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Sessão de 11 de Fevereiro de 1919 13

leza - que nós imitemos os monárquicos disfarçados em republicanos, como o Sr. Álvaro de Mendonça, que dava ordens para S. Julião da Barra no sentido de se não mandar nenhum preso para o hospital, e que, quando algum estivesse doente, o deitassem ao mar!! Não quero isso, mas exijo que não haja demasiadas complacências. Eu sei que, por exemplo, no hospital da Estrela dão entrada presos doentes que não estão doentes, e o resultado é êles estarem numa constante comunicação com as pessoas que os vão visitar e com o pessoal de enfermagem. O mesmo sucede com os presos a bordo dos navios de guerra, como, por exemplo., com o Sr. Costa Pinto, chegando êsses presos a fazer chegar cartas suas cá fora, apesar de guardados com sentinelas à vista.

Ora, não se podem ter tantas complacências nesta altura, porque os nossos inimigos também as não têm connosco.

Resta-me, Sr. Presidente, falar das medidas gerais que me parecia urgente tomar, relativamente ao que se passa no exército português.

Todos sabem que no exército, entre a sua oficialidade, sobretudo nos últimos tempos, se desenvolveu uma enorme corrente monárquica.

No tempo em que eu era estudante, era uma questão de snobismo, quási, o ser-se republicano, e hoje existe no exército um snobismo perfeitamente oposto: o chie, o decente é ser-se monárquico, e a Escola de Guerra é um perfeito alfobre de monárquicos.

Por várias vezes tenho defendido a tese, no Parlamento, de que se não pode ser, ao mesmo tempo, oficial do exército e monárquico.

É indecoroso que o regime permita no seu exército oficiais que se declarem monárquicos, e, ao mesmo tempo, tenham de ser republicanos. Republicanos, porque a sua função é defender a República; monárquicos, porque as suas ideas assim o querem.

Eu não me posso meter dentro da cabeça de cada um para saber o que êle pensa, qual é o seu critério. Agora o que não faz sentido, o que não pode ser, é haver dentro do exército oficiais que se confessam, monárquicos. Consente-se isso, e não se devia consentir, pois é um grave êrro.

Se a monarquia o consentiu, nos últimos anos do seu regime, foi por estar na sua decadência, por ser um regime putrefacto ; mas nós, que somos um regime novo, não devemos cair nesse êrro.

V. Exa., Sr. Presidente do Ministério, tem de fazer o cadastro dos oficiais que publicamente se declararam monárquicos, daqueles cujos nomes r vêm nos jornais sem o seu protesto. E preciso prender todos êsses cabecilhas que impunemente passeiam pelas ruas de Lisboa. V. Exa. pode ter a certeza de que, se a monarquia voltasse, não consentiria no exército ninguém que fôsse republicano; eu, antes que me dessem a demissão, pedi-la-ia primeiro.

Não é possível podermos viver assim; não podemos caminhar, não podemos desenvolver as nossas fontes de riqueza, não podemos progredir. E duma necessidade absoluta para o país que nós adoptemos essas medidas e, quanto mais cedo, melhor, para já!

Daqui a dois meses será tarde, virá a sentimentalidade de todos nós, e essas criaturas aparecerão como vítimas. E preciso que essa limpeza se faça já! E preciso que o povo veja à frente das unidades do exército republicanos convictos.

Sr. Presidente: deixe-me V. Exa. mais uma vez estabelecer confronto entre o procedimento dos republicanos e o dos monárquicos do norte.

Aqui a Câmara preocupa-se sôbre se o Sr. Aires de Ornelas deve ou não continuar a ser nosso colega nesta Câmara.

Êles vão direitos ao seu alvo. Para proclamarem a monarquia, passam por cima de tudo. São implacáveis. O jornal Primeiro de Janeiro ensaiou um ligeiro movimento de desagrado contra os revoltosos.

Sabe V. Exa. o que êles fizeram?

Partiram as cabeças aos redactores e a seguir puseram naquela redacção um grupo de redactores seus. Isto é que se chama saber-se defender!

Eu não aplaudo violências, mas acho que quando quaisquer criaturas vão para uma aventura dispostas a jogar as suas vidas na defesa dum ideal que julguem ser aquele que há-de impulsionar o progresso do seu país, têm desde logo o direito de se defenderem, e bem, não digo com violências, mas com energia.