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Sessão de 3 de Dezembro de 1918 13

exército de terra o mar e nem uma palavra houve para o Chefe do Estado.

Para o Chefe de Estado do meu país!

Isto dá vontade de chorar!

O corpo diplomático deu um banquete para solenizar a victória dos aliados, e só o Ministro de Itália tentou referir-se ao Chefe de Estado do nosso país, não sendo acompanhado pelos restantes convivas.

Porque é que êste heróico e liberal povo de Lisboa fez as manifestações ruidosas a que todos nós assistimos antes da guerra vencida e até nas horas amargas de Verdun e agora, neste momento, quando essas manifestações eram de esperar, não ouvimos um só viva sequer?

Em Abrantes pretendeu-se fazer uma manifestação aos aliados, mas o administrador do concelho não a permitiu.

Pareço que nos estamos manifestando, mas positivamente não vejo o povo português acompanhar-nos ou preceder-nos, e por uma razão simples, porque os homens que haviam de manifestar-se com autoridade moral, uns estão presos, outros andam a monte e ainda outros estão no exílio.

Sr. Presidente: por êste andar, sou forçado a concluir que não temos representantes na Conferencia da Paz, ou que, se os tivermos, os respectivos delegados serão indicados pelos Govêrnos aliados, sem atenção pelo Govêrno Português. Ainda há pouco os aliados mandaram prender em terras portuguesas um Deputado monárquico, sem deferência nenhuma para o nosso Govêrno nem para os monárquicos.

Saudei aqui, desde a primeira hora, a valentia única dos soldados franceses e a heroicidade dos belgas, pizados pelo pé alemão. Garanti, antes e depois da guerra, com a minha palavra, a coragem dos soldados e marinheiros portugueses. Escuso, portanto, de estar fatigando a atenção da Câmara com cousas que todos conhecem, por as terem ouvido ou lido. Quero unicamente, consoante com as minhas ideas e princípios e com a sinceridade que me caracteriza, levantar vários vivas:

Viva Portugal!

Viva a República Portuguesa!

Viva a Inglaterra!

Vivam os países, corporações e indivíduos que acompanharam a Inglaterra no esmagamento dos impérios centrais!

Êstes vivas foram secundados por toda a Câmara.

O Sr. Cunha Lial: - Sr. Presidente: é triste confessá-lo: somos gente sem fé, sem manifestações de entusiasmo sincero e caloroso, dêste entusiasmo que tem as suas raízes no coração e que do coração sobe aos lábios. Veja V. Exa. o exemplo desta sessão, que deveria ser histórica e que se arrasta para aí, monótona e triste, sem interesse, como se as palavras que se dizem viessem exclusivamente dos lábios e nada traduzissem do que nos vai por dentro da alma.

Aqui, como lá fora, não se sentiu a vitória dos aliados, porque os homens que hoje dirigem os nossos destinos nunca tiveram fé nessa vitória, confiança nos destinos de um Portugal maior, o a descrença e a desesperança transmitiram-se de alto a baixo, lançando na apatia um povo naturalmente sentimental e capaz de todos os entusiasmos e vibrações.

Sonhou-se entre os nossos governantes com a vitória da Alemanha. E, por isso. a derrota do colosso germânico caiu-lhes em cima da cabeça como um balde de água fria, que os deixou melancólicos, inertes, tremendo diante do facto consumado como diante duma fantasmagoria de Hoftmann.

Sr. Presidente: Feita esta observação associo-me do fundo de alma às saudações propostas por V. Exa.

Mas, com a independência e o desassombro de que uso sempre nos actos da minha vida, permita-me V. Exa. que junte uma outra saudação, bem sentida e bem portuguesa, àqueles homens que efectivaram a nossa intervenção na guerra, acto dum alcance político incalculável e que um membro desta casa ousou alcunhar de crime não sei quantas vezes secular. Foi tam transcendental êsse acto que, apesar desta situação ter feito em um ano todo o possível para nos fazer perder as vantagens internacionais que dele derivavam, ainda hoje em dia estamos percebendo os resultados duma adesão franca, aberta e a tempo, à causa dos aliados.

Sr. Presidente : os homens que souberam ligar os nossos destinos aos dos vencedores de hoje, foram já nesta casa vili-