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por isso de tirar o tempo? Tira o tempo da mesma sorte. Ora, sr. presidente, isto são pieguices. (Riso) O que significa consumir o tempo antes e não depois ou depois e não antes? Não e o mesmo? Realmente não estejamos dando todos os dias estes espectaculos pueris. Se a camara quer que se leia o expediente, leia-se mas que significa ficar o expediente para o fim, ou para o meio, virem os deputados cedo ou virem tarde? Todos os parlamentos teem êstes inconvenientes que se notam aqui; foi sempre, e ha de ser sempre assim. Alem disso resoluções destas não as póde v. ex.ª tomar sem consultara camara. Estando ha ordem dos nossos trabalhos marcada a leitura do expediente no principio, porque se ha de mudar? Diz-se: consome-se muito tempo e este tempo que se consome, fique para depois; em logar de se consumir ao meio dia, consuma-se ás 3 horas e meia. Mas ás 3 horas e meia vão-se muitos embora, e não ha numero: ahi teem o resultado.

O sr. Santos Monteiro! — Eu modifico a minha proposta, ficando redigida da seguinte maneira.

Proposta: — Proponho que do dia 20 em diante se entre na ordem do dia á 1 hora da tarde — Santos Monteiro.

E pondo-se logo á votação esta

Proposta do sr. Santos Monteiro — foi approvada.

Proposta do sr. Vasconcellos e Sá — foi rejeitada

ORDEM DO DIA.

Continua a discussão do projecto n.º 39 (V. sessão de hontem).

O sr. Pegado: — Sr. presidente, nunca ouvi pronunciar o nome da ilha da Madeira, que me não recordasse pungentemente da minha patria; porque as circumstancias actuaes de ambas suo as mesmas. Esta identidade da sorte faz que ella tome o maior interesses pelo presente estado da nossa ilha, que bem se póde chamar o estado de desesperação, porque os seus habitantes, uns vão-se e deixam o torrão natal; os que ficam, não teem para subsistirem. A ilha da Madeira, a flor do Atlantico como lhe Chamam os navegantes, tem sido a inveja dos estrangeiros, e a vergonha de Portugal; porque tudo quanta ella tem de bom, deve-o á natureza, pouco ao homem, menos aos governos. Os viajantes admiram tanto a sua belleza, a sua magnificencia natural, e a portentosa variedade das suas zonas, como o desleixo da nação a que pertence. Fóra ella dos americanos, ou dos inglezes, que de ha muito teria sido o paraizo terreal; qual lhe cabia por aquellas qualidades, e pela sua posição no globo. A ilha da Madeira é, como todas as nossas possessões de além do Oceano, o testimunho vivo, a prova visivel, ostensiva, e perante do pouco que se tem sabido entre nós governar e administrar. A ilha de Hong-Kong é ingleza, ha menos de 10 annos tem já cáes, planos inclinados para a subida e revista dos navios, docas que os abrigam: os nossos desfazem-se no Tejo sob a acção continua dos ventos, das chutas, e das correntes; tem quarteis espaçosos, hospitaes, armazens, escriptorios officinas, ruas amplissimas: ilha de terreno infecundo, de atmosfera ventosissima, e mal sã, cortada hoje de estradas! A 5 horas de viagem desta ilha está o nosso Macáo, sadio e risonho, que possuimos ha 300 annos. Nada disso tem! Nestes ultimos recentissimos annos alguem, por dedicação ou por curiosidade, tem cuidado de algumas construcções do estado. Os seus habitantes entregaram-se a um só ramo de industria, a uma só occupação, ao commercio, e a um só ramo do commercio. Dahi provieram ás riquezas publicas é particulares. Mas dos seus thesouros nenhuma parte saiu para a formação de uma flotilha, que poderia estender os nossos dominios, nesses tempos, em que Portugal era mais rico, mais poderoso, mais respeitado e temido. N'um dia escapou-lhe aquelle commercio, tudo caiu em desgraça; porque ninguem sabiá outro officio, nem alli se conhecia outro modo de vida. Era uma só a fonte dos recursos dos particulares e do estado. O mesmo aconteceu á ilha da Madeira. A natureza produziu como espontaneamente as vinhas: invadili-as a molestia da videira: foram-se as vinhas, e não havia outra fonte de rendimentos.

E não havia em todos estes acontecimentos alguma especie de improvidencia governativa? O que se pertende agora? Que se varie em culturas, que o sólo dê aos seus habitantes o seu sustento. A cultura do milho começou ha pouco, e promette progredir, é forçoso fomental-a, animal-a por todos Os meios, para que se generalise. Nem se póde e-perar por este expediente ou outro.

Quer-se vêr sé a cultura do tabaco convem mais, ou alguma outra? Examine-se, averigue-se; em quanto se espera pelos resultados deste exame, adopte-se esta medida; porque é certo que alliviando a cultura do milho de um onus que linha, póde generalisar-se mais Se assim não acontecer, derogue-se a legislação; porque no que eu não posso convir, é que haja demora em acudir áquella possessão por todos os meios possiveis, ainda mesmo que nos custem sacrificios. E necessario reflectir sobre Uma cousa. Providencias desta ordem não são unicamente um dever humanitario, mas do decoro e pundonor nacional. As miserias no interior do reino ainda se occultam; mas nas nossas terras, que são todos os dias visitadas pelos estranhos!, é necessario fazer cessar o triste espectaculo do nosso desleixo, da nossa indifferença, inacção, ou ignorancia.

Nenhum districto da monarchia está hoje como a ilha da Madeira. Não se deve, pois, dizer que igual medida se estenda aos mais districtos; ou que sé espere por medidas geraes. Convem-nos ser menos egoistas.

A minha opinião é, que para a Madeira, faça-se o que se puder, por pequeno bem que seja; porque lhe dá alguns recursos, e alimenta a esperança, e a não desanima, e provoca o abandono da ilha. Cuide-se já, já da Madeira, e cuidar-se-ha depois dos outros districtos: a excepção está justificada pela necessidade, pelo principio da humanidade, e pelo brio e decóro nacional. Os proprios estrangeiros têem concorrido com donativos para o soccorro de madeirenses: não é possivel que o parlamento deixe de concorrer tambem para tudo o que tende a melhorar a sua sorte.

Voto não só pelo projecto, mas tambem pelo additamento dó digno e zeloso representante da Madeira, pelo procurador incansavel daquelles povos; porque eu sei sentir como se sentem os fieis interpretes de um povo em desgraça.

O sr. Tavares de Macedo: — Antes de entrar na exame dá materia, devo fazer algumas observações