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Sessão de 3 de Fevereiro de 1919 11

abdique dos seus ódios pessoais e quem saiba esporar a hora em que êsses ódios devem ajustar as legítimas e naturais contas.

Quando se nos apresenta o tremendo problema da defesa da República, que consubstancia todos os nossos ideais, sabemos pôr de parte todos os nossos justos melindres e combater, lado a lado, com as criaturas que odiamos do fundo da alma, que pessoalmente nos não merecem respeito, nem consideração.

É imprescindível, Sr. Presidente, que todos os homens se convençam de que a política republicana deve ser republicana, feita sem retaliações, sem exigências, sem conluios da meia noite, sem o apagar e acender de luzes, pela calada da noite, cousas só próprias dos dramas do Rocambole.

É com esta condição de todos abdicarmos de legítimas inimizades pessoais que a República estará salva, porque não há couceirista que não fuja diante de nós.

Disse-me há pouco, um dos mais briosos oficiais que tomaram parte no ataque a Monsanto, o Sr. Deputado Melo Vieira, que o único oficial que encontrou à frente das unidades revoltosas foi o Sr. Delfim Maia, os outros estavam todos dentro do forte.

E é esta uma das nossas defesas, porque, como bem se compreende, entregues todos os comandos aos monárquicos, se mio fôsse a fé dos republicanos e a cobardia dos monárquicos, estávamos perdidos.

Salvamo-nos por êstes dois únicos motivos: porque o povo tem na sua alma uma fé que resiste a todas as provas a que os monárquicos o submetam, e a todas as desilusões que nós lhe temos dado, e porque os monárquicos são fundamentalmente cobardes.

Sr. Presidente: a República está acima de tudo, acima de todas as ambições, como de todos os ódios.

Uns têm a pertensão de ser Ministros, outros de serem Presidentes de Ministério, outros ainda a noção de que são indispensáveis aos destinos do país. Todas estas pretensões e vaidades, porem, tem de desaparecer, devendo-se atender a que os homens se firmam apenas pela sua maneira de pensar e actuar. Assim, a República será imortal e nós corresponderemos à confiança que o povo em nós depositou.

Acabe-se, pois, com o velho critério, expresso numa frase que é bíblica: "Morra Sansão e todos quantos aqui estão". Os republicanos não têm o direito de dizer isto, só têm o direito de afirmar o contrário: "Morram os inúteis para a vida poética, mas salvemos a República, a República sem sub-títulos, nem etiquetas, a República sem acrescentamentos de nova ou velha". República há só uma: foi a proclamada em 5 de Outubro de 1910, se bem que haja muita gente que se tenha esquecido disso.

Sr. Presidente: não desejo alongar-me em mais considerações, para não fatigar a atenção da Câmara, certamente desejosa de ouvir a palavra doutros oradores, cujos serviços à causa da República possam vangloriar-se daquele talento que me falta. Mas, Sr. Presidente, não posso deixar de dizer à Câmara que a hora é de sacrifícios.

Um quarto de Portugal está nas mãos dos nossos inimigos que são implacáveis, que não hesitam diante dos meios a empregar contra nós. Seremos todos sacrificados, os que representam a tradição da República velha e os que representam a tradição da República nova, tirando um ou outro aventureiro que emporcalhava, passando-a pelos lábios, a palavra República. Demos todos as mãos para salvarmos a República. A mim tanto me apraz prestar a minha homenagem ao Sr. Pinto Osório, representante do Partido Nacional Republicano, como ao Sr. Domingos Leite Pereira, representante do Partido Democrático. Os que são militares devem dar ao Govêrno o concurso da sua espada e os que o não são, os que são apenas a sentinela vigilante da lei, devem dar ao Govêrno o concurso da sua boa vontade. Que a República se salve; outra não pode ser, nesta hora, a aspiração dos republicanos.

Por isso, Sr. Presidente, peço à Câmara que junte os seus votos aos meus e que, comigo, peça ao Govêrno que salve a República.

Tenho dito.

O Sr. Adelino Mendes: - Vejo, com infinito júbilo, nas cadeiras do Poder um Govêrno integralmente republicano. Vão