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10 Diário da Câmara dos Deputados

orientar a sua acção. Essa fôrça é o que se chama o povo republicano, aquele que não está arregimentado dentro das facções o partidos que estão em oposição ao partido monárquico, que pretendia reviver em Portugal e que fez com que os republicanos de todos os partidos, aqueles que não têm responsabilidade na orientação superior dêsses partidos, se aproximassem e se unissem, esquecendo antigos ódios e antigas retaliações.

Esqueceram tudo isso para se lembrarem só da República; e dessa miscelânea do indivíduos saldos dos diferentes partidos, na sua opinião nitidamente republicanos, é que, saiu o povo que não está integrado em nenhum dos partidos da República e que impôs aos Governos uma acção enérgica contra as criaturas que em Monsanto tinham ido apregoar cora a bandeira azul e branca os seus sentimentos de traição; foi êsse povo que, não se importando com directórios nem com ambições, foi até Monsanto, levando do roldão os traidores da monarquia.

Ao povo republicano pouco importa a divisão dos cargos administrativos ou das pastas pelos partidos, porque não é isso que resolve o problema da nossa nacionalidade.

O problema é êste: é preciso salvar a República, firmar a República.

Os monárquicos estão no norte há cêrca de um mês, e perante êles mantemos uma inacção que apavora êste povo.

Quando se deu o movimento revolucionário de Santarém, a fé republicana do Govêrno levou contra Santarém quási tantos homens quantos neste momento se tem conseguido reunir contra os paívantes.

Há razões para isso?

Deve havê-las; mas o povo, que é simplista, o que vê é que não tem havido uma acção tam enérgica como era precisa para arrancar dali o escalracho monárquico. O povo o que vê é que em Lisboa continuam regimentos e batarias e que a todo o momento há sustos de revoluções. E, entretanto, havia uma forma do evitar o perigo das revoluções, ora fazer marchar para o noite essas fôrças. O povo que no Campo Pequeno ofereceu o esfôrço dos seus braços, queria que o utilizassem.

Qual o motivo por que tudo caminha tam lentamente?

Deve haver razões para isso, e eu, com as minhas palavras, venho fornecer ao Govêrno ensejo para tudo explicar e mostrar, dentro daquilo que as conveniências políticas permitirem, qual é a situação dos republicanos perante os monárquicos.

Mas o povo não vê só isto; vê monárquicos suspeitos à sôlta conchavando em plena liberdade novas tentativas revolucionárias; os Deputados monárquicos em conversas com sargentos, procurando promover novas desordens; sente que elementos suspeitos se agitam, à superfície do país; sabe que, altas horas da madrugada, em um club, vinte e tantos oficiais gritavam pela monarquia; ouviu o Sr. Melo Vieira dizer aqui que encontrara nas ruas de Lisboa indivíduos que em Monsanto combateram contra êle; ouviu dizer que fugiram presos de Monsanto... Cito factos, não cito pessoas.

Vou citar mais um facto.

O caso é grave, porque me parece que o Govêrno está procedendo no norte com aquela brandura, com aquela meiguice e que usa aqui em relação aos nossos adversários.

Esta é a impressão que transparece através do noticiário cuidadoso que todos os dias aparece no Diário de Noticias acerca dos acontecimentos que se estão desenrolando.

No Pôrto não há actualmente um único republicano solto. Todos estão encarcerados. E eu direi que os monárquicos fazem muito bem. Tratando-se duma guerra de morte entre monárquicos e republicanos, tem de se definir os campos.

A República deve defender-se dentro da lei, sempre que fôr possível; e saltando-se fora da lei, se tanto fôr necessário.

O povo quere que termine esta crise, que a República se salve através de tudo.

Se fôr preciso, salto o Govêrno para fora da lei!

O povo, que está vigilante na defesa da República, vê e observa várias cousas. Por exemplo, há poucos dias o Diário de Noticias noticiou que o Sr. António Sardinha anda manobrando na fronteira, cêrca de Elvas, e ao mesmo tempo correu o boato de que o director da Alfândega de Elvas, que é integralista, facilitava a entrada de armamento.

Sei que, felizmente, o Govêrno deu or-