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Sessão de 8 de Janeiro de 1919 13

Houve, pois, Sr. Presidente, através dêste ano imensas complicações na nossa vida política.

Eu quero prestar justiça às intenções do falecido Presidente Dr. Sidónio Pais. Não desdigo nesta hora uma única palavra, nem me arrependo do que disse em vida de S. Exa.

Já um jornal, que me dizem representar no jornalismo português o modo de pensar do Sr. Presidente do Ministério, quero referir-me ao jornal O Tempo, chamando sôbre mim, que sou uma figura apagada e humilde, as atenções da multidão, justamente excitada pela morte do Sr. Dr. Sidónio Pais, fazia ver que eu, o adversário liai, que tivera sempre a coragem de dizer o que pensava, era um dos instigadores da sua morte.

Não me importa de incorrer em. acusações resultantes da parte de qualquer criatura.

Respeito a memória do Sr. Dr. Sidónio Pais, mas o Sr. Dr. Sidónio Pais é uma figura que pertence à história, e como tal é preciso fazer justiça às suas boas ou más intenções.

O Sr. Dr. Sidónio Pais teve uma visão política errada no nosso país.

Num dado momento teve contra si todos os partidos políticos republicanos.

O partido monárquico não lhe podia prestar o auxílio em bloco. O Sr. Dr. Sidónio Pais pensou em abstrair dos políticos para olhar às classes, mas o país não estava preparado para isso, para êsse apoio de facto.

O partido republicano não lhe dava homens para a sua obra e teve de ir buscar monárquicos, mais ou menos disfarçados, e êsses monárquicos, em lugar de se considerarem homens das suas classes, quer dizer, o militar como membro de exército e o magistrado como membro da magistratura, não se esqueceram da sua qualidade de monárquicos.

Não foi culpa do Sr. Dr. Sidónio Pais, que procedeu com aquela isenção que lhe conhecíamos, e assim os comandantes das guarnições de Lisboa e Pôrto são todos monárquicos, fazendo-se dentro do exército português uma verdadeira caça aos republicanos. De modo que chegamos a esta conclusão estupenda: é que uma República se aguenta sem republicanos.

Como pode ser isto?

O resultado foi o seguinte: no dia em que o prestígio pessoal do Sr. Sidónio Pais desapareceu do tablado da República Portuguesa, os monárquicos, que se consideravam seus colaboradores, apareceram todos, não como membros da magistratura, não como membros do exército, mas como monárquicos confessos, retintos, não querendo fazer a monarquia naturalmente porque as circunstâncias políticas da Europa o não permitiam.

Nós, os republicanos, aqueles que somos republicanos, e eu apelo para o republicanismo de V. Exa., de sempre, temos ou não temos o direito, digo mais, o dever de opor a essa onda uma outra onda, lutando contra todos os traidores conscientes ou inconscientes?

Diga-me V. Exa. se não é dever de honra de homem honesto lutar até o fim!

Os soldados da Republica não traem, e quando o Sr. Presidente tiver a coragem do lançar ossos homens contra a indisciplina do exército, contra a demagogia do exército, há-de encontrar êsses republicanos ao seu lado, e só os não encontrou porque não quis, e só os não encontrou porque não lhe soube falar à alma, por que V. Exa., Sr. Presidente do Ministério, desculpe-me que lhe diga, V. Exa. para os republicanos hoje não merece confiança.

Sr. Presidente: lembra-me agora vagamente dum artigo publicado em tempos no Liberal, da autoria do Sr. Satúrio Pires, criatura que, através dos seus escritos, me, tenho costumado a respeitar.

Descrevia êsse artigo a parada das fôrças que se fez em Lisboa no dia da proclamação do Sr. Dr. Sidónio Pais, enaltecendo o garbo com que se tinham apresentado todas as unidades, e acrescentando que todos os seus comandantes eram os bravos correligionários do Sr. Satúrio Pires.

Variadíssimas vezes eu protestei nas reuniões particulares e públicas contra esta transigência, a de se permitir que um oficial do exército se declarasse monárquico.

Eu entendo que um oficial do exército pode ser dentro do seu cérebro o que quiser, mas no exercício do seu cargo tem do ser simplesmente republicano.

Sr. Presidente: o pretexto estava aparente, estava encontrado, para fazer a monarquia, ou para guardar na República,