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8 Diário da Câmara dos Deputados

povo receberão a sagrada missão de defender os destinos da Pátria e da República.

O Parlamento, repito-o, deve imediatamente dissolver-se, para que se realizem eleições gerais.

Não fugimos perante uma coacção; nós não deveríamos fazê-lo por nossa honra nem termos êsse direito, porque acima dos nossos receios pairam os supremos interêsses que nos estão confiados. Não fugimos- desaparecemos, porque a nossa desaparição é necessária.

Sr. Presidente: ou servi a República em momentos de perigo, servi-a com as minhas fôrças o com prejuízo próprio o daí me advêm o direito de falar assim. Julgo também que os que me ouvem, porque sou claro e sereno, têm o dever de me escutar, com serenidade, para sem buscados subterfúgios concederem-me razão quando a tenha.

Todos nós queremos a mesma cousa - a dissolução parlamentar; mas, som vaidade o digo, eu quero essa dissolução mais rápida do que outros a desejam, mas desejo-a como um jurista e pode e deve desejar e como um político a deve querer. Por isso talvez dê a impressão de que a pretendo retardar.

Nós não vamos fazer, o povo não quere que se faça, dissolvendo o Parlamento, um gesto de destruição, uma sementeira de revolução e erros para o futuro. É necessário que a dissolução do Parlamento lance os alicerces duma obra que o futuro venha a consolidar.

É necessário que nós, os republicanos que nesta Casa temos assento, colaboremos com todos os republicanos, ràpidamente, sumariamente, nesta atmosfera de união que se criou, para que ao dissolver-nos já - e quem diz já diz em meia dúzia de dias - deixemos pelo nosso esfôrço e pelo nosso trabalho claro e franco o caminho do bem, da legalidade.

A todos nós, não só aos Deputados que se sentam nesta sala, mas ao povo em geral, incumbe a defesa e a guarda do prestígio da instituição parlamentar.

É necessário que a crise parlamentar se resolva dentro da lei. É necessário que nós, republicanos, que temos tam profundas convicções, tenhamos na alma a grande aspiração, o grande ideal. Tenhamos no coração o desejo do fazermos a política do amor, abandonando a velha política dos ódios.

Façamos a República da tolerância inteligente, que não transige com a vileza nem com a traição, mas que ouve e julga, antes do condenar.

Legislar o julgar é, repito-o, uma cousa que serenamente só deve fazer, para que o julgamento colha prestígio no sereno prestígio da decisão.

É de frio-mármore a estátua da República que presido aos trabalhos desta Câmara. O seu espirito é ardente para inflamar o povo que combate; mas dentro desta Casa a alma republicana tem do esfriar um pouco, tem do moderar o seu ímpeto levado ao rubro, para sem exageros nem desmandos edificar pela lei ponderada, sem revolucionários gestos, uma obra nacional e perdurável.

Não se trata neste assunto - dissolução - para mim, duma questão política, trata-se apenas duma questão legal. Agora temos que discutir direito.

A questão política já a vi. Se lho chamam política, penso que é erradamente, deviam chamar-lhe questão de direito público. (Há palavras que envenenam, de que se devo fugir).

Se o Parlamento deve corresponder à Soberania Nacional o esta modificou a sua vontade, o Parlamento que representa uma vontade que passou não tem fundamento jurídico, não possui o direito de existir com a representação que nele se senta.

Fale de novo a Soberania Nacional, constitua ela de novo a sua representação; mas para tal não é necessário que a saída dos parlamentares agora em exercício só faça, com desprestígio da instituição e da lei.

Os Deputados não devem, não podem ser postos fora do Parlamento Português. Devem sair ràpidamente por sua vontade. Porque? Porque o supremo interêsse da República o a defesa da Pátria nos obrigam, a nós parlamentares, a reconhecer a gravidade e a qualidade do momento histórico que estamos atravessando. Saiamos porque devemos sair. Só o dever nos obriga.

O Parlamento fica em pé sem mácula e sem desdouro. Venham outros, venha quem o povo mando, mas êsses que venham depois entrarão, como nós entra-