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14 Diário da Câmara dos Deputados

Câmara: há dias fui interpelado a propósito de um telegrama que tinha sido enviado para o Ministério da Agricultura, no qual se faziam acusações a vários parlamentares.

Eu disse, então, que tinha mandado proceder a averiguações, que se estão ainda efectuando; comtudo devo dizer que têm sido ouvidas várias pessoas para se descobrir quem foram os signatários da representação referida, e espero em breve trazer à Câmara, ou a confissão de que as acusações são falsas, ou a comunicação dos nomes das pessoas a que se referem.

Aproveito a ocasião do estar com o uso da palavra, para fazer uma outra comunicação.

Refiro-me a um acontecimento que se deu no Pôrto, o qual foi o lançamento de uma bomba sôbre cinco pessoas; ao contrário do que se tem passado das outras vozes, a bomba foi lançada contra republicanos, na Rua do Freixo, quando vinham de dopor num processo contra monárquicos.

Dois dos atingidos recolheram ao hospital em estado perigoso; a autoridade mandou proceder a um inquérito, o apesar de não ter ainda os fios da meada, tem todavia indícios apreciáveis para descobrir quem foram os autores do atentado.

Como é costume, sempre que se dá qualquer alteração de ordem pública, no Pôrto, o Govêrno é interrogado e increpado por causa da atmosfera demagógica que há no Pôrto.

Confesso que espero hoje ser tambêm interrogado.

Das outras vezes foram monárquicos agredidos e sempre houve nesta Câmara quem falasse; desta vez foram agredidos republicanos e como ninguêm se levantou a protestar, não quero eu deixar de narrar à Câmara o que se passou.

O Sr. Brito Camacho: - Sr. Presidente: dizia eu há pouco que a Câmara sabe, em que condições mandei para a Mesa uma nota de interpelação que hoje se realiza.

Esta nota foi enviada há quinze dias, não se tendo ela realizado até hoje por motivos inteiramente alheios à minha vontade, por motivos alheios à vontade do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, que desde logo se declarou habilitado a responder-me, e independentemente da vontade do Sr. Presidente da Câmara que a marcou o mais rápidamente possível.

Sabe a Câmara que foi dito lá fora, numa reunião pública, que um sub marechal do Partido Republicano Liberal, a que tenho a honra de pertencer, negociara em trigo por conta do Estado e tinha realizado lucros fabulosos; que o mesmo marechal tinha recebido centenares de contos do Estado para comprar arroz em Espanha, e que até a data, não tinha entregado o arroz nem restituído o dinheiro.

Fez-se a denúncia, que cremos verdadeira ou presumível, mas não só indicou o nome do presumido ou verdadeiro criminoso; e assim, Sr. Presidente, sôbre todos os homens de um partido, ficou pairando uma suspeição desonrosa.

Por êsse motivo e por que urgia liquidar responsabilidades nesta Câmara, foi levantado incidente, e eu escuso de rememorar o que então se passou.

Devo dizer que me reporto para estas referências n um jornal onde encontrei o mais largo estrato da, conferência e onde a denúncia dêstes crimes, verdadeiros ou presumidos, foi feita.

Sigo o relato de O Grito do Povo, por ser aquele que de todos os jornais me pareceu o mais completo; não será o mais exacto ou fiel, mas era o mais extenso.

Na ocasião em que foi levantado o incidente na Câmara, eu não pude presumir quem seria o sub-marechal do Partido Republicano Liberal que tinha comprado trigos por conta do Estado, que os tinha vendido ao Estado, realizando nessa operação lucros fabulosos.

E por isso na minha nota de interpelação, eu apenas me referi ao caso do arroz.

Mas V. Exa. compreende, e a Câmara me relevará que eu do caso dos trigos, muito incidentalmente me ocupe, por êle ter um aspecto político e um aspecto moral que muito importa-a dignidade dos homens que pertencem ao Partido Republicano Liberal.

Fui informado, já fora da Câmara, de que a pessoa visada no caso dos trigos era o Sr. Carlos Alberto Codina Júnior.

Não encontrei êste nome no relato de nenhum jornal, nem mesmo no que o publicou mais desenvolvido; mas foi-mo dito