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Diário da Câmara dos Deputados

exercida na praça para provocar a alta das divisas cambiais. Sabe-se o que sucedeu.

Tendo-se dado uma alta proveniente da confiança que veio depois da armistício, pois julgava-se que este modificaria todas as cousas, a especulação encontrou todos a descoberto e, se não tivesse sido socorrida pelo Estado, uma grande parte das casas de Lisboa, tinha-se visto colocada numa posição desagradável.

Já disse ao Sr. Fernandes Costa que não era possível proibir as operações a prazo, sem as quais não há vida comercial. Mas mesmo" nessa ocasião o Estado fazia operações, emprestando libras, e recebendo-as numa época determinada. ,

O Estado tantos empréstimos fez de 100 e 200 libras até um montante determinado, que hoje a maior parte das casas portuguesas não podem pagar os seus débitos ao Estado. Os prejuízos provenientes das liquidações trariam para essas casas verdadeiramente a morte e em muitas delas esses prejuízo» fúrâíii superiores ao capital social.

Sr. Presidente: existe uma casa que pediu como empréstimo .ao Estado 100 mil libras, prometendo entregá-las num prazo determinado e ao câmbio de 27 */*, porém, passados tempos, essa casa fez um requerimento ao Sr. Ministro das Finanças. Como na ocasião em que tinham feito a operação nem eles nem o Ministério julgassem que o câmbio chegasse ao estado cm que estava, pelo que tinham de pagar mais 250 contos, pediam que se desse a operação como liquidada. .Já vê, portanto, a Câmara como a especulação se fazia.

Não previram a alta, e assim como tinham de fazer a entrega em libras, ao câmbio que então vigorava, isto é, com uma diferença para mais de 250 contos, já não lhes convinha o negócio e assim pretendiam dar a transacção como liquidada.

O que eu posso garantir à Câmara é que as especulações que se fizeram em cambiais, em Portugal, deram em resultado o descrédito do comércio português lá fora, quando o nosso comércio até então era lá acreditado.

Repito : as especulações que se fizeram desacreditaram muitíssimo o comércio português, prejudicando em grande parte as

nossas importações., de muitas das quais se não pode prescindir, tais como as importações de carvão, as importações de trigo e ainda as importações de muitas matérias primas que são necessárias para a nossa indústria e para o nosso comércio.

O resultado de tudo isso foi a situação agravar-se e chegarmos às circunstâncias precárias em que nos encontramos. /

As especulações que se fizeram foram grandes, e o que eu posso garantir a V. Ex.a e à Câmara ó que o Estado em menos de um ano conseguiu ver-se livre de dois milhões de libras, para. regularizar a situação dos câmbios, sem ter conseguido regularizá-la e ficando privado dessas libras, que agora lhe fazem bastante falta.

De derrocada em derrocada, chegámos à situação actual! E nesta situação, cinco mil libras compradas ou vendidas na praça conseguem fazer variar o câmbio. Deste modo a especulação tornou-se fácil, e ó neste momento que ela mais se faz sentir, porque o meio está muito sensível está como aqui há pouco tempo, em que os Governos apenas procuraram atender ao nosso déficit, deixando exportar grandes valores que representavam muito ouro, e tendo, depois de corrigidos esses > erros, caído num outro maior que foi num dado momento abolir as restrições que se tinham imposto à nossa exportação, o que deu causa a abusos bem grandes. Efectivamente, se -V. Ex.as forem ao bancos ingleses e verificarem, assim como nas pra-ções de Lisboa e Porto, a quantidade de titulo s estrangeiros que existem na carteira de cada um dos particulares, porque na dos bancos infelizmente nada existe já, V. Ex.as ficarão espantados. Toda a gente tem procurado fazer, fugir o seu ouro, com uma falta grande de patriotismo!

Pregunto, pois, em que é que o Sr. Ministro das Finanças pode, dum momento para outro, influir na situação cambial. Onde encontra o Sr. Ministro das-Finanças recursos em ouro suficientes para influir na praça, não tendo ouro depositado nos seus correspondentes, nem o tendo fora ou dentro de Portugal.