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Sessão de 24 de Janeiro de 1921

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S. Ex.a sabia que nenhuma das casas bancárias deste país estava no prazo do oito dias, senão monos, em condições de emprestar ao Estado 500:000 libras, uma das bases essenciais para concorrer e receber os serviços da Agência, operação inesperada para quási todos os concorrentes

O Sr. Ministro das Finanças (Cunha Leal):— São 600:000. ;

O Orador:—S. Es.aprecisa de 000:000 libras.

•Porque não aceitamos semelhante simulacro de concurso, o Sr. Ministro das Finanças acha que não somos nem bons patriotas, nem bons portugueses.

S. Ex.a não nos dá esse direito.

Sim, Sr. Presidente, porque bons patriotas e bons portugueses são só os admiradores de S. Ex.a

O Sr. Ministro das Finanças (Cunha Leal):—Meto também no número dos bons portugueses os admiradores de S. Ex.il

O Orador: — Muito obrigado.

Creia, porém, V. Ex.a que não lhes faz com isso senão justiça.

Sr. Presidente : nestas condições, parecia-me mais fácil í^ue S. Ex.a, expondo à Câmara com toda a clareza a situação do Tesouro, nos dissesse abertamente: o Estado necessita do 600:000 libras, já, custe o que custar, seja com quem for, e a despeito dos maiores prejuízos no futuro.

Estou certo do que assim as cousas correriam melhor para todos nós.

E, Sr. Presidente, como não é com vinagre que se apanham moscas, se S. Ex.a assim só tivesse conduzido as cousas, repito, correriam melhor para todos nós.

Porque assim julgo e porque assim não fez S. Ex.a é que eu há pouco dizia que ao Sr. Ministro das Finanças ainda falta uma qualidade essencial a qualquer estadista : conhecer a vida de relação 4os povos, ter da vida prática uma noção, ao menos aproximada.

Se S. Ex.a se tivesse dirigido ao Parlamento por outra forma que não aquela que usou para com ele, o caso da Agência Financial já estaria resolvido, visto

que todos procurariam, na medida das suas forças, colaborar com o Sr. Ministro das Finanças, quer apresentando alvitres', quer facilitando a acção de S. Ex.a aqui no Parlam ento-Mas não!

0 Sr. Ministro das Finanças chegou aqui ao Parlamento e atirou-se a nós todos, membros do

E porquê?

Porque se. tinha aqui dito que a acção de S. Ex.a a respeito da Agência Finan^ ciai era ruinosa e S. Ex.a< não queria justificar o seu procedimento, dizendo que estava com a corda na garganta.

Queria, sim, proclamar apenas a excelência do seu critério, e com isso, só com isso, levar a Câmara à convicção de quo as cousas se teriam*do fazer por aquela forma por que S. Ex.a as compreendia.

j Falava-se nas dificuldades da situação !

Mas essas dificuldades são de todos os dias e já vêm de longe.

Até nesta argumentação S. Ex.a foi infeliz.

1 S. Ex.a falou do tal forma, sobre as dificuldades que encontrou na gerência da sua pasta, que trouxe quási a ilusão para o País de que todos os antecessores de S. Ex.a jamais se haviam visto em iguais dificuldades, antes haviam encontrado ouro e muito!

Ora eu, que já tenho sido Ministro, por mais duma vez, por infelicidade minha e do País — prometo por isso não repetir a façanha—sempre vi o Ministro das Finanças com as mãos na cabeça, falto de dinheiro o farto de contas a liquidar.

É pois a situação de todos os dias, há muito tempo, a situação difícil que V. Ex.a encontrou.

Sr. Presidente: quando S. Ex.a se dirigiu à comissão do finanças intimando-a a que o 'ouvisse, sendo garantia do seu silêncio perante o Parlamento, como se isso aterrasse os humildes píirlamentares que olham-para S. Ex.a como para a cúpula desta sala, eu aguardava que S. Ex.a, resolvido a falar nas suas meias palavras, alguma cousa dissesse que se pudesse traduzir por delitos de tal gravidade, que não fosse já a sanção parlamentar a intervir, mas sim um outro tribunal.