O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 18 de Fevereiro de 1919 15

Martins representa uma corrente que a opinião republicana aceita ou não aceita, por mim não serei por ora juiz nesta causa, reservo-me para quando o assunto chegar à tela da discussão e então com a franqueza com que sempre costumo apresentar as minhas ideas direi à Câmara o que penso sôbre o assunto.

O que é certo é que o Senado existe assim.

Vamos nós deixar ficar êsse Senado ou vamos transformá-lo?

O futuro Senado será como êste ou terá outro modelo, outro figurino?

O Sr. Cunha Lial: - O facto do nós estabelecermos o princípio da dissolução obriga o Govêrno a dissolver logo o Parlamento?

Não poderá ficar um intervalo de tempo se as circunstâncias assim o aconselharem, necessário e suficiente para fazer todas as alterações?

O Orador: - Nesse ponto talvez S. Exa. ande mais devagar do que eu. Eu ando mais depressa. Ponho todas as questões na tela da discussão desde já. Resolvam-nas, são três. Porque havemos do resolver só uma e guardar para depois as outras?

Se esta situação parlamentar não corresponde à existente situação política, se estamos vivendo, não digo em êrro, mas numa atmosfera que não é regular, se esta Câmara não é a verdadeira, representante da vontade nacional, porque esta apresenta mais opiniões que aqui não estão representadas, para que havemos de continuar numa longa discussão tratando dêstes assuntos, ou quaisquer outros. Não, não, devemos ouvir todos, consultar todos, e sair depressa para que todos venham depois deliberar nesta Casa!

Creio bem que tenho razão e quando a não tenho curvo-mo à fôrça dos argumentos e confesso: não tenho razão. Não sôfro com isso. Eu, que não sou a perfeição humana, tenho vontade de ser êste tipo de homem que confessa o seu êrro; mas agora, visto que não estou em êrro...

Não falo, não posso falar como Deputado da Nação ao fácil sabor de correntes ingénuas, simplistas, que me vitoriassem, me levantassem nos braços, dizendo-lhes: vamos ao Parlamento, atiremos aquilo abaixo, acabemos com isto, empregando adjectivos terríveis para definir o Parlamento.

Isto é muito fácil de se fazer. Para deitar abaixo é facílimo. Deitar abaixo é uma cousa; demolir é outra.

Quem faz uma demolição, pode aproveitar os materiais para edificação do futuro; quem deita abaixo, bruscamente, não encontra nada sob as suas mãos. Cinzas, desgraças, foi o que espalhou.

Depressa, não; devagar. Devagar, aproveitando a vontade e o desejo de acertar, que claramente existem. Perdoem-me os que me escutam e V. Exa. que pela preocupação de ser ouvido eu envolva num pouco de brilho, num pouco de beleza, as minhas palavras...

Voltemos da digressão para o Senado. Êste Senado, tal como está constituído - e um digno Ministro socialista me escuta e poderá responder - representa apenas correntes conservadoras, ou pode, com ligeiras modificações, representar também as organizações operárias, que, dentro da vasta organização geral, existem num estado moderno e devem, com justiça, ser tomadas em conta?

O modo de fazer, de pôr em prática, às vezes, transforma, completamente, uma teoria, um princípio.

Um automóvel inutilizado trabalha por vezes com um simples parafuso a mais, mas, apenas êsse parafuso desapareça, deixa do trabalhar. No caso que se dá com o actual Congresso.

Talvez trabalhe melhor agora com a representação de classes o Senado. Classes, sindicatos operários organizados podem realizar a obra de organização republicana. Êles têm o direito, porque existem como fôrças de ser reconhecidos na vida duma Nação.

Todos quanto dentro da República, dentro da ordem, se organizem em classes devem ser escutados e atendidos nos seus interêsses colectivos.

A reunião do povo que trabalha, com base na natural afinidade da profissão, não deve ser proibida, antes pelo contrário, dignifica e tonifica a profissão que assim se vê representada num vasto organismo, e revigora aqueles que pertencem à colectividade.

Eu, Sr. Presidente, não sou suspeito, falando assim, porque nunca defendi ra-