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Diário da Câmara dos Deputados

certo é que a S. Ex.a cabem também, e por isso mesmo, as maiores responsabili-dades, visto que a sua pasta é verdadeiramente o fulcro da vida nacional.

O Sr. Cunha Leal, cujas faculdades de energia e de talento silo tani reclamadas e apreciadas, é que, nesta hora, em que tem' nas suas mão o Poder, pode pôr um travão a' este descalabro formidável que se vem operando, dia a dia, sistemática e persistentemente e que nos tem levado às angustias da presente situação financeira.

A depressão fantástica dos câmbios, agravando a vida da Nação, tem impressionado vivamente todos quantos a ela . têm assistido pelo receio bem natural e justificável de verem a situação económica cada vez mais insuportável.

Eu não tive tempo ainda de fazer um apuramento diário desta depressão cambial, mas sei, por dados oficiais, tais como as notas sobre câmbios fornecidas pelo Banco de Portugal à Junta do Crédito Público que desde l de Outubro até hoje, isto é, em pouco mais de dois meses,, a divisa cambial desce'u cinco pontos, visto quex estando então a 11, se encontra hoje a 6 e 7 oitavos.

Uma tal depressão cambial está causando a maior perturbação eni todo o País e tem produzido em todos os meios financeiros e económicos verdadeiro pânico e terror!

Todos nós sabemos que são muitas as razões duma tam brusca e acentuada descida cambial. Justificam-na, em parte, o termos a nossa exportação quási reduzida a zero e o alargamento da nossa circulação fiduciária. Mas uma das causas e certamente das mais importantes dessa descida está, sem dúvida, na especulação desenfreada que se tem feito em volta de determinadas operações cambiais que, não correspondendo a quaisquer necessidades comerciais, apenas têm servido para enriquecer meia dúzia de especuladores gananciosos. Joga-se hoje em câmbios muito mais e quantias muito mais importantes do que antigamente se jogava nas casas de tavolagem de Lisboa, jogo que tem apenas por fim extorquir o dinheiro dos outros, sem qualquer vantagem para a agricultura, para o coméreio ou para a indústria, mas, bom pelo contrário, com manifesto prejuízo para elas pela pertur-

bação que tais habilidades lançam no espirito de todos.

Efectivamente ninguém desconhece que existem hoje em Lisboa centenas, ou talvez milhares de letras cujo pagamento se encontra em suspensão ou seja porque muitas delas estejam para protestar, ou porque, relativamente a outras, os exportadores estejam à espera de que o.s. negociantes as satisfaçam.

Muitos comerciantes têm perdido com esses prejuízos, o têm pago, nias muitos têm estado à espera de semana para semana, de dia para dia, de que se dê b movimento de recuo, a fim de verem se podem satisfazer os seus compromissos.

Sr. Presidente: estou convencido de que a maior parte desses embaraços, que está prejudicando o comércio lícito nacional, são devidos a esses especuladores do jogo da Bolsa, que não tem outro fim senão enriquecer, e muito.

Sr. Presidente: esta questão, para a qual chamo a atenção" do Sr. Ministro das Finan^aSj não afecta somente os interesses particulares, afecta, e muito, os interesses do Estado.

Ainda há dias ouvi dizer ao Sr. Ministro das Finanças que, se o câmbio descesse dois pontos, as despesas do Estado subiriam a mais de 70:000 contos.

Sr. Presidente: um estabelecimento do Estado que evidentemente sofre enormes prejuízos ó a Junta do Crédito Público.

Para este assunto chamo também a atenção do Sr. Ministro das Finanças. A Junta do Crédito Público tem de pagar o coupon externo.

Nestas ocasiões, o câmbio vai sempre descendo, descendo. Temos sistematicamente um agravamento do dia para dia.

Os especuladores de Lisboa são conhecidos no meio'em que operam, o sabe se que eles dizem que levariam o câmbio a 5 e a libra a 50$.

Já quási que o conseguiram, tendo como pretexto as medidas de finanças agora apresentadas pelo Sr. Ministro das Finanças, mas isso ó apenas um pretexto.

Daqui a pouco as tabelas da Junta do Crédito Público já não chegam para tam grande agravamento de cambiais.