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Diário da Câmara dos Deputadcs

Depois de ter recebido o honroso eon-vite de S. Ex.ao Sr. Presidente da República para organizar um Ministério nacional, com plena liberdade de escolha dos homens que o deviam compor; de me ter assegurado que a quási totalidade dos parlamentares e dos membros do directório do meu Partido estavam de acordo com a organização desse Governo, e de ttT obtido o apoio do Directório do Partido Republicano Português e dos leaders do Partido Socialista e do Grupo Parlamentar Popular, tive conhecimento, por alguns dos membros do Ministério a que presidiu o meu velho e querido amigo, Dr. Fernandes Costa, que o Sr. Presidente do Ministério demissionário, Sr. Sá Cardoso, declarara ao Sr. Dr. Fernandes Costa, diante do Sr. Presidente da República, que não estava seguro de ser obedecido pela força pública, pois qu-e tinha dado ordem para que se evitassem certas manifestações e que essa ordem não tinha sido cumprida.

Guando j â tinha delineada a conipoõiçelo do meu Ministério, e obtido a aquiescência de muitos dos meus futuros colegas, avistei-me com o Sr. Almirante Machado Santos, que uie informou iiaimente, 'como prova de recíproca e velha amizade, de certos manejos políticos, plenamente justificativos dos últimos acontecimentos, manejos que eu desconhecia; informações que me habilitaram a prever futuros e desagradáveis acontecimentos para a República, e que terminou por me aconselhar a não prosseguir nos trabalhos de organização do Ministério sem que previamene se assegurasse da atitude futura da força pública, para evitar surpresas desagradáveis.

Diante destas e doutras informações e do inqualificável procedimento havido para com o Ministério do Dr. Fernandes Costa, que reputo o mais grave atentado que se sem praticado contra as Instituições, eu não podia, a menos que fosse um aventureiro que pusesse a satisfação das suas ambições acima dos interesses do País ou um mentecapto incapaz de medir as res-ponsabilidades dos actos que pratica, prosseguir nos trabalhos de organização do Ministério sem me convencer que o Sr. Presidente da República não seria desacatado no exercício das suas altas funções ; sem me assegurar que o Poder Exe-

cutivo, -constituído nos termos da Constituição, seria acatado e obedecido por quem tem obrigação de o acatar e de lhe obedecer.

Pedi, por iso, a comparência do Sr. general comandante da guarda, não para submeter à sua sanção o meu Ministério, nem para S. Ex.a me indicar nomes de pessoas ministeriáveis, não para pedir apoio para o meu Ministério, mas para saber se as tropas do seu comando estavam* suficientemente disciplinadas para obedecerem incondicionalmente a um Governo Legalmente 'constituído, e para lhe dizer que, estando encarregado de organizar Ministério, precisava saber se podia contar incondicionalmente, com as tropas do seu comando para a defesa do Governo, para a manuteução da ordem púçlica e para a defesa das Instituições.

P Sr. general comandante da guarda falou largamente sobre as manifestações populares, sobre as declarações dos manifestantes, sobre disciplina militar, spbre política nos quartéis, sobre traulitados e trauliteiros; mas sobre o ponto quo agora me interessa, posso concretizar as suas palavras do seguinte modo: «que em sua opinião os militares não devem ser políticos, mas que até agora não tinha tido ensejo de verificar se em toda a guarda estava praticamente radicada a doutrina que terá preconizado e não perde ensejo de preconizar diante dos seus oficiais».

No emtanto, estava convencido de que a guarda apoiaria com a mesma Jialdade todos os Governos de qualquer feição partidária, desde que íôssem claramente republicanos e neles não figurassem entidades a quem (com ou sem razão) possam ser atribuídas responsabilidades de perseguições políticas, mormente existindo na guarda bastantes oficiais que muito sofreram no último período agitado da política portuguesa.