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Diário da Câmara do» Deputado»

vemos, por seu lado, não devem também ignorar que não é de olhos fechados e cabeça encolhida que ele se soluciona.

Os Governos não têm a coragem de enveredar por um caminho mais consentâneo com as necessidades do momento e aos operários falta-lhes a coragem para fazerem a revolução social de cabeça levantada, em vez de preferirem às melhorias de salário aquelas fartas reclamações que implicam uma transformação progressiva e de fazerem da greve um parapeito donde pretendem pelo aumento da miséria e da angustia, realizar comodamente, essa almejada e milagrosa revolução!

Ah! Triste revolução é a feita pelos famintos! É bem evidente o ensinamento da história a esse respeito! Uma legião de depauperados e miseráveis não pode criar um estado social de maior justiça e equidade.

Sr. Presidente: é por isso que eu sou contra a proposta, conservando-me proletário o não tendo sequer um ápico de de dúvida, de que sou bom proletário e bom filho de proletários.

Ao contrário do que se passa, Sr. Presidente, reconhecendo a existência de novas realidades sociais e a inevitabilidade duma profunda transformação, desejo que os governos organizem, equilibradamente, a transição. Para ela resultar eficaz pretendo que os operários colaborem com eles.

Se os operários dos caminhos de ferro do Sul e Sueste nos viessem pedir a participação na direcção da empresa, argumentando que ela está mal dirigida, a minha voz seria quente e fremente na defesa dessa reivindicação, que é absolutamente justa.

Se os operários viessem reivindicar^ a' participação nos lucros dessa empresa, a minha voz erguer-ee ia também vibrante a apoiar essa aspiração.

Mas, quando os operários vêem pedir-nos uma espécie de esmola ou seja que do* esforço comun saia para eles. uma quantia qualquer, que o seu próprio esforço não rende, é impossível dar-lhes o meu voto, porque isso seria reconhecer o rebaixamento do esforço humano à convicção das cousas improdutivas e imiteis que precisam de ser auxiliadas por favor

Sr. Presidente: Por outro lado, se o Sr. Jorge Nunes, Ministro do Comércio,

viesse a esta Câmara com aquele conjunto de medidas que já estão sancionadas pela própria experiência em toda a parte do mundo; se S. Ex.a viesse aqui, por exemplo, com uma proposta transformando o direito da propriedade da terra numa função social, provando, exuberantemente favorecer o exacerbado egoísmo duma classe qualquer em detrimento de todos as outras, da própria sociedade; o Sr. Jorge Nunes que é proprietário, e um grande proprietário, creio eu...

O Sr. Ministro do Comércio o Comunicações (Jorge Nunes): — interrompendo : Grande proprietário não sou.

O Orador:—Pois estimaria que o fosse, por isso que não olho com ódio o proprie* tário.

O Sr. Jorge Nunes, repito, proprietário e lavrador, inteligente e culto, conhecedor da transformação por que tem passado o chamado direito de propriedade através dos tempos, tinha obrigação de não vir aqui com uma medida que é, na verdade contraproducente nos seus efeitos sociais O seu dever era falar claro a voz da verdade e trazer propostas que transformando instituições obsoletas em forças renovadoras, nos levassem por fora do círculo vicioso que nos angustia e principalmente àqueles que são neste momento em todo o mundo as vítimas de duas explorações conjugadas —a dos capitalistas e a dos produtores.

Ah, Sr. Presidente! razão tinha eu quando, ao iniciar as minhas considerações, afirmei que era com receio que en trava neste debate, porque o meu ponto de vista teria o condão de concitar contra mim a má vontade de gregos e de troianos. Mas é preciso que uma voz corajosa ponha a questão em termos de verdade e de justiça, apesar de estarmos perante .um conflito de egoismos exarcebados e dos fanatismos que deles derivam serem os da pior espécie. Falemos clara e direito, em lugar de, como o Sr. Jorge Nunes ilustre Ministro do Comércio, adoptarmos uma cómoda atitude de transigência que eu não sei se o Sr. Jorge Nunes, proprietário, adoptaria um conflito com operários seus.. (Apoiados).