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Sessão de 4 de Dezembro de 1198 11

argumentação do Sr. Secretário de Estudo do Interior resume-se em pedir ao Parlamento que confio no Govêrno que este saberá zelar os interessem e dignidade parlamentar.

É certo, Sr. Presidente, que longe de mim iria supor que numa casa desta ordem o Govêrno faltaria ao que deve a si próprio, como Poder Executivo e, ao que deve à representação nacional. E certo. Mas é certo, tambêm, que a confiança política não se manda nem se dispõe dela por um simples acto de confiança, como direito de ordem sobrenatural, e que nós desejaria mus ou, antes, eu desejaria em nome dos meus amigos dêste lado da Câmara que essa confiança que o Govêrno pede fôsse baseada em alguma explicação mais detalhada sôbre a situação do Sr. António Teles.

Nós sabemos que o Sr. António Teles foi preso, diz-se que em virtude de pedidos da polícia, internacional, e estando incomunicável deve a sua prisão não consta que tenha sido interrogado. (Apoiados).

Diz-se - e eu não tenho dúvida em referir isso diante da Câmara, porque não estou aqui a tratar dum assunto dêste melindre sem expor em que se baseia, a minha atitude, porque uma cousa é a presunção mural de que certa pessoa é incapaz de cometer um facto e outra é justificar por si próprio essa convicção - diz-se (e não era segredo para ninguêm) que o Sr. António Teles tinha na Bélgica um irmão que, segundo se dizia, tinha tomado perante os alemães uma atitude que por forma alguma se compadecia com os seus deveres de português. Era possivelmente natural da parte dum irmão que tivesse mantido com êle qualquer espécie de correspondência o daí pudesse ter havido razões que determinassem algumas suspeitas.

Procurando, porêm, informar-me sôbre êste ponto, eu soube por pessoa de família do Sr. António Teles - que me garantiu sôbre todas as fórmulas de juramento possíveis ser verdade - que êste senhor ignorava por completo há mais de dois anos a situação de seu irmão. Mais ainda: as relações entre os dois irmãos já não eram as que usam ser.

Eu não quero entrar em pormenores de ordem particular; creio que não há dúvida que a situação em que vive a família do Sr. António Teles não é daquelas que se compadecem com um homem que cometeu um crime dessa natureza e que teria tido um proveito qualquer, visto que por mais que isso repugne à natureza humana, quando alguém comete um crime de traição, êste crime há-de ter uma explicação. Não se é traidor por sport, não se é traidor espontaneamente, mas há-de haver uma certa decadência de ordem mural, uma descida na escala do respeito que todos devem a si próprios, para se chegar a um tam alto grau de degradação. Todavia, até chegar a êsse ponto há um certo número do preliminares que se impõem à atenção de todos.

Eu não sou das pessoas que lidam íntimamente com o Sr. António Teles, tendo apenas as relações amistosas que se mantêm com quem milita num mesmo partido e comungo nas mesmas opiniões políticas, e, confesso, nunca me passou pela cabeça que existia ali uma alma de traidor.

Sr. Presidente: a situação em que o Sr. Secretário de Estado do Interior coloca o Parlamento, vindo positivamente, pedir um acto de confiança ao Govêrno, insistindo na prisão do Sr. Teles de Vasconcelos, é muito difícil de aceitar sem umas informações subsequentes.

Por que não se pode seguir a respeito; dêsse Deputado as praxes que se seguiram no Parlamento francês? Se houve acto de traição, êsse Deputado, que é português, cometeu um acto de traição contra Portugal e, portanto, a Câmara dos Deputados tinha aquele direito, que assiste a todos os Parlamentos do mundo, de não deixar prender um membro da representação nacional sem saber os motivos. V. Exa., Sr. Presidente, compreende que estou agora defendendo o Sr. Teles de Vasconcelos como defenderia qualquer outro membro da representação nacional. Está aqui o brio de nós todos; qualquer de nós está sujeito amanha1 a ser preso por mandado da polícia internacional. Parece-me que essa situação do Parlamento Português não se coaduna com a representação dum Estado livre.

Usando da, palavra, não pretendi senão apresentar um certo namoro de reparos sôbre os quais desejava que o Govêrno dissesse alguma cousa mais.

Tenho dito.