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12 Diário da Câmara dos Deputados

ainda bem porto os factos anormais e gravíssimos que puseram, num dado momento, em Portugal a República em perigo. Rememorá-los neste momento nem seria piedoso, nem conveniente. Deixemo-los, portanto, em paz todo o tempo um que tiverem de estar esquecidos, para os recordarmos só quando fôr absolutamente necessário recordá-los, a fim de que a história só foça, e para que a todos aqueles que nestes últimos tempos têm tido o poder nas mãos se faça a justiça completa que lhes fôr devida.

Dito isto, Sr. Presidente, entendo ou que nesta sessão, a primeira que ao realiza depois duma revolução monárquica, que pôs o país em perigo, que fez com que a independência nacional corresse um gravíssimo risco, que esta Câmara não pode encerrar-se sem prestar ao povo português, não só ao de Lisboa, mas ao de todo o país, ao povo autêntico, àquele que sabe sofrer e àquele que sabe combater, a homenagem a que êle tem direito.

Naquela madrugada trágica, em que as fôrças monárquicas se entrincheiradas em Monsanto não sei, Sr. Presidente, se a Republica encontrou a seu lado grande número do defensores. Não sei tambêm se todos aqueles que, tinham, obrigação de a defender, mesmo aqueles que tinham por missão fundamental, a que não podiam faltar por considerações de nenhuma espécie, foram os primeiros a juntar-se em volta do Govêrno, para lhe levarem o seu concurso, que devia ir até ao sacrifício em defesa da República ameaçada. Mas sei que no momento em que o Govêrno disse ao povo de Lisboa que precisava da sua coragem, e do seu sangue, para que a República não morresse êsse povo apareceu a pegar em armas, para que a República tornasse a viver.

Eu assisti a êsse espectáculo inolvidável, e insensivelmente recordei outros, de que a história nos fala, que certamente devem ter sido tam grandiosos e patrióticos como aquele. E vi em todos os cidadãos que se apresentaram a oferecer-se para a luta, descendentes do alfaiate Fernão Vasques, que no tempo de D. Fernando levou até os pagos riais o povo de Lisboa, para evitar que a independência nacional de comprometida por aqueles que, tendo-a na sua mão, não a sabiam defender. O mesmo povo nos aparece agora, constituído da mesma massa, com a mesma fé, a mesma energia e o mesmo patriotismo, que levaram os ventres ao sol à vitória de Aljubarrota. Essa fé, essa energia e êsse patriotismo há-de subsistir sempre, para que nem as instituições, nem a Pátria possam jamais desaparecer. O povo de Lisboa portou-se com a heroicidade que era próprio esperar dele. Quanto ao povo da província, sôbre secundar com igual dedicação e abuegação a atitude do povo de Lisboa, demonstrou uma vez mais que é nas classes populares que a República tem as suas principais raízes, verificando-se ainda que, neste momento de angústia, foram as classes populares que mais se esforçaram para defender a República. E assim pregunto se não será de toda a justiça que nesta caso se vote hoje uma ardente saudação a êsse povo (Apoiados), para que o seu sentimento republicado e nacional cada vez mais se afirme, e se exalte até o ponto de ser nele que a República encontre sempre a maior razão da sua existência.

Esta homenagem é perfeitamente justa; e dito isto, e cumprindo êste dever, quero ainda afirmar ao Govêrno, presidido por um dos mais ilustres republicanos, por que dos mais ilustres cidadãos de Portugal, que pode contar com o meu incondicional apoio em tudo que seja defender a República, em todo, quanto signifique expurgá-la de todos os elementos dissolventes que ela tenha no seu organismo. Porque há, Sr. Presidente, um absurdo que não compreendo: é o de haver oficiais do exército que não se cansam de dizer que são monárquicos, o que prova que a República não tem cuidado da sua defesa com a energia devida (Apoiados).

Tenho dito.

O Sr. Joaquim Crisóstomo: - Sr. Presidente: neste momento grave e doloroso de incerteza e de desolação, em que a República corro risco, e inclusivamente nos encontramos na contingência de perdermos a independência da nossa nacionalidade, entendo do meu dever dizer o que penso acerca da actual, situação política. A ninguêm, nesta casa do Parlamento, alheio aos partidos organizados, é lícito deixar de definir a sua atitude, e