O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 Diário da Câmara dos Deputados

gem da alma republicana dominam e subvertem êsses movimentos, que vêm de longo anos, que vêm de 1916, que se continuam perseverantemente, através de todo um longo ano de traições, através de todo um longo ano de enganos, com a palavra de honra nos lábios e a traição dentro da alma!

Esta é a grande virtude da alma republicana. Resiste a todas as traições, resiste a todas as faltas de coragem, resiste a todas as desesperanças; - e na hora própria, quando o inimigo se apresenta diante do nós, os republicanos, todos nós, aqueles que cometeram erros que até pareceram traições, e aqueles que pela República deram todo o seu esfôrço e nas prisões foram vergastados, todos êles, os que erraram e os que conservaram a pureza da sua fé republicana, todos se unem para combater o inimigo.

Sr. Presidente: do norte ao sul dopais corre neste momento uma rojada de entusiasmo republicano. A Lisboa amordaçada, espesinhada, a Lisboa com os calabouços pejados de presos, com as costas dos republicanos vergastadas a cavalo marinho, foi a Monsanto o expulsou de lá a traição mais hedionda o vil. Depois de Lisboa, a heróica, o Pôrto espesinhado pelos Alegros e Luíses de Magalhães, onde essa figura sinistra e traiçoeira de Paiva Couceiro viveu, mentindo desde a primeira hora, o Pôrto heróico, o Pôrto generoso, o Pôrto nobre, espesinhado, amordaçado, logo que tem uma válvula por onde pode respirar, respira e, num jacto de entusiasmo, numa vibração de fé republicana, atira pela porta fora essa monarquia de farçantes, essa monarquia do cínicos, essa monarquia de homens que traziam nos lábios, sempre, a palavra de honra, e na alma, sempre, a traição e a mentira.

Sr. Presidente: o Pôrto e Lisboa são iguais na grandeza da sua fé republicana que, dentro da alma dos republicanos, canta hoje um hino de vitória e do triunfo.

Os republicanos sinceros e dignos dêste nome têm uma intensidade de fé incomparável, têm uma verdadeira paixão por esta idea, paixão cujos alicerces lhes provêm do seu enorme, do seu constante entusiasmo pela República. Querem tanto à República que naturais são os seus excessos. Respeitemos êsses excessos que são fruto da sua paixão, mas digamos que queremos uma República ferozmente republicana e ferozmente honesta, para que se distinga da monarquia farçante dos Paivas Couceiros, dos Luíses de Magalhães, dos Alegres e dos tristes do norte do país.

Sr. Presidente: é preciso que se compreenda, duma vez para sempre, que há direitos sagrados, nesta hora, da parto dos que lutaram para que a República não fôsse entregue aos monárquicos e que aqueles que erraram, aqueles que iam subvertendo a República, embora façamos justiça ao seu honesto republicanismo, não devem aparecer como juizes perante a República, mas ajoelhados perante êsse povo que saiu das cadeias e prisões para agarrar em armas e, ao lado dos que o tinham lá metido, sem rancor algum, combater os de Monsanto. É preciso que êsses homens, que erraram, ajoelhem diante dos indivíduos que das prisões do Pôrto saíram para esfarrapar essa frandulagem do Paiva Couceiro. E ajoelhados, como pecadores que erravam, não por má intenção, mas porque não souberam compreender o momento que atravessamos, que eu quero ver aqueles republicanos que nos iam conduzindo à monarquia... através do seu amor à República!

Não se arroguem direitos que não têm. Compreendam essa admirável fé na República e ajoelhem em frente dela. Perdoem excessos, porque êles são a contraprova dum imenso amor por essa República. Compreendam isso bom e devem à união dos republicanos todas as satisfações que ela exige e quere. E ela quere tam pouco!

Ela deseja, simplesmente, que a República governe com todos os portugueses, mas que dentro do Estado só haja republicanos a governar êsse Estado. Exige a limpeza do exército e da burocracia e não há fôrça humana que consiga obstar a que consigamos isso!

Não há ninguém que possa opor-se a essa onda de revolta que vai dentro da alma republicana contra os monárquicos e que há-de lá ir ao lugar onde êles estão, deitá-los pela janela fora, para que êles nunca mais nos possam apunhalar pelas costas, para que êles nunca mais possam mandar contra nós os seus sicários.