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14 Diário da câmara dos Deputados

pendiados por aqueles que talvez a estas horas, nos segredos das chancelarias, sejam acusados de traidores à causa dos aliados.

Lamento o facto, como lamento que intransigências políticas, levadas demasiado longe por um mesquinho espírito de ordem, tenham a pouco e pouco lançado Portugal em convulsões que tem dividido os portugueses por ódios que cavaram fundo.

A melhor prova de sinceridade que poderemos dar aos aliados é mostrar-lhes que nos procuramos aproximar lialmente daqueles bons republicanos que lhes levaram até os campos de batalha da Europa o concurso pequeno mas entusiástico duma legião de bravos.

Não lhes dêmos a impressão de que a nossa sinceridade é nenhuma e que só forçados aplaudimos os actos daqueles que pela causa sagrada da Liberdade, do Direito e da Justiça deram o seu sangue.

Ainda hoje alguém aqui lembrou aquela façanha do bravo Carvalho Araújo, um dos tais odiados democráticos, morrendo nosso pôsto de honra, serenamente, como um herói antigo.

Carvalho Araújo saiu de Lisboa convencido de que, a haver um recontro com um submarino, o pobre Augusto de Castilho estava destinado a desaparecer. Assim o escreveu antes do partir. Nem por isso deixou de se interpor entre o submarino e o vapor que protegia, preferindo a morto ao não cumprimento dum dever que era um sacrifício.

Pois sabe V. Exa. como lhe pagaram a grandeza dêsse sacrifício? Dias depois da sua morte, uns agentes brutais da policia revolviam-lhe a casa, sem esquecer os colchões da cama em que repousava a sua esposa doente, à procura da hidra revolucionária, à procura da prova com que pudessem enxovalhar a memória de um autêntico herói, a uma terra onde há tantos heróis de pacotilha. Pobre Carvalho Araújo! Ao menos repousa longe, no seio das águas, onde não chega, o rumor destas façanhas dos partidários da ordem!

Mas levantemos por momentos os olhos dêste pântano em que se afundam os nossos homens públicos. Há quem tenha encarado a derrota da Alemanha sob aspectos completamente opostos. Uns dizem que ela significa um movimento para as esquerdas, outros entendem que ela quere dizer um retrocesso para as direitas. Já de todas estas opiniões nós tivemos hoje aqui representantes. Para mim esta guerra foi bem a guerra do Direito contra a Força, a guerra da Civilização, criação, convergente de todos os esforços, contra a civilização, criação divergente duma casta, militarista e autocrática. A derrota da Alemanha significa que nunca mais ninguêm deve pensar em resistir ao impulso dum ideal cujas raízes bebem a vida no sub-solo da história. E esta derrota rasga à humanidade novos horizontes.

Não mais se pensará que o aumento da potência da produção, condição essencial para o aumento do bem estar dos povos, se poderá obter à custa do reforçamento da autoridade patronal, por meio duma disciplina férrea a essa noção terá de substituir-se a de que tal resultado se deva conseguir pela socialização crescente dos instrumentos do produção, com tendência para o desaparecimento da instituição patronal.

Preparar docemente a transição, retardá-la tanto quanto possível, sem lhe procurar opor barreiras rígidas, que a vaga destrua e arraze, tal deve ser o papel dos políticos na hora presente. Só assim se poderá conseguir que os homens de amanhã adquiram, a pouco e pouco, a consciência da sua missão e que o abalo a sofrer não lance as sociedades DOS braços dum bolchevikismo, imbecil, sangrento e destruidor.

Em que peze a muitos dos que, forçados, aplaudem a vitória da Enteide, longe vai o tempo do cacete de D. Miguel, cuja reviviscência esporádica só pode acarretar, como consequência, a perturbação e o caos social. O cacete de D. Miguel levou-o o kaiser para a Holanda, escondido nas dobras do seu capote; e a gente só conseguirá pôr-lhe ainda a vista em cima, se Clemenceau o expuser nos Inválidos, quando extraditar o kaiser.

Creiam todos os adoradores de homens que os homens passam e que os actos sociais os dominam e subvertem, quando em lugar de lhes seguirem o impulso, os homens, como D. Quixote, a esbracejar contra um moinho de vento, se lhes pretendem opor.

Os políticos de força só têm um destino: cair pela fôrça. Assim têm, de facto,