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Sessão de 17 de Fevereiro de 1919 11

A liberdade não vivo senão numa atmosfera de tolerância. Previno, por isso, as galerias de que devem estar sossegadas.

O Orador: - Sr. Presidente: êsses que fazem insinuações à pessoa de Teófilo Duarte já se não lembram da forma como êle tratou os revolucionários democráticos de Santarém.

Parece-me que não resta dúvida alguma que Teófilo Duarte é republicano e como tal todos o conhecem; pois apesar disso é preso, insultado e vexado!

O mais extraordinário de tudo isto é que Teófilo Duarte fôsse preso depois do Sr. Presidente do Ministério, na presença do Sr. Alberto Pais e do Sr. governador civil, homem sério, ter dado a sua palavra de honra de que o referido oficial não seria preso!

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (José Relvas): - Eu dei a minha palavra até onde foi possível, - e peço licença para dizer que me pareço que não sou obrigado a vir todos os dias aqui dizer até onde comprometi a minha palavra. Foi de facto um incidente deplorável para todos nós, a prisão do Sr. Teófilo Duarte, - mas teve de se dar.

Devo acrescentar:

Primeiro: seu irmão Proença Duarte não se queixou do tratamento; pelo contrário, agradeceu a maneira por que tinha sido tratado.

Segundo: a prisão de Teófilo Duarte tinha de se dar, pois corria perigo de alteração da ordem pública, por motivo da atitude dêsse oficial. Todavia compreendo a insistência de V. Exa. visto que é seu irmão.

O Orador: - Mas V. Exa. deu a sua palavra de honra.

(Sussuro nas galerias).

(Trocam-se apartes).

O Sr. Presidente: - Já avisei as galerias de que as mandaria evacuar se continuassem a manifestar-se.

Peço a V. Exa. que resuma as suas considerações.

O Orador: - Eu vou terminar. Aproveito estar presente o Sr. Ministro das Colónias para lhe preguntar se já deu resposta a um ofício que o Sr. Teófilo Duarte lhe dirigiu como governador, que ainda é, de Cabo Verde.

Eu vou ler êsse ofício a V. Exa.

Sussurro nas galerias.

O Sr. Presidente: - V. Exa. está fora da ordem.

Vejo-me obrigado a retirar-lhe a palavra.

Agitação nas galerias e na sala.

O Sr. Presidente: - Está interrompida a sessão.

Eram 16 horas e 30 minutos.

Às 17 horas é reaberta a sessão.

O Sr. Presidente: - Peço a todos o maior silêncio e a maior cordura.

A República, como expressão da Democracia, é o regime da liberdade, e a liberdade só vive na tolerância.

E necessário que ouçamos com o mesmo acatamento tanto aqueles que falam ao nosso agrado, como aqueles que nos desagradam. Aqueles que falam ao nosso agrado têm a nossa aprovação; aqueles que não falam ao nosso agrado, embora não tenham a nossa aprovação, não devem receber de nós manifestações de desrespeito.

De resto, nesta sala é só aos Srs. oradores que compete combater ou defender as ideas segundo o seu critério.

O Sr. Cunha Lial: - Sr. Presidente: se estivesse presente o Sr. Bernardino Machado êle diria: "Afinal estamos todos de acordo!"

Eu creio que há um sentimento comum a todos os republicanos, que e é amor pela República, e que há uma diferença fundamental entre monárquicos e republicanos: os monárquicos não sabem ter o amor pelo seu ideal naquele grau de pureza, naquela intensidade de paixão que faz com que a República seja invencível em Portugal, que faz com que todos os movimentos, mesmo aqueles que são auxiliados pela mais vil, pela mais negra, pela mais infame das traições, sejam dominados com facilidade. E, quando parece que êles vão durar meses, em poucas horas a vibração da alma republicana, o sentimento da alma republicana, a cora-