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12 Diário da Câmara dos Deputados

que quere ser um partido dentro do Ministério.

Nem outra cousa pode ser, porque nada explica que um homem aceite a Presidência do Ministério através das situações dolorosissimas para a dignidade republicana dos homens que constituíam o Govêrno da Nação Portuguesa.

Permita-me V. Exa., Sr. Presidente, que eu. leia à Câmara algumas cousas que se passaram durante êsse período.

Diz a Situação do dia 4 do corrente ano:

Leu.

E na Situação do dia 7 vejo mais o seguinte:

Leu.

Portanto, até o dia 7, ontem, eu vejo que havia dois Governos em Portugal, porque um Govêrno sem fôrça não se concebe.

Dizia-me, e muito bem, um dia o Sr. Presidente do Ministério, quando lhe diziam que era preciso que todos os republicanos nos déssemos as mãos, dizia-me, repito, o Sr. Presidente do Ministério que êle, emquanto suspeitasse que um homem tinha escondido na sua algibeira um revólver para disparar contra o Govêrno, que era incapaz de pactuar com êle.

Pregunto: pactuou ou não a junta militar com os homens que atacaram a obra de Sidónio Pais?

Sr. Presidente do Ministério: entendamo-nos e deixemo-nos de subterfúgios e habilidades.

A coragem dos homens serve para afrontar as situações de cara à cara, e alguém um dia disse aqui que a pele não era para negócios, que S. Exa. não tinha a sua pele, a dos republicanos e a minha senão para empregar contra os homens que dessem vivas à monarquia no Pôrto, e o Sr. Presidente do Ministério, homem corajoso, com a sua acção, não teve a energia suficiente para mandar prender um único monárquico, porque S. Exa. está indissoluvelmente ligado a êles.

Sr. Presidente: as situações não se criam num momento; as situações que aparecem de repente perante os ódios dós estadistas são o freio duma série de actos que se entrelaçam e cujas consequências, num dado momento, aparecem nítidas e palpáveis.

O Sr. Presidente do Ministério e vários membros que têm estado no Govêrno entregaram a República aos monárquicos. Êste é o motivo por que estamos na situação em que nos encontramos. (Apoiados).

Não é a primeira vez que faço aqui esta acusação. Já a fiz nas reuniões da maioria. Lembro-me de que, numa das reuniões da maioria, e seja-me lícito trazer êste facto para aqui, ou disse ao Sr. Presidente do Ministério que o Sr. tenente-coronel Álvaro do Mendonça, nomeado Ministro da Guerra, era um monárquico confesso, era um antigo conspirador. (Apoiados).

Perguntei eu então se o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça, ao aceitar o cargo de Ministro, tinha feito a sua profissão de fé republicana. Não iria preguntar se o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça era monárquico se êle me declarasse que hoje era republicano, mas tinha a convicção de que êle não era republicano.

Interroguei o Sr. Presidente do Ministério sôbre qual era a sua maneira de pensar a respeito do então Ministro da Guerra. S. Exa. disse-me que, sendo o Sr. tenente-coronel Álvaro de Mendonça, reparem V. Exas. nisto um homem de honra, como homem de honra não podia proceder senão como republicano.

Eu sei que V. Exa. foi acusar, em seguida à morte do Sr. Dr. Sidónio Pais, o Sr. Álvaro de Mendonça, de que êle andava pelos quartéis criando uma atmosfera propícia para a formação de um Govêrno militar que, dissolvendo o Parlamento, consultaria o país se queria a monarquia ou a República, como se um Ministro duma República pudesse ter a ousadia de dizer que o país não era republicano.

Êsse homem não procedeu como republicano; procedeu como monárquico, porque se êsse homem fôsse honesto, estando Ministro duma República, não teria a ousadia de dizer que o país não era republicano.

A que vinha, pois, a consulta?

Era ou não isto uma traição disfarçada?

E eu pregunto ao Sr. Presidente do Ministério, servindo-me das suas palavras: é para V. Exa. o Sr. Álvaro de Mendonça é um homem de honra?