brincar com outros, despediu uma pedra, que foi quebrar um vidro das janellas do juiz. Não póde, pois, em boa fé attribuir-se este facto a manejos potiticos, e muito menos referir-se como ameaça para absolver os réus. Foi uma imprudencia de rapazes, aos olhos do dia, e de que nem se quer o proprio juiz se queixou.

Mas a parte principal d´este artigo é a que passo a ler, e que é preciso ouvir com attenção, para bem se restabelecer a verdade dos factos:

a Devemos fazer justiça a todos. Nós não costumâmos intrometter-nos com os magistrados; estão fóra do nosso programma, quando exercem as suas funcções. Mas este nosso modo de ver não vae tão longe, que não devamos repellir aqui as injurias que o sr. Vieira Xavier diz do alto da sua cadeira a esta comarca. O sr. juiz está aqui para fazer justiça, e para punir os criminosos, conforme entenda; mas não póde, nem deve por dignidade propria, e do seu cargo, insultar uma comarca inteira, em pleno tribunal. Tanto repellimos as calumnias da politica, que são mais desculpaveis, como os improperios de um juiz, que nada póde justificar!"

Note-se a delicadeza com que este jornal, distinctamente redigido e circumspecto, discute o procedimento da auctoridade judiciaria, e a gravidade do facto a que se refere.

O juiz, cujo caracter pessoal eu respeito, e cujas rectas intenções eu presumo, não tendo a honra do o conhecer; o juiz, que pode ser um magistrado digno e consciencioso, e cuja apreciação é insuspeita pelo jornal progressista, e que ainda no seu numero anterior fizera justiça ás suas intenções, foi imprudentissimo nas palavras que proferiu do alto da cadeira, quando acabou de ler a sentença que condemnava o réu.

N'um momento de mau humor, ou de injustificada exaltação de espirito, o juiz, voltando-se para o réu, disse-lhe que condemnava n'elle todos os selvagens de Ovar.

Ora um homem que estava na comarca haveria apenas quinze dias, insultar assim, em plena audiencia, do alto da sua cadeira de magistrado, uma população inteira, era realmente para provocar da parte dos que o ouviam uma manifestação do desagrado e do protesto.

Quem quer ser respeitado, deve ser o primeiro a respeitar-se a si, e a respeitar os outros.

Para que um juiz seja digno de todos os respeitos, é