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Sessão de 2 i e 25 de Novembro de 1020

neste Parlamento, a ninguém dou o direito de duvidar da minha qualidade de republicano.

Sr. Presidente: não vou reeditar o que já disse tantas vezes, a propósito das declarações ministeriais, mas sim roferir-me a esta instabilidade ministerial, que tem sido um pouco a desgraça da República, nos últimos anos. Não irei rememorar que nesjie momento ali se senta o 38.° Ministério desde que a República se implantou, nem lembrar que na pasta das finanças é já o 47.° Ministro, o que quere dizer que a pasta que mais estabilidade devia ter ó precisamente a que, dentro do próprio Ministério, mais vezes se remodela.

Ora, esta instabilidade é uma causa da ruína em todos os povos que não tem sequência ca sua administração e governação. Por analogia, seremos falidos, se não arrepiarmos caminho.

Sr. Presidente: assisti ontem a esta monstruosa discussão que aqui se fez, e, com mágoa o digo, em vez de se tratarem as questões sob o ponto de vista dos interesses da República, o que vi apenas foi o revoltear das paixões, parecendo que se trata dum Parlamento composto por homens inimigos uns dos outros, e não de Partidos formalmente organizados.

Falaram os leaders, falou o Sr. Granjo e falaram outros oradores, e cada um se julgou no direito de fazer com muito brilho o exame mental dos homens que se sentam naquelas cadeiras, e todos foram unânimes em dizer que eles são homens de bem, que os leaders dos partidos também o são'. .. quando não estão no Go-vêrno, mas subindo ao Poder, pelas paixões e pelos sectarismos, jánãosão dignos de estar no Governo e não servem mais os interôsses da República!

Isto não pode ser; temos do seguir uma outra norma de apreciação.

Seguem-se processos para servir exclusivamente os interesses partidários; mas os interesses da República são muito maiores e mais graves do que os interesses dos Partidos.

A República não- pode sor sacrificada pelos agrupamentos e coteries.

Há neste Parlamento pouca tolerância.

^Pois não têm sido todos unanimes em que o Sr. Álvaro de Castro ó um verda-

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deiro republicano, que se tem sacrificado pela República?

(? Então porque razão o Sr. Álvaro de Castro que é por todos respeitado pelas suas boas qualidades quando está no seu lugar de leader de um partido, perde logo todos esses predicados assim que sobo ao Poder?

Se é bom fora do Poder é bom no Governo.

Ser e não ser, ao mesmo tempo, não pode ser!

Não estou fazendo'a defesa de S. Ex.a mas estou .a dizer o que ó justo e verdadeiro.

Vejo ali presente o Sr. Cunha Leal, e posso dizer com desassombro e independência o que neste momento aflui ao meu espírito e coração.

Eu, que nunca até hoje tomei parte na vorrina política do meu País, ouço o que se diz por aqui e por ali; e às vezes os boatos são do tal ordem, de tal. natureza, que a minha receptividade, apesar de todas as precauções, já tem chegado a capacitar-se do que ouve.

Não conhecia o Sr. Cunha Leal.

Pelas insinuações que vi nos jornais e até por conversações particulares, S. Ex.a seria um alcoólico, um jogador.

Cheguei a formar também ôsse conceito. Mas os factos provam que a calúnia pode muito dentro do meu País. (Apoia-dosi).

Não sei se o S'r. Cunha Leal ainda joga ou se tom jogado. Jogador também eu nunca fui e não o sou. Nem alcoólico tam pouco.

Algumas vezes na vida tenho bebido e não sou ébrio. Há uma distância imensa em ter praticado certos actos na mocidade e ser um alcoólico ou jogador.

Foi mais uma forma .caluniosa das muitas com que em Portugal se vilipendiam os homens públicos.

S. Ex.a tem qualidades, e prova-o a saa obra nesto Parlamento, e prova-o tarnbôin naquelas cadeiras onde ainda mal acaba de sentar-se.

Não vou dizer que aprovo nem que rejeito a moção já apresentada.