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20 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Presidente: - Vou consultar a Câmara sôbre se consente que use da palavra, sôbre o mesmo assunto, o Sr. Malheiro Reimão.

Foi aprovado.

O Sr. Maurício Costa: - Mas o debate não está generalizado.

O Sr. Presidente: - Mas mesmo que; não esteja, o § único do artigo 135.° permite-lhe usar da palavra.

Vozes: - Foi votada a urgência.

O Sr. Presidente: - Foi resolvido que sôbre o assunto da interpelação do Sr. Cunha Liai podia falar o Sr. Malheiro Reimão. Deve, portanto, usar agora da palavra êste senhor Deputado, tratando-se; depois do assunto urgente do Sr. Proença Duarte.

O Sr. Malheiro Reimão: - Pedi a palavra únicamente para rebater algumas afirmações do Sr. Presidente do Ministério.

O que mais me chamou a atenção foi S, Exa. ter perfilhado uma asserção, já aqui feita, de que foi exclusivamente o povo de Lisboa que concorreu para a vitória da República.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (José Relvas): - Perdão. Não disse, que foi exclusivamente o povo, não estando no meu ânimo o não desejar reconhecer os serviços prestados pelo exército.

O Orador: - Pelo menos, disse V. Exa. que a intervenção do povo de Lisboa teve influência decisiva, e, como isto se tem afirmado aqui mais duma vez, desejo levantar a luva em nome do Govêrno a que pertenci e das fôrças que, sem hesitação alguma e sósinhas, foram contra Monsanto sem saberem quem lá estava.

Não pretendo de modo algum duvidar das intenções, da dedicação e da fé com que o poyo defendeu a República, mas o que é certo é que o Govêrno de então mandou as fôrças é elas foram sós. Isto é que se torna necessário que se frise para que acabe a especulação que se tem feito.

Nessa noite trágica em que a República foi atacada à traição, toda a Lisboa, dormia sossegadamente, e, nessa altura, nós, o Govêrno, contra tudo e contra todos, vimos que só tínhamos uma missão a cumprir: defender o regime!

Convencidos de que o nosso dever era combater a monarquia, implantada em Monsanto, não pedimos, apoio a ninguém. Fomos sósinhos, com a consciência nítida da missão que nos incumbia, Eram pequenas as fôrças de que, dispúnhamos, mas tínhamos confiança na sua ardente fé.

Isto é que é preciso que se diga, porque é necessário que se saiba que foi o Govêrno e as suas fôrças quem, naquelas horas terríveis, salvou a República. Foram a marinha, a guarda fiscal, a guarda republicana e algumas fôrças de adidos do C. E. P. que aguentaram o embate e que fizeram com que ainda hoje exista a República em Portugal!

Desculpe-me V. Exa., Sr. Presidente, a minha exaltação, mas já há bocado me chamaram creio que monárquico e, quanto a mim, já muita gente sabe o sacrifício que fiz e como trabalhei. Chamaram-me monárquico porque? Só quis apenas parecer republicano!

Não é preciso parecer; é preciso sê-lo.

É preciso sentir-se alguma cousa no íntimo que nos faça vibrar nas ocasiões em que a República esteja em perigo.

Não me importo que as galerias gostem ou não, que o povo apoie ou não; o que me importa é ter a fé republicana, e essa tenho-a.

Desafio seja quem fôr que possa dizer que fez tanto como eu para salvar a República neste transe.

É necessário dizer estas cousas.

Não basta porem-nos fora quási com o apodo de maus republicanos, para se aproveitarem depois da situação que deixámos!

Na altura da luta toda a gente era de opinião que devia continuar o Govêrno que estava, e só depois todos quiseram o poder.

Compreendo muito bem que o Sr. Presidente do Govêrno tenha noites de vigílias e de cuidados. Eu sei também o que passei. Estive três noites que não me deitei, e sem ir a casa.

Sr. Presidente: se digo isto é porque me obrigam a dizê-lo para me defender.

Daqui a pouco chamam-me monárquico não sei com que direito!