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12 Diário da Câmara dos Deputados

Estado, outros não o querem, êstes desejam-no apenas com voto consultivo, aqueles entendem dever êle ter voto deliberativo.

Juntavam-se essas opiniões, fazia-se o trabalho que, em política, não pode ser feito por outra forma que não seja por uma recíproca transigência da parte de todos, porque das imposições nunca resultou qualquer obra útil, e dêsse trabalho apurava-se que o princípio da dissolução seria introduzido em termos firmes, com base.

Vou mais longe. Ninguém pode acreditar, ninguêm deve acreditar que haja má fé no coração do povo republicano, mas os políticos, que o povo tam bem conhece, às vezes não são como o povo. Não digo muito mal deles, mas sei que têm os seus defeitos, que não exagero, porque os outros se encarregam de o fazer. Assim seria possível que amanhã se pudesse dizer, por banda dum ou doutro político:

Eu não respeito o princípio da dissolução porque não fui ouvido, porque não intervim na sua discussão, porque não fui consultado a seu respeito...

Ora quando todos fossem ouvidos, tal cousa não podia suceder.

A fôrça da lei é moral, e esta fôrça é a que se procura por esta medida. Assim se obtinha, com prestígio e fôrça, o princípio da dissolução parlamentar, e por um simples acto, por dois artigos que se votam numa tarde, dois ou três, porque êsse assunto já foi - discutido nos jornais da especialidade, e quando falo dos jornais da especialidade quero dizer os jornais políticos e do direito público.

Eu, que tenho um espírito e uma certa educação jurídica, e seria monstruoso que a não tivesse, creio que esta é uma solução serena, que, como suprema virtude, possui a de ser uma solução rápida.

A República tem de ser defendida ràpidamente, e agora mais do que nunca, e eu digo mais do que nunca, apesar de haver passado o momento do perigo maior, não digo de todo o perigo, porque é possível que não haja passado de todo, mas que esteja ainda em sério risco de passar, o momento da sua consolidação.

Aproveitemos as horas que fogem. As horas que vivemos são de união. Unamo-nos. A união dos casados também, por vezes, tem a sua discordância; os irmãos também pugnam; as nossas discordâncias não devem significar desunião.

A coragem do povo, o esfôrço geral devem estar unidos, mas podemos discutir sem desfazer a estreita e necessária ligação. Se essa união agora existe, como é verdade, aproveitemo-la emquanto dura. Lancemos uma obra de consolidação republicana, mas ràpidamente, serenamente, com olhos de ver ao alto e ver ao longe.

Há muita pressa em chegar; meia dúzia do dias são demasiados pensa-se mas que fossem dez ou quinze, não seriam mal ocupados quando por êles se conseguisse uma obra duradoura.

Os que assim não pensam não sabem que nas páginas da História um século corresponde a um ano na vida dos homens.

Há pressa excessiva de chegar, repito.

"Devagar que tenho pressa", dizia o Marquez do Pombal. Devagar não é parar, é andar com ponderação, e, neste caso, como é pouco aquilo que temos de fazer, poucos dias bastam para a nossa obra.

Temos de proceder devagar e calmamente para que se não diga, e eu sou o primeiro a desmenti-lo, que êste Parlamento obedece a uma coacção. Trabalhemos nesta casa serenamente e não se inquietarão os Deputados, com o povo que nos vê, porque decerto o não confundem com uma matilha de lobos.

E o povo da República, iluminado de fé, generoso e bom, capaz de retribuir toda a lealdade, todo o esfôrço bom e justo que se lhe ofereça ou depare.

A matilha é outra - conhecemo-la todos - a matilha é a malaventurada e faminta coorte dos monárquicos; são êsses os que espreitam as nossas discórdias e os nossos erros porque deles ainda esperam, mais do que das virtudes próprias, o proveito para as suas ambições e veracidades.

Não erremos mais uma vez!

Sem censura para ninguém o digo: nós temos errado muito.

Pois se eu apresento à Câmara a forma de conseguir honestamente a solução do futuro do dia de amanhã, não me venham dizer que a correr, por um golpe brusco e ilegal, se não conseguiu obra melhor