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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 797

mercio de S. Thomé ficou reduzido, como o das outras provincias africanas, ao trafico dos escravos que iam para a America. Era um deposito de escravos, e nada mais.

Em 1844 estava n'esta situação. Lopes de Lima diz que nessa epocha a população era composta de 12:753 individuos, dos quaes apenas 185 eram brancos.

O movimento commercial, apesar do haver o commercio de escravos, era de 58:000$000 réis, e a receita publica limitava-se a 10:000$000 réis Desappareceu a escravatura, e apesar dos abusos e oppressões dos senhores sobre os liberto; durarem por muito tempo, a população subiu a 22:000 individuos em S. Thomé, e comprehendendo a ilha do Principe a 26:000.

O movimento commercial, que era apenas de 58:000$000 réis em 1844, chegava em 1875 a 634:000$000 réis. 05 rendimentos publicos subiram, tambem notavelmente, a ponto de que só as alfandegas em 1876-1877 renderam mais de 92:000$000 réis.

Por consequencia, sr. presidente, dizer que as nossas colonias não teem todas os requisitos possiveis para prosperarem, é buscar um pretexto para não fixar-a attenção n'ellas. Não creio que ninguem tenha similhante idéa, mas a opinião publica pouco illustrada, que ouve debater muitas vezes o que devemos ou não fazer a favor das colonia; póde suppor que nos cumpre abandonal as.

Sr. presidente, seria isto um erro inqualificavel, um grande erro economico e politico.

Portugal vale ainda muito, e póde valer muito mais pelas suas colonias. É um paiz importante. Não é um paiz insignificante, como muitos portuguezes por ignorancia e por desalento ousam insinuar; é importante, pelas suas colonias, repito. Mas para que Portugal conserve e acrescente essa importancia torna-se indispensavel, torna-se urgente, o do tarmos as colonias de todos os melhoramentos da civilisação. Só assim chegaremos ao desideratum de collocar as nossas colonias em situação de as podermos entregar aos seus proprios recursos. Mas para isto é preciso coragem ousadia, preseverança, unidade de pensamento, e verdadeiro patriotismo Não se governa com palavras vãas, não se dirigem os destinos, ora com uma sentimentalidade sem grandes, ora com uma mesquinharia quasi burlesca.

Chegamos agora a Angola; occupemo-nos rapidamente d'esta importante provincia africana. Em Angola, sabe v. exa. sr. presidente, e sabe-o a camara, em Angola, como está reconhecido por todos aquelles, que têem estudado a colonia com olhos de naturalista, ha tres regiões distinctas. Ha a região do litoral, que é largamente productiva apenas nas margens dos rios, pois que, quando se caminha para fóra dos terrenos invadidos pelas aguas das cheias, a região é completamente improductiva, pantanosa e doentia onde as aguas se acumulara ou estagnam, ahi a população europea é quasi nulla e a indigena relativamente pouco numerosa.

Á região do litoral segue-se a região montanhosa, onde se encontram os productos tropicaes, é esta a região propria do café e da canna de assucar.

Segue-se a esta a terceira região, um planalto onde se encontram os productos vegetaes da Europa, conjunctamente com os productos africanos, e onde a população é bastante densa e laboriosa.

Pediria eu ao sr. ministro da marinha que, em proveito mesmo da instrucção do paiz, tivesse a bondade de mandar publicar alguns documentos que estão na sua secretaria, documentos que eu tive occasião de ler, e muitos dos quaes o sr. Ministro teve a bondade de mandar a esta casa. Entre esses documentos estão notaveis relatorios dos engenheiros da commissão de obras publicas, e n'esse relatorios encontram-se estudos de immensa importancia sobre as condições economicas da provincia.

O paiz ganharia muito com essa publicação, serviria, ella de grande auxilio a todos os que se occupam do futuro das nossas colonias e que têem fé nos recursos de toda a especie que ellas nos podem vir a dar em poucos annos.

Alguem poderia suppor que eu, pedindo a publicação d'estes documentos, tinha só em vista defender a minha opinião. Desejo defendel-a, não o devo occultar, mas ainda que não encontrasse ahi a sua defeza, a publicação d'esses documentos seria sem duvida alguma de grande proveito para o estudo da Africa, e eu pedil-a-ía ao sr. ministro.

Hoje as duas regiões interiores de Angola, as mais productivas, isto é a região montanhosa e o planalto estão quasi incommunicaveis com o litoral para onde se faz o transporte de mercadorias á cabeça dos negros carregadores. E nós sabemos já que cada negro não leva mais de 45 telegramma á cabeça, dos centros de producção até ao Quanza, custando esse transporte 2$000 a 2$500 réis.

D'aqui se pôde calcular o que lucrará o commercio de Angola quando houver communicações faceis para o interior, e sobretudo uma linha ferrea economicamente construida, e em condições de servir quasi exclusivamente ao transporte de mercadorias que só exigem pequenas velocidades.

Não podemos tambem exercer verdadeira soberania n'aquelles povos emquanto não houver meio de transportarmos as forças militares para os pontos do territorio onde occorrerem conflictos de qualquer ordem.

Sabe v. exa. e a camara que muitas vezes tem havido revolta dos sobas. E porque é que essas revoltas teem tomado importancia? Pela immensa difficuldade que se dá de ir de Loanda a força publica até onde a revolta se manifesta, porque esta acaba logo que a força chega lá. E se ás vezes encontrâmos resistencias, são estas provocadas, ou pelas incomportaveis oppresões das auctoridades portuguezas, ou pela imprudente exiguidade das nossas forças.

Por consequencia, repito, é evidente a enorme vantagem que deriva de termos em Angola communicações faceis para o interior de Africa.

Enganam-se os que pensam que ha n'isto um desperdicio, enganam-se ainda mais os que crêem que em preza d'esta ordem póde ser levada a cabo só pela influencia e, acção do governo local, desajudado e a si proprio abandonado pelo governo da metropole.

A população era em 1844, segundo calcula Lopes de Lima, de 386:000 individuos, sendo, approximadamente, brancos 2:000, pretos e pardos, livres 298:000, escravos 86:000.

Já se vê que a espantosa porção de escravos que havia n'esta epocha é mais uma demonstração estatistica de que o trabalho servil, alem de ser uma barbaridade, um crime social, é tambem de uma extrema esterilidade.

N'esse tempo era o movimento commercial do Angola apenas de 2.300:000$000 réis, sendo a importação avaliada em 800:000$000 réis, e a exportação em 1.500:000$000 réis.

Á medida que o triste cancro social da escravidão e do trafico foi diminuindo a intensidade dos seus funestissimos estragos, a população cresceu, a producção augmentou. o commercio desenvolveu-se. Assim, em 1869 a população era já de 433:000 almas, podendo calcular-se que a decima parte são brancos e pardos. Ainda que esta ultima avaliação não seja perfeitamente exacta, comtudo conclue-se que ao crescimento da população indigena correspondeu um notavel crescimento da população de outras raças. A população europea propriamente dita, é de 3:000 almas proximamente.

O movimento commercial teve um grande incremento, devido á maior actividade da agricultura e do commercio, resultante da abolição, do trafico. Assim, nos ultimos annos, anteriores á actual secca, que tem esterilisado os campos de Angola, o movimento commercial póde avaliar-se em mais de 5.000:000$000 réis.

Os rendimentos publicos teem crescido tambem, e podem hoje calcular-se na media em 600:000$000 réis. No ultimo orçamento estão elles avaliados em 433:000$000 réis, mas isto é evidentemente o resultado de o calculo se fazer em re-