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Sest&o de 24 de Fevereiro de 1920

princípios de justiça e numa doutrina que não podem deixar de merecer a nossa reprovação. Duma maneira rápida vou demonstrar a V. Ex.a e à Câmara a veracidade destas afirmações.

£ A classe ferroviária ao serviço do Estado vem pedir-nos o quê?

Um aumento de salário. Pois eu vou provar a V. Ex.a, em duas palavras, que não se trata dum aumento de salário, mas duma medida de assistência.

Sabe V. Ex.a, e não ignora ninguém neste país, que a exploração dos caminhos de ferro do Estado é uma exploração deficitária. Ascende a mais de 2:000 contos o quantitativo que o Estado tem de dispender anualmente para cobrir o déficit dessa exploração. Pede-se, por consequência, ao Estado uma soma ainda mais forte, o que equivale a impor a toda a gente o encargo de cobrir um rendimento que o esforço dos ferroviários do Estado não produz. Nestes termos, estamos, como disse, em face duma medida de assistência, duma autêntica esmola. Ora todos sabemos bem quanto são ineficazes e até contraproducentes as medidas de assistência, porque são contra a pró-pria dignidade moral do esforço produtor, porque nunca mitigam a miséria geral, e a prova ó que em dois mil anos de caridade crista a miséria não desapareceu da face da terra.

Eu sou contra as medidas de assistência, porque, como proletário è filho de proletários, tenho o orgulho moral do mea esforço, e não quero que ninguém me confunda com as cousas parasitárias e incapazes que necessitam do favor para se tratar.

Por consequência, proletário e vindo de proletários, com a consciência da dignidade do esforço humano, não posso de modo algum sancionar um pedido que reduz esse esforço à condição das cousas inúteis e miseráveis. Esta simples razão bastaria, por si só, à justificação da negativa do meu voto a semelhante pedido, Mas há mais, Sr. Presidente: uma tal concessão representa também uma injustiça e uma iniquidade, porquanto outra cousa não significa o facto do Estado prestar assistência desta ordem a uma classe e não a estender a todas as outras. E não a estenderá, porque, mesmo que o EJstado o pretenda fazer, subven- í

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cionando todas as classes, repare-se bem, não se trata só de funcionários, mas de todas as classes, não lho será possível de forma alguma, tribute o que tributar, causticando o país mesmo com as extorsões mais violentas, realizar os recursos indispensáveis a um encargo tamanho!

Outro interessante aspecto da questão vou considerar agora. Logo ao iniciar' as minhas considerações avancei que estamos em face dum problema que interessa a própria ordem social em que vivemos. Admitida a veracidade desta afirmação, importa definir uma atitude clara—ou ser- pela actual ordem social, como devia, por posição, ser o Sr. Ministro do Comércio,, visto que milita num partido da direita, e neste caso contrário à medida que se pretende, ou ser por uma ordem social nova, como eu sou, e ainda, nesta hipótese, temos do ser contra, porque sendo essa ordem social baseada na equidado c na justiça, quem a admitir não poderá de modo algum sancionar uma medida dó injustiça e iniquidade como a que vimos discutindo.

Mas este interessante aspecto merece uma análise miúda. Até aqui afirmei apenas que a questão aíecta os fundamentos da ordem social existente. Avanço de tamanha importância merece a exposição dos motivos em que se apoia.

Atravessa-se em todo o mundo um momento crucial. Há, de facto, forças sociais novas irncomportáveis nos velhos moldes do conformismo existente.

Novas realidades sociais surgiram, que são vivas e gritantes afirmações da vitalidade dos povos, contra as quais surgem, apenas, fórmulas várias e inertes, man-tendo-se tam somente pela velocidade adquirida,

Estas palavras encerram verdades evidentes, tam evidentes, que não é impossível desconhecê-las. Perante a sua verificação eu desejo, da parte de governantes e governados, a adopção duma nobre e corajosa atitude, em ordem à rialização equilibrada e consciente das transformações inevitáveis. ,iMas o que vemos nós da parte de uns o do outros?

Um encolher de ombros cobarde e revoltante. (Apoiados).