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138 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

com grande e levantada isenção. Longe de tomar logar ao lado dos adversarios do Sr. Hintze Ribeiro, o partido progressista procedeu por tal maneira que o chefe do partido regenerador pôde, ao cabo de certo tempo, triumphar dos seus adversarios trazendo depois á Camara uma representação bastante numerosa que lhe deu bem accentuada supremacia sobre o seu competidor. (Apoiados).

Assim procedeu o partido progressista em situação grave da vida politica do partido regenerador, e elle, orador, confessa que igual procedimento esperava no actual momento por parte do Sr. Hintze Ribeiro. Esperava que o chefe do partido regenerador se abstivesse n'esta occasião de acirrar ou estimular paixões, deixando que o partido progressista, no Parlamento, debatesse as suas desavenças.

Era assim que nós procediamos e, confessa a verdade, era assim que esperava que o seu amigo pessoal e adversario politico, o Sr. Hintze Ribeiro, procedesse n'esta occasião. Esperava que se afastasse do terreno do debate, deixando nos, no seio do Parlamento e perante o paiz, discutir a sós ,as nossas dissidencias e liquidar as nossas contas como entendêssemos. Não diz isto para censurar o procedimento do Sr. Hintze Ribeiro, mas para lhe manifestar o sentimento de magua que lhe cansou quando viu S. Exa. levantar-se, não para apaziguar ou acalmar as paixões, não para pregar a ordem ou a harmonia, mas para avultar o incidente e tirar d'elle todo o proveito politico, procurando que a sessão fosse levantada e o Governo ficasse debaixo da pressão das ultimas palavras aqui proferidas.

Permitta-lhe S. Exa. e a Camara que diga que ninguem mais do que elle, orador, lamenta o incidente que se levantou. Quando estava falando foi interrompido. Essa interrupção determinou uma Resposta da sua parte; não pôde, porem, ter responsabilidade nas palavras com que foi interrompido. Apella para os seus collegas, embora não precisasse d'isso, porque o seu silencio e o facto de não contestarem o que acabava de dizer, era bastante para mostrar que o que affirmava era a opinião de todos. (Apoiados dos Srs. Ministros).

Emquanto ao Sr. Pereira de Miranda, façamos justiça áquelle nobre caracter. S. Exa., n'aquella occasião, não podia lembrar se que das suas palavras se viesse tirar qualquer illação contra o Governo, ou contra os seus amigos politicos; o que desejou foi apenas acalmar o debate, o que pensou foi somente em pôr termo áquella excitação de momento, sem ir mais longe, sem dar razão a um ou outro dos competidores, porque isso poderia augmentar a mesma excitação. O silencio pedido pelo Sr. Pereira de Miranda significava applauso a um ou a outro? Não, será elle o primeiro, decerto, a protestar contra essa illação. (Apoiado do Sr. Pereira de Miranda).

Referiu-se o Sr. Hintze Ribeiro ás actas do Conselho de Estado. Crê que n'esta parte S. Exa. quiz apenas mostrar a contradicção em que elle, orador, estava com o seu collega do reino, recordando opiniões em tempo expendidas pelo Sr. Eduardo José Coelho quando, na opposição, combateu o Governo do Sr. Hintze Ribeiro. A este proposito o Digno Par leu alguns trechos de discursos proferidos pelo Sr. Eduardo José Coelho. O Sr. Hintze Ribeiro sabe perfeitamente que muitas vezes se levantam divergencias de opinião entre os differentes membros de um Governo e, todavia, essas divergencias, pela sua natureza, não são motivo para demissão. Com respeito ás actas do Conselho de Estado elle, orador, e o Sr. Hintze Ribeiro teem a mesma opinião, mas porventura deve o Sr. Eduardo José Coelho sahir do Ministerio unicamente por ter tido, em tempo, a tal respeito uma opinião contraria?

S. Exa. insistiu mais no adiamento das Côrtes, dizendo que elle, orador, adiara as Camaras para acalmar as paixões e afinal não póde acalmar, socegar essas paixões.

Mas, Sr. Presidente, o que quer isto dizer ?

Pois porque procurou abrir um periodo no meio do qual as paixões politicas pudessem serenar e acalmar-se e não ti conseguiu, segue-se que o adiamento foi mal pedido á Corôa e mal concedido? (Apoiados).

Sabe S. Exa. perfeitamente, e com isto não revela nenhum segredo, porque não diz o nome de ninguem, que a proposta do Governo foi quasi unanimemente acceita pelo Conselho de Estado, todos n'ella concordaram porque todos entenderam que no periodo agudo a que tinhamos chegado, o mais conveniente, effectivamente, era interromper a sessão parlamentar para dar logar á reflexão e para que todos pudessem convencer-se de que para proveito do paiz era conveniente que a tranquillidade se restituisse aos animos, e que os correligionarios desavindos pudessem achar uma forma decorosa de conciliação.

Não o conseguiu.

Mas, disse S. Exa., a culpa é do Sr. Presidente do Conselho porque foi a imprensa progressista que, no interregno parlamentar, esteve azedando os animos dos dissidentes a ponto de produzir a. situação violenta que atravessamos.

Se S. Exa. consultar a imprensa progressista e a imprensa dissidente nos mezes em que durou o intervallo parlamentar, ha de convencer-se de que não veio a provocação da parte da imprensa progressista, mas sim que esta se limitou a responder ás violencias que todos os dias eram publicadas contra o chefe do partido, contra os seus amigos, contra a propria familia do chefe do partido nas folhas dissidentes.

Nunca recommendou aos jornaes do partido progressista que aggravassem a situação, nem azedassem os debates jornalisticos; nunca lhes pediu que respondessem á provocação com provocação ainda maior, antes lhes pediu e recommendou sempre que aproveitassem o primeiro periodo de interrupção nas contendas da imprensa para não dirigirem mais uma palavra e para deixarem estabelecer um periodo de socego e tranquillidade que precedesse a abertura das Camaras.

Não quer repetir aqui, não pode nem deve fazel-o, as palavras que se escreveram na imprensa dos dissidentes, sobretudo n'uma folha importante do norte, a respeito do chefe do partido progressista e de alguns dos seus amigos. Nem a sua propria familia foi poupada todavia a imprensa progressista limitou-se a restabelecer os factos e a responder dignamente, sem nunca procurar nem aggravar, nem irritar os nossos correligionarios de hontem.

Esta é a verdade, e se S. Exa. consultar os jornaes progressistas e os jornaes dissidentes a que se referiu, ha de adquirir a convicção de que effectivamente não partiu a provocação da nossa parte e que elle, orador, longe de aconselhar a provocação, pelo contrario, só pedia moderação e serenidade.

O Sr. Hintze Ribeiro a proposito da moderação que devia guardar nas relações com os antigos correligionarios, dera-lhe conselhos de tal maneira paternaes que não deve deixar de agradecer-lhe, aqui, effuzivamente.

Creia S. Exa. que elle, orador, não é ingrato ás boas intenções que dictaram as suas palavras, proferidas com tal cordura, com tanta uncção, deixem-lhe assim dizer, a proposito dos seus deveres de chefe de partido, dando-lhe indicações e exhortando-o a que procedesse com prudencia e moderação, por isso aproveita este momento, para reiterar-lhe os testemunhos do seu agradecimento, pela bondade com que S. Exa. lhe deu conselhos tão amigaveis e benevolentes.

Mas n'esta parte tem a dizer que não carece de ouvir as paternaes advertencias de S. Exa., porque praticou precisamente no sentido das indicações do Digno Par.

Nunca se esquivou aos que lhe falaram em ideias ou propositos de conciliação; fez sempre, pelo contrario, as declarações mais claras e espontaneas